Não desista do seus sonhos
Não Desista dos Seus Sonhos
Hernandes Dias Lopes
Candeia
índice
Dedicatória
Prefácio
Introdução
Capítulo 1
Quando os Nossos Sonhos São Adiados
Capítulo 2
Os Destruidores de Sonhos
Capítulo 3
O que Fazer para Alimentar os Sonhos
Conclusão
Dedicatória
Dedico este livro aos meus filhos Thiago e Mariana, presentes de Deus na minha vida e na vida de minha querida esposa Udemilta. Minha oração é que eles realizem na vida os sonhos de Deus.
Prefácio
Louvo ao Senhor pela bênção de ter me casado com um homem de Deus. Hernandes é um marido maravilhoso e um pai exemplar. Depois de doze anos de casamento, onde enfrentamos lutas tremendas e cruzamos vales escuros, posso ver nele um homem que não desiste de sonhar. Mas, acima de tudo, ele busca sonhar os sonhos de Deus. Nesses anos, já testemunhamos a realização de muitos sonhos em nossa vida e de muitos milagres na vida das pessoas que nos cercam, quando Deus interveio extraordinariamente, transformando vales secos em mananciais, noites escuras de desespero em manhãs ensolaradas de esperança.
Este livro foi escrito para encorajar aqueles que há muito desistiram de sonhar ou estão com os seus sonhos adormecidos. Desafio você a ler este livro com o coração aberto, com o objetivo de trazer à sua memória o que pode lhe dar esperança. Creio que o Senhor pode usá-lo para inflamar o seu coração a também sonhar os sonhos de Deus.
Udemilta Pimentel Lopes
Introdução
Edmund Hillary foi um grande esportista da Nova Zelândia. Ele tinha um sonho ousado: escalar a montanha mais alta da terra, o monte Everest, com mais de 8.800 metros. Preparou-se, treinou e partiu para a sua inusitada empreitada em 1952. Contudo, não logrou êxito em sua tentativa. Seu sonho não se realizou. Tempos depois, foi convidado para fazer uma palestra para um grupo de pessoas na Inglaterra. Chegando ao grande auditório, percebeu que propositadamente, haviam colocado uma grande gravura do monte Everest na parede. Ao ver a imponência majestosa do quadro, abaixou a cabeça e dirigiu-se silencioso para a plataforma. Ao levantar-se para proferir o seu discurso, Hillary deixou por um momento os seletos ouvintes, dirigiu-se ao painel, olhou firmemente para a gravura do Monte Everest e disse: "Everest, tu me derrotaste da primeira vez, mas tu já cresceste tudo quanto podias crescer. Eu ainda estou crescendo. Da próxima vez, eu te vencerei." [1]
Em 29 de maio de 1953, às 11h, apenas um ano depois, Edmund Hillary era o primeiro homem da história a chegar ao topo do Monte Everest.[2] Em função disso, ele recebeu a mais alta condecoração oferecida pela Rainha da Inglaterra. Ele não desistiu do seu sonho. Ele não sepultou o seu sonho na cova da impossibilidade. Ele não lavrou um epitáfio para o seu sonho, quando enfrentou o primeiro fracasso, dizendo: "Aqui jaz o meu sonho".
Você também tem sonhos. Muitos sonhos alimentaram o seu coração e o mantiveram vivo em tempos de crise. Talvez alguns dos seus sonhos se tenham perdido ao longo do caminho. Talvez, outros sonhos se tenham transformado em pesadelos. Ou, quem sabe, você já sepultou na cova do esquecimento alguns dos seus melhores sonhos. Até mesmo já desistiu de alguns que durante muitos anos o mantiveram cheio de esperança. Quero desafiar você a resgatar aqueles sonhos que já estão no arquivo morto da sua história. Encorajo você a abrir os arquivos da sua memória e trazer à lume sonhos há muito esquecidos. Creio que muitos deles poderão ressurgir das cinzas.
Creio que o Deus dos impossíveis pode ressuscitar seus sonhos. Ele chama à existência as coisas que não existem. Para ele não há coisa demasiadamente difícil. Tudo é possível ao que crê. Não se conforme com a decretação do fracasso em sua vida. Você foi predestinado para ser um vencedor. Não desanime, espere em Deus, ainda que contra todas as expectativas. O Senhor pode realizar um milagre em sua vida. Ele não abdicou do seu poder. Ele está assentado na sala de comando do universo, dirigindo a história. Ele conhece a sua vida e pode mudar hoje a sua sorte. Não desista de sonhar!
Capítulo 1
Quando o Nossos Sonhos São Adiados
O texto de I Samuel 1 nos fala de uma mulher que tinha um sonho. Ana:era uma pessoa piedosa que amava a Deus. Era casada com Elcana. Mas havia um vazio na vida de Ana: ela não tinha filhos. Seu grande projeto de vida era dar à luz um filho. O seu sonho era legítimo, puro, digno. Ela queria ser mãe; mas era estéril. Na sua cultura, a esterilidade era uma maldição, uma vergonha, uma desgraça.[3] Por causa disso, Ana capitulou-se à tristeza e à depressão. Ela chorava copiosamente e seu semblante descaiu. Ela não conseguia comer. Sua dor era profunda. As palavras já não brotavam dos seus lábios. Só conseguia balbuciar seus gemidos diante de Deus. Não obstante à sua angústia, Ana não entregou os pontos, não se conformou passivamente com a situação. Ela reagiu e lutou com galhardia pelo seu sonho.
Mas por que Ana era estéril? Por que seu sonho de ser mãe estava sendo adiado? Por que foi vitimada por uma doença incurável, que carregava um profundo peso de ostracismo social? A doença de Ana não era provocada por um pecado que ela teria cometido. Também não se originava de alguma maldição hereditária nem muito menos resultado de ação satânica. O texto bíblico é claro em afirmar que Deus a deixou estéril (v. 5) e que o próprio Senhor cerrou a sua madre (v. 6). Muitos hoje pensam equivocadamente que toda doença tem procedência maligna.4 Esse não é o ensino das Escrituras. Nesse caso, o agente da doença de Ana é o Senhor. Deus mesmo a fez estéril. Deus mesmo adiou o seu sonho. A mão de Deus está presente como protagonista desta história de dor e lágrimas. Mas, por quê?
E um grande mistério entender como e porque os nossos sonhos legítimos são adiados.[4] Esse será o centro da nossa atenção a partir de agora. Por que Deus, sendo amoroso e misericordioso, nos permite passar por situações dolorosas? Por que, às vezes, ele é o próprio agente dessas situações amargas? Por que, Deus sendo tão bom, adia a realização dos nossos sonhos mais acalentados? Deus não é sádico. Ele não tem prazer em ver os seus filhos sofrendo. Ele sempre tem o melhor para nós. Se um filho lhe pede um pão, ele não lhe dá uma pedra (Lc 11.11). Mas então por que ele adia a realização dos nossos sonhos? Talvez esse seja o grande dilema da sua alma: ver os seus sonhos sendo arrastados na correnteza do tempo. Como Ana, você tem projetos claros, sonhos legítimos, mas eles não se concretizam. Você luta, mas não vê os seus desejos cumpridos. A Bíblia diz que a esperança que se adia adoece o coração (Pv 13.12). Talvez você já esteja cansado de esperar. Como Ana, você já está entrando num processo de depressão. Não consegue mais comer, só chorar; não consegue trazer no rosto a beleza de um sorriso, pois o seu semblante já descaiu. É a batalha do vestibular que já foi perdida tantas
vezes; é a aspiração de ingressar numa faculdade, mas faltam os recursos financeiros; é o projeto do casamento que se adia; é o desejo de ver o cônjuge convertido; é o sonho de ver os filhos consagrados a Deus; é o anelo de conseguir a sua estabilidade financeira; é o plano de ter uma família unida pelos laços do amor. Você olha para as circunstâncias, entretanto, e não vê mudança. Olha para a banda do mar não vê sequer uma nuvem. As circunstâncias conspiram contra o seu desejo. A situação troveja aos seus ouvidos uma única mensagem: Não existe jeito. Não há saída. Não há solução à vista.
Contudo, quando parece que nada está acontecendo, com Deus no controle alguma coisa está acontecendo. Nossa vida não está solta ao léu, sem rumo. Não somos guiados por um destino cego. Não somos jogados de um lado para o outro ao sabor das circunstâncias. Nossa vida está nas mãos do Rei do universo. Ele é Todo-poderoso, é bom e fiel em todas as suas obras. Ele trabalha de tal forma em nossa vida que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Ele sabe o que faz com a sua vida. Ele está no leme, não tenha medo da tempestade. Ele está no controle da sua história, não se desespere. Ele pode o impossível, não desista de seus sonhos. Ele tem sobejas razões para adiar a realização dos seus sonhos.
A questão é: por que Deus adia a realização dos nossos sonhos?
1. Para que compreendamos que o Deus das bênçãos é melhor do que as bênçãos de Deus
Os problemas nos aproximam de Deus. É no vale que olhamos com mais intensidade para as alturas. E na crise que recorremos com mais pressa a Deus. Quando os nossos sonhos não se realizam, temos necessidade de buscar a Deus. É nessas horas que aprendemos a profunda lição que Deus adia os nossos sonhos para que o coloquemos em primeiro lugar em nossa vida. O Deus das bênçãos é melhor do que as bênçãos de Deus. A intimidade de Deus é a maior necessidade da nossa vida. Estar com Deus é a maior prioridade da nossa agenda.
Os problemas não vêm para nos afastar de Deus, mas para nos levar à presença divina. Eles não são permitidos ou mandados por Deus para nos destruir, mas para gerar em nós dependência do Altíssimo. Deus adia a realização dos nossos sonhos para nos manter perto dele e nos ensinar que tudo, sem ele, é nada.
Não aprendemos as maiores lições da vida em dias de festa, mas na escola do sofrimento. É no vale que aprendemos as mais profundas lições da vida. É quando os nossos recursos se esgotam que conhecemos a providência do Jeová Jiré. E quando temos consciência de que o homem é homem, é que sabemos que Deus é Deus. E quando somos fracos que somos fortes.
Sonhos não realizados, desejos não satisfeitos, via de regra, nos levam à presença de Deus. O sofrimento não é um bem em si mesmo, mas Deus trabalha em nossa vida de tal forma que o sofrimento se transforma em bem para nós. O sofrimento não é um fim em si mesmo. Ele é pedagógico, tem um propósito positivo. As tribulações produzem paciência, e a paciência deságua numa profunda experiência com Deus (Rm 5-3-5). Devemos, por isso, nos alegrar ao atravessar várias provações (Tg 1.2), pois elas nos colocam quebrantados, humildes e dependentes do Deus Todo-poderoso.
Estamos vivendo a cultura da centralidade do homem, em torno do qual tudo gira. Até a religião cristã está sendo seduzida por este antropocentrismo idolátrico. Essa visão humanista diz que Deus está a serviço do homem. Proclama que a vontade do homem deve ser sempre satisfeita. Essa teologia ensina que não é a vontade de Deus que deve ser feita na terra, mas a vontade do homem que deve ser feita no céu. E por isso que muitas pessoas se apresentam diante de Deus, fazendo orações que o colocam contra a parede: "Eu decreto, eu determino, eu ordeno, eu proíbo, eu rejeito, eu não aceito...". Essa visão, contudo, é falsa. Não é o homem quem está no centro. E Deus quem está assentado no trono. Só ele é soberano. Ele faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. Ele não aceita ser pressionado. Ele não tolera imposições. A única coisa que nos cabe é nos lançar humildemente aos seus pés sabendo que quando os nossos sonhos são adiados é porque Deus quer nos ensinar a lição de que ele é melhor do que suas bênçãos. A nossa maior necessidade não é de coisas, mas de Deus!
2. Para que entendamos que tanto o ordinário como o extraordinário são presentes de Deus
Quando Samuel nasceu, Ana o viu como milagre de Deus. Ela sabia que a sua gravidez não havia sido normal. Samuel era fruto de uma intervenção sobrenatural e extraordinária de Deus em sua vida. Ana sabia que Samuel era fruto da resposta às suas orações (I Sm 1.27).
Precisamos ter claro em nossa mente que tanto o ordinário quanto o extraordinário são bênçãos procedentes do Senhor. O simples fato de estarmos vivos é um milagre de Deus. O alimento que temos sobre a mesa é um prodígio da providência divina. Geralmente as pessoas só enxergam como milagre de Deus os fatos sobrenaturais. Por exemplo, quando um doente é curado de câncer. Mas não vêem como ação maravilhosa do Senhor o fato de sermos protegidos diariamente dos aleivosos perigos das doenças contagiosas, dos vírus e bactérias que nos cercam. Às vezes, só interpretamos como milagre o fato de uma pessoa sofrer um acidente grave e sair ilesa, mas não paramos para agradecer a Deus o fato de sairmos de casa todos os dias e voltarmos em segurança.
Certa feita, Blaise Pascal, o famoso filósofo e matemático francês, chegou para o seu pai e disse:
"Papai, aconteceu um milagre comigo hoje!"
"Sim, meu filho, o que foi?"
"É que eu fiz uma viagem de 15 quilômetros a cavalo. Num momento, o meu cavalo galopava fogosamente, tropeçou, caiu e eu não me machuquei."
"E verdade, meu filho, esse foi um grande milagre", respondeu seu pai. "Mas aconteceu comigo um milagre maior."
"O que foi papai?"
"Eu também fiz uma longa viagem a cavalo. O meu cavalo galopou a toda velocidade e não tropeçou nem uma vez!"
Você tem visto a bondosa providência de Deus em sua vida nas coisas ordinárias? Você reconhece que tudo o que você tem é bênção do Senhor? Corremos o risco de achar que o que somos e temos é fruto da nossa inteligência, esforço e trabalho, e deixamos, por isso, de tributar a glória devida a Deus por essas bênçãos. Ana se apresentou a Eli e disse: "Por esse menino orava eu; e o Senhor me concedeu a petição que eu lhe fizera" (I Sm 1.27).
3. Para que tenhamos a disposição de a consagrar a Deus o melhor que temos
Ana devolveu para Deus o filho que recebeu de Deus. Ela fez o voto e o cumpriu. Ela levou Samuel à Casa de Deus e o dedicou ao Senhor por todos os dias da sua vida. Não fosse o entendimento de que tudo é de Deus, vem de Deus e deve ser consagrado de volta a Deus e Samuel teria sido o centro da vida de Ana. Não fosse essa visão de Ana, Samuel teria sido o seu deus, a razão da sua vida.
Muitas pessoas transformam as bênçãos de Deus em ídolos. Prosperam e colocam o seu coração na riqueza, deixando Deus de lado. Casam-se e fazem do cônjuge um ídolo, abandonando o Senhor. Têm filhos e vivem em função deles em vez de consagrá-los a Deus e criá-los para o Senhor. Muitas pessoas agarram-se tanto às bênçãos de Deus que se esquecem do Deus das bênçãos. Fazem do dinheiro um ídolo. Vivem como escravos de Mamom. Vivem para ele. Morrem por ele.
Quantos pais hoje têm a coragem de consagrar seus filhos para Deus como fez Ana? Essa extraordinária mulher compreendeu que o sentido maior da vida do seu filho era realizar os sonhos de Deus, e não os seus próprios sonhos. Ela não buscou transferir para Samuel a compensação de suas frustrações do passado. Ela não o usou como troféu para mostrar ao mundo sua vaidade. Ela não projetou em seu filho o idealismo de ver os seus sonhos cumpridos. Pelo contrário, Ana consagrou o seu melhor para Deus. Entregou a Deus o que tinha de mais precioso. Ela criou Samuel para o Senhor. O puritano Thomas Watson dizia que nossos filhos devem ser mais filhos de Deus do que nossos filhos.[5] Paradoxalmente, eles se tornam cada vez mais nossos à medida que eles são mais de Deus. No Reino de Deus, você tem o que dá e perde o que retém.
No século passado nascia o filho caçula, entre nove irmãos, de uma família piedosa nos Estados Unidos. Aquele menino chamava-se Ashbel Green Simonton, o missionário pioneiro do presbiteria-nismo no Brasil. Seu pai, dr. William Simonton, foi presbítero, médico e deputado federal por duas legislaturas. Quando Simonton nasceu, seus pais o consagraram a Deus para o ministério.[6] Na juventude recebeu o chamado de Deus e entrou para o Seminário de Princeton, em New Jersey. Revelou-se um jovem brilhante, inteligente, culto e piedoso. Nos idos de 1857 a 1859 os Estados Unidos estavam vivendo um grande reavivamento. Foi nessa época que Simonton recebeu o chamado de Deus para ser missionário no Brasil. Grandes igrejas já o haviam convidado para ser pastor. Propostas promissoras já haviam chegado a ele. Mas a todas Simonton recusou. Alguns tentaram em vão, demovê-lo, dizendo: "Simonton, você é louco de deixar sua família, sua igreja, o conforto do seu país, para ir para o Brasil, um país pobre e devastado por doenças endêmicas". Mas ele respondeu: "A maior loucura na vida de um homem é estar fora do centro da vontade de Deus. Não há lugar mais seguro, ainda que cercado de perigos, do que no centro da vontade de Deus".
Esse jovem pastor, fruto da consagração de seus pais, deixou a sua pátria para plantar nas plagas brasileiras a bendita semente do evangelho. Seu ideal foi maior do que a sua vida, por isso ele deu a vida por seu ideal.
O que você tem oferecido a Deus? E o seu melhor? Você tem colocado as primícias no altar de Deus? Ou tem comparecido diante do Senhor de mãos vazias? Na época de Malaquias, o povo de Israel oferecia a Deus os animais cegos e aleijados.
Entregavam o resto para Deus. O que você tem apresentado ao Senhor? Tudo o que você tem é de Deus. A casa que você mora, o carro em que você anda, o salário que você recebe, a família que você tem, a sua própria vida; tudo é de Deus. O que você tem devolvido ao Senhor? O que você tem consagrado de volta para Deus? Você tem colocado o seu melhor, como Abraão, no altar do Senhor? Você tem dado o seu melhor para Deus como Ana?
Deus não quer que você transforme num ídolo uma bênção dada por ele. Estou certo de que Deus adia os nossos sonhos para que possamos fazer o voto de Ana: "Por esse menino orava eu, pelo que o trago como devolvido ao Senhor". O que você precisa devolver no altar do Senhor?
4. Para que reconheçamos que os sonhos de Deus são maiores do que os nossos sonhos
O sonho de Ana era muito pequeno. Suas aspirações não eram suficientemente ousadas. Ela queria apenas ver o seu ventre transformando-se num cenário de vida. Ela só aspirava gerar uma criança, carregar no colo um filho e amamentar um rebento.
Mas, Deus não realizou o sonho de Ana no seu tempo, porque tinha algo maior para fazer em sua vida. Os pensamentos de Deus são mais elevados do que os nossos pensamentos. Os sonhos de Deus são maiores do que os nossos sonhos. O sonho de Deus para Ana não era apenas que ela fosse mãe, mas mãe do maior profeta daquela geração. Samuel não seria um homem comum, mas aquele que traria o povo de Israel de volta para Deus, o último e o maior juiz de Israel. Samuel seria o homem que restauraria a credibilidade do sacerdócio tão desgastado com o ministério repreensível de Hofni e Fineias. Samuel seria o grande instrumento que Deus usaria para ungir Saul como o primeiro rei de Israel e Davi como o seu sucessor.
Ana chorava porque queria ver os seus sonhos realizados, mas Deus os adiou porque almejava algo melhor e mais elevado para ela. Quando pensamos que Deus está distante ou indiferente aos anseios mais profundos da nossa alma, quando achamos que ele não se importa com a realização dos nossos sonhos, ele está trabalhando em nós e por nós, fazendo maravilhas maiores do que poderíamos imaginar. O Senhor cavalga nas alturas para a nossa ajuda (Dt 33.26). Não há Deus como ele, que trabalha para aqueles que nele esperam (Is 64Ã). Deus trabalha no turno da noite. Ele faz hora-extra para aqueles que esperam nele. Aos seus amados, ele os dá enquanto dormem (Sl 127.2). Mesmo quando você tem a sensação de que está sozinho na caminhada da vida, ele está carregando você no colo. Mesmo quando você sente que as coisas perderam o rumo, ele está no controle total da situação.
Quando os discípulos de Jesus estavam assombrados no mar da Galiléia, exaustos de remar, batidos por ventos contrários, fustigados por ondas furiosas, na iminência de um desastroso naufrágio, Jesus aproximou-se deles, na quarta vigília da noite, andando por sobre as ondas e mostrando-lhes que as mesmas vagas que conspiravam contra eles estavam rigorosamente debaixo dos seus pés. O que nos ameaça e instila medo no nosso coração está sob os pés do Senhor. Ele é maior do que as nossas tempestades. Ele não se apavora com os problemas que nos entrincheiram. Ele não perde o leme do nosso barco no fragor da tempestade. Quando o Senhor nos permite passar por uma prova amarga, não é para nos ver sofrendo simplesmente. Ele não tem prazer em nosso sofrimento. Ele não é sádico. O propósito do Senhor é mostrar-nos o seu poder e acalmar o nosso coração, evidenciando-nos que ele está no controle da nossa vida.
José foi um jovem marcado pela injustiça. Sofreu o desprezo e o ódio dos seus irmãos, que o jogaram vivo em uma cova e o mataram no coração. Venderam-no como mercadoria barata para livrarem-se dele. Sustentaram durante vinte anos uma mentira para Jacó, dizendo que seu filho José havia sido devorado por uma fera do campo, a fim de que o pai desistisse de procurar o filho amado. No Egito, José sofreu outro golpe. Foi injustiçado pela sua patroa, que queria deitar-se com ele, mas José não cedeu aos seus apelos nem à sua pressão. Então, sentindo-se rejeitada, ela transferiu para José a culpa que era dela, jogando-o injustamente na prisão. Na cadeia ainda foi vítima de outra injustiça, a ingratidão do copeiro-mor de Faraó, que se esqueceu dele, não atendendo o seu apelo de rogar em seu favor junto ao supremo mandatário daquele poderoso império. Por esta causa, José ficou mais dois anos mofando na prisão.
Mas por que Deus deixaria uma pessoa inocente mofar na cadeia? Por que Deus não ouviu o clamor de José quando ele queria sair da prisão? Sabe por que Deus não realizou o sonho de José no tempo que ele queria? Se José tivesse saído da prisão naquela época, o máximo que ele teria conseguido na vida seria trabalhar como lavador de copos no palácio de Faraó. Mas Deus o deixou mais dois anos na prisão para tirá-lo de lá e torná-lo governador do Egito. Quando parecia que Deus não estava fazendo nada para livrar José da prisão, ele, na verdade, estava construindo a rampa para José subir ao palácio de Faraó, para ser governador daquele vasto império. Deus não realizou os sonhos de José, porque os sonhos dele eram muito pequenos. Os sonhos de Deus são sempre melhores e maiores do que os nossos. Importa que os sonhos de Deus, e não os nossos, sejam realizados. Os sonhos de Deus são perfeitos. Jamais se perdem nas curvas do caminho. Jamais se transformam em pesadelos.
5. Para que entendamos que Deus faz todas as coisas no seu tempo e conforme o conselho da sua vontade
Deus é soberano. Ele está assentado na sala de comando do universo. Ele está com as rédeas da história em suas mãos. Ele dirige as nações. Ele domina sobre a natureza. Não permite que nem uma folha caia de uma árvore sem a sua permissão. Sua vida não é dirigida por um destino cego. Você está nas mãos do Deus vivo.
No auge de sua crise, Ana teve uma profunda experiência com Deus. Depois de vislumbrar a majestade de Deus e receber dele um grande milagre, prorrompeu num cântico de exaltação ao Senhor e fez uma afirmação extraordinária: Deus é quem dá a vida e quem a tira. E quem exalta e também faz descer. E ele quem levanta o pobre desde o pó ao monturo, para fazê-lo assentar-se entre príncipes (I Sm 2.6-8).
Deus age no seu tempo. Ele não se deixa pressionar. Ele é livre e soberano. Muitas pessoas querem determinar o que Deus deve fazer, como deve fazer e até mesmo quando deve fazer. A resposta de Deus não vem segundo o nosso tempo, pela pressão da nossa agenda. Deus tem o seu tempo certo de agir. Ele, muitas vezes, protela os nossos sonhos para realizar coisas maiores em nosso favor. No calendário de Marta, Jesus havia chegado atrasado à aldeia de Betânia, quando Lázaro morreu. Mas Jesus não chegou atrasado, ele chegou no tempo certo. A ressurreição de um morto é um milagre maior do que a cura de um enfermo. Deus não chegou atrasado no mar da Galiléia na quarta vigília da noite. Em virtude daquela tempestade, os discípulos tiveram uma experiência mais profunda com Jesus e o adoraram (Mt 22.33). Deus não chegou atrasado à prisão de José. Ele estava edificando a rampa para José subir ao palácio de Faraó como governador. Deus não chegou atrasado na vida de Ana. Ele a deixou estéril para que ela o conhecesse e assim pudesse se preparar para ser a mãe do homem mais importante daquela época.[7]
Ana tem uma compreensão da majestade de Deus em seu cântico. Ela passa a perceber que Deus não apenas faz as coisas no seu tempo, mas também, conforme o conselho da sua vontade. Ele é Deus exaltado quando dá a vida e quando tira, quando cura a doença e quando deixa de curar, quando exalta e também quando rebaixa, quando responde a oração e quando adia os nossos sonhos.
É muito comum vermos as pessoas glorificando a Deus quando um doente é curado de câncer, mas ficam murchas e cheias de inquietações quando oram por um enfermo e Deus o leva. Ana compreendeu que a glória de Deus deve ser proclamada não só quando ele dá a vida e exalta, mas também quando ele tira a vida e rebaixa.
A majestade de Deus também reside no fato de que, quando Deus age, ninguém pode impedir a sua mão. Talvez os médicos de Rama já tivessem dado o último diagnóstico para Ana, tirando-lhe todas as esperanças de ser mãe. Sua doença era incurável. Todos diziam que ela precisava conformar-se com a sua situação irreversível. Mas Ana continuou crendo no Deus dos impossíveis. Ela não desistiu dos seus sonhos, mesmo em face das impossibilidades humanas. Ela creu e Deus fez o milagre!
Deus não deixou de agir milagrosamente em nossos dias. O tempo dos milagres não cessou. Deus não encolheu a sua mão. Ele não abdicou do seu poder. Ele pode tudo quanto ele quer. E, quando ele age, ninguém pode detê-lo. Os médicos podem lhe dar um diagnóstico final: "Não há cura!" Mas, se Deus quiser, existe cura.
O mundo inteiro pode trombetear aos seus ouvidos: "A sua causa está perdida". Mas, se Deus quiser, você triunfará. Os inimigos de Daniel pensaram que, quando o rei Dario acabasse de assinar o edito, Daniel estaria com a sua morte lavrada, mas não contaram com a intervenção sobrenatural de Deus para fechar a boca dos leões. Deus opera maravilhas. Ele continua curando enfermos, libertando cativos, dando vista aos cegos e transformando pesadelos em sonhos realizados. Tenho visto pessoas condenadas à morte pela medicina sendo curadas por Deus. Tenho visto gente cativa sendo arrancada da garganta do inferno.
O Rev. Ronaldo de Almeida Lidório, ministro presbiteriano, com doutorado na Inglaterra, é um missionário transcultural poderosamente usado nas mãos de Deus. Ele e sua esposa Rossana foram para Ghana, na África, em 1993, para plantar uma igreja entre a tribo dos Konkombas, um povo nunca dantes tocado pelo evangelho.9 Enfrentando todos os desafios, esse casal deixou o conforto das grandes cidades, o calor da família, o abrigo hospitaleiro da pátria, e rumou para o interior da África para evangelizar um povo animista e feiticeiro, que vivia nas trevas espessas do ocultismo, sacrificando seus próprios filhos aos demônios.
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9 LIDÓRIO, Ronaldo. Konkombas, o nascer da igreja em uma tribo no oeste africano p. 18 — Junta de Missões Estrangeiras IPB-São Paulo-1998.
Superando todas as barreiras da cultura, da língua e da religião, Rev. Ronaldo e sua esposa, sob a égide da graça de Deus e no poder do Espírito Santo chegaram ao campo missionário. Aquele povo não tinha uma língua estruturada. Eles estavam imersos num caudal de trevas e cegueira. Estavam presos por um cativeiro opressor. Então, os missionários se puseram a orar e pedir a Deus uma estratégia. O grande milagre começou a acontecer quando os Konkombas não conseguiram pronunciar os nomes Ronaldo e Rossana. Deram-lhes nomes africanos. Ao Rev. Ronaldo chamaram Uwumbor-bi-, que significa "o homem que diz que existe um Deus".10 Sempre que ele chegava a uma aldeia e alguém lhe perguntava pelo seu nome, ele respondia: "Eu sou o homem que diz que existe um Deus." Essa resposta provocava uma outra pergunta: "Qual é o seu Deus?". Ele prontamente respondia: "Convoquem o povo da aldeia, porque hoje à noite eu vou lhes dizer quem é o meu Deus."
Deus mesmo abriu o caminho para a pregação. Não tardou para que uma mulher de outra aldeia, da tribo dos Fulanis-Krês, soubesse que havia na tribo de Koni um homem que falava de um Deus vivo. Ela fez uma longa jornada de três dias com uma filha de sete meses envolta num lençol, à beira da morte, rumo a Koni. A criança estava com o corpo coberto de feridas, a pele estava apodrecendo sobre o corpo caquético. A criança agonizava no portal da morte. Ela chegou a Koni e perguntou ao Rev. Ronaldo: "O senhor é o homem que diz que existe um Deus?". "Sim, sou eu."
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10 LIDÓRIO, Ronaldo, konkombas p.16-18,22-23 -Junta de Missões Estrangeiras IPB - São Paulo - 1998.
"Será que o seu Deus pode me ajudar? Já procurei todos os deuses que conheço e eles nada puderam fazer por mim. Minha filha está morrendo. Se o seu Deus pode alguma coisa, peça para ele curar a minha filha".
Naquele momento, Rev. Ronaldo tomou a criança em seus braços, desenrolou-a dos lençóis e viu o corpinho frágil coberto de chagas mortíferas. A pele estava necrosada. A criança agonizava. Então, o reverendo fez uma oração a Deus: "Senhor, este povo não sabe que tu és o único Deus vivo e verdadeiro. Este povo não sabe que Jesus, o teu Filho, venceu a morte e tem todo poder e autoridade no céu e na terra. Ó Deus, cura esta criança para testemunho do teu poder e para a manifestação da tua própria glória."
Acabada a oração, Rev. Ronaldo envolveu novamente a criança nos lençóis e colocou-a no colo da mãe, que tomou o caminho de volta para a sua aldeia. Quando a mulher chegou em casa, ao desenrolar a filha dos panos, verificou com imensa alegria que a sua filha estava totalmente curada. Não havia mais nenhum sinal da doença. A pele estava totalmente nova. Não havia nem sequer marca das feridas.[8]
Aquela mulher, diante do milagre operado na vida de sua filha, saiu clamando a plenos pulmões pelas cabanas de sua aldeia que havia encontrado o Deus verdadeiro. A partir daí, muitos feiticeiros começaram a se converter. As dezenas, os pecadores mais endurecidos foram quebrantados pela manifestação soberana do poder de Deus. Em menos de cinco anos de trabalho, o Rev. Ronaldo plantou onze igrejas entre os Konkombas, com mais de três mil membros, criou uma escola de alfabetizaçao e uma clínica, traduzindo ainda vários livros do Novo Testamento para a língua Konkomba.
Depois de sofrer vinte e quatro malárias, uma malária cerebral e um envenenamento, as igrejas mantenedoras escreveram para Rev. Ronaldo pedindo encarecidamente que ele voltasse ao Brasil. Ele respondeu: "Não posso ir agora. Deus abriu uma nova porta para pregar, visitarei uma nova aldeia."
Para lá ele foi com um presbítero Konkomba. Ao final de alguns dias de pregação, apenas uma viúva idosa e algumas crianças se entregaram a Cristo. Pelo fato de as viúvas serem alvos de grande ostracismo e desprezo na cultura Konkomba, Rev. Ronaldo voltou para Koni abatido e triste. Foi quando o presbítero lhe disse: "O senhor nos ensinou a confiar na soberania de Deus, por que então agora está abatido?" Três dias depois que haviam voltado a Koni, um mensageiro apareceu pedindo ao Rev. Ronaldo para voltar àquela tribo. Pensando tratar-se de uma perseguição aos novos convertidos por parte dos feiticeiros, o mensageiro logo lhe disse: "A questão é que aquela viúva convertida não comeu e nem dormiu durante três dias e três noites, mas, de palhoça em palhoça, saiu pregando com grande poder e agora temos lá setenta e seis pessoas que se entregaram a Cristo. Precisamos que o senhor volte lá para começar a igreja." Aquela foi a décima primeira igreja plantada entre os Konkombas.
Quando Deus age, ninguém pode deter o seu braço. O nosso coração deve descansar nessa verdade bendita. Como Ana, devemos exaltar o Senhor e, prostrados, devemos adorá-lo por seus grandes feitos (I Sm 1.28)!
Capítulo 2
Os Destruidores de Sonhos
Sonhar é viver. Quem não sonha já desistiu da vida. Quem não alimenta sonhos no coração está sem rumo na história, como um barco à deriva. Você precisa ter um alvo para seguir, uma causa pela qual está disposto a viver e morrer. Não podemos desistir dos nossos sonhos pelo fato de existir conspiração contra eles. José do Egito sonhou e por isso foi odiado e perseguido, mas nos vales escuros da vida foram os seus sonhos que nutriram a sua alma de esperança. Ana também encontrou resistência ao seu sonho. Você também tem sonhos que acalentava e o caminho para realizá-los está juncado de espinhos. Há muitos destruidores de sonhos ao longo da nossa jornada. Como O Peregrino de John Bunyan, o caminho para o céu está cercado de muitos perigos.
I Samuel capítulo 1 fala-nos sobre alguns desses destruidores de sonhos:
1. A provocação
Penina era rival de Ana. Penina tinha filhos e filhas, ao contrário de Ana, que não tinha nenhum descendente (I Sm 1.2). Ana era doente. Ela era estéril (I Sm 1.5,6). Elcana tentava compensar o sofrimento de Ana, dedicando-lhe acendrado amor (I Sm 1.5). Esse fato, contudo, aumentava a rivalidade e a hostilidade de Penina por Ana. Além do drama da sua dor, de ver os seus sonhos sendo adiados, de carregar a vergonha e o opróbrio da esterilidade, Ana ainda enfrentava a desconfortável situação de ser fustigada, provocada e molestada constantemente por Penina. Penina a irritava excessivamente (I Sm 1.6,7). Não perdia uma oportunidade de humilhá-la. Rancorosa, vingativa e ciumenta, Penina não respeitava o sofrimento de Ana. Ela tinha um mórbido prazer em ver Ana sofrendo. Ela era uma assassina de sonhos.
As provocações de Penina atingiram Ana com tal profundidade que ela ficou deprimida. Não conseguia mais comer. Seu semblante descaiu e ficou carregado de tristeza. Ana tornou-se uma mulher amargurada de espírito. Ela não conseguia parar de chorar e mergulhou a sua alma nas águas turvas da depressão.
Qual foi o combustível que Penina usou para incendiar o coração de Ana? Que armas ela usou para provocá-la? Possivelmente, dizia à rival: "Veja Ana, você é uma mulher tão piedosa, você ora tanto, vai tanto à Casa de Deus, mas você está doente, é estéril, não pode ter filhos. Eu não faço nada disso e estou com a minha aljava cheia de filhos."
A provocação de Penina visava desestabílizar Ana emocionalmente e abalar a sua fé em Deus. Suas setas venenosas tinham por objetivo matar os sonhos de Ana.
A mesma situação foi vivida pelos filhos de Coré (Sl 42), quando estavam entrincheirados por problemas difíceis. Seus inimigos os colocaram contra a parede e perguntaram: "O teu Deus, onde está?" (Sl 42.3). Hoje você também é confrontado com perguntas perturbadoras: você não é crente fiel, você não vai à Casa de Deus? Você não confia que Deus é amor e onipotente, então por que ele não lhe socorre? Você não entrega o seu dízimo, não serve a Deus com integridade? Por que, então, está passando por dificuldades financeiras? Por que está desempregado? Por que seu casamento está acabando? Por que os seus filhos estão dispersos? Onde está o seu Deus? Se ele ama você, por que ele não intervém em sua vida?
Os filhos de Coré viram essas provocações como uma doença que lhes esmigalhavam os ossos (Sl 42.10). Eles se renderam ao choro (Sl 42.3). Talvez essa seja a sua situação. Além de estar enfrentando uma dificuldade terrível que conspira contra a sua vida, ainda encontra no caminho assassinos de sonhos. As vezes, aqueles que deveriam ser seus aliados e consoladores transformam-se em algozes, como os amigos de Jó.[9] As vezes, aqueles que deveriam lhe oferecer um ombro hospitaleiro e um peito amigo, para se agasalhar, transformam-se em ameaça para a realização de seus sonhos.
A provocação de Penina tinha dois objetivos: achatar a auto-estima de Ana e desestabilizá-la emocional e espiritualmente. A provocação é a arma dos fracos. É o expediente daqueles que se sentem inferiores, mas não querem admiti-lo. A provocação é a tentativa de diminuir o outro para tentar melhorar a sua própria imagem. É o sentimento que invade a alma daqueles que se alegram com sofrimento alheio e sentem uma mórbida compensação com o fracasso dos outros. Penina era uma mulher infeliz e insegura que tentava destruir as pessoas que cruzavam o seu caminho. A provocação é fruto da inveja e sempre deságua no oceano da amargura. Ela cresce no solo fertilizado pelo ódio e busca sempre a vingança.
A vida piedosa de Ana ressaltava a mediocridade de Penina. As virtudes de Ana faziam sobressair a futilidade de Penina. Em vez de Penina imitar as virtudes de Ana, resolveu atacá-la. Em vez de condoer-se com o seu problema, passou a aguçar ainda mais a sua dor.
Existem muitas pessoas hoje que são um retrato existencial de Penina. Gente que não chora com os que choram. Gente carregada de inveja e ciúmes. Gente que tripudia e massacra aqueles que vivem na retidão, buscando com isso uma falsa compensação para suas doentias frustrações. Gente que não suporta ver o sucesso dos outros. Talvez você cruze com gente assim pelos caminhos da vida. Não deixe que esses inimigos roubem os sonhos do seu coração.
2. A incompreensão
Ana foi mal interpretada pelo sacerdote Eli, e isso dentro da própria Casa de Deus. Ana estava orando, chorando diante de Deus, derramando a sua alma diante do Senhor, mas não foi compreendida por aquele que deveria estar chorando com ela (I Sm 1.12-14) .
A religião de Israel estava em crise naquele tempo. Depois de quarenta anos de ministério, o sacerdote Eli já estava velho demais para acompanhar de perto o seu rebanho. Seus filhos, Hofni e Fineias, sacerdotes, eram homens impuros, adúlteros, devassos, filhos de Belial.[10] Todos os anos Ana subia à Casa do Senhor, em Silo, e nunca Eli ou seus filhos perceberam o drama dessa mulher. Ana estava sem assistência pastoral. Ela não tinha um pastor que se interessasse pelo seu problema, com quem ela pudesse compartilhar as suas necessidades. Sua dor era só sua. Ela não tinha um ombro hospitaleiro na sua comunidade que lhe pudesse servir de suporte. Ana estava não apenas só, mas ainda foi mal interpretada pelo sacerdote Eli. Quando Eli a viu orando com amargura de alma, derramando o seu coração diante do Senhor, ele a tratou como se ela estivesse bêbada e embriagada (I Sm 1.12-14).
Eli cometeu dois erros graves com Ana: primeiro a julgou mal, depois a acusou sem ouvi-la. Ana foi vítima de uma hermenêutica precipitada e sem lucidez de um sacerdote senil. Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha. Ana foi acusada de um pecado que não cometeu, pela pessoa que deveria estar sofrendo com ela, chorando diante de Deus por ela. Ela foi repreendida com aspereza, quando deveria ser alvo de consolação. Ela foi atacada quando deveria estar sendo acolhida. Foi julgada com rigor quando deveria estar sendo pastoreada com amor.
Há muitas pessoas feridas porque não encontraram na igreja uma comunidade terapêutica, mas um lugar de censura, acusações e incompreensão. A igreja, em vez de ser um lugar de cura, tem se transformado para muitos num cenário de doença e culpa. Há líderes religiosos que não apascentam as ovelhas de Deus, mas as tratam com rigor e dureza. Não são terapeutas da alma, mas assassinos de sonhos, que atam fardos pesados nos ombros de pessoas já feridas pela vida.
Muitas pessoas também sobem à Casa de Deus só para chorar, mas voltam vazias de consolação, secas de esperança, com a alma mais ferida, porque não encontraram lá Palavra de Deus, remédio para o coração, mas apenas tradições humanas, censuras e acusações, fruto da indiferença, do egoísmo, do desamor, do preconceito e do engano.
Há muitos líderes religiosos que são destruidores de sonhos. Eles abortam no nascedouro projetos que poderiam revolucionar o mundo. Há muitos líderes que sufocam qualquer nova liderança emergente. Há pastores que são a rolha do rebanho:14 estão sempre impedindo que o povo respire espiritualmente; estão sempre matando os sonhos no coração das pessoas. Eles se sentem os donos da verdade e desandam a boca para atacar e ferir todos aqueles que não se alinham com a sua visão.
Não deixe o seu sonho morrer. Não permita que os destruidores de sonhos introjetem no seu coração o vírus maldito do desânimo. Não deixe que também a amargura tome conta da sua alma, pelo fato de não receber apoio daqueles que deveriam estar ao seu lado. Levante a cabeça. Não perca de vista o alvo. Não abra mão dos seus sonhos.
João Soares da Fonseca narra uma história interessante no seu livro Conta outra: "Um garoto padecia de uma terrível surdez parcial. Certo dia, ao voltar da escola, trouxe consigo um recado para seus pais. Em secas linhas, a professora sugeria que o melhor que fariam seria tirar o menino da escola. E explicava porque: ele não tem inteligência para aprender nada. Em vez de deprimir-se com o pessimismo do recado, a mãe do garoto simplesmente afirmou: 'E claro que o meu filho Tom tem inteligência para aprender. Eu mesma serei a professora dele'. A partir daí, além da tarefa da criação, tomou sobre os ombros também a instrução escolar do seu filho. Tom aprendeu, cresceu, tornou-se um bom profissional. E, quando morreu, anos mais tarde, o país inteiro o homenageou, apagando as lâmpadas por um minuto, lâmpadas que ele próprio havia inventado. Tom — era assim que a família de Thomas Edison o chamava - inventou não somente a lâmpada, mas também a câmara fotográfica, o mimeógrafo, o fonógrafo, o transmissor a carvão, o filme movimentado, o gravador, o microfone e mais de mil outras coisas ."[11]
3. A conformação
Elcana tentou consolar Ana, mas ao mesmo tempo conspirou contra o seu sonho. Disse para ela parar de chorar e desistir do sonho de ser mãe, visto que ele próprio era melhor para ela do que dez filhos (I Sm 1.8). Elcana representa aqueles que tentam agir pela lógica, mas não exercitam fé. É o protótipo daqueles que agem com boas intenções, mas não esperam nenhuma intervenção sobrenatural de Deus. Ele queria que Ana desistisse do seu sonho e se conformasse passivamente com a sua esterilidade, mudando o foco de sua atenção para o marido. Elcana agiu com egoísmo ao mesmo tempo que buscou consolar a sua mulher.
Elcana tentou esvaziar o coração de Ana de toda esperança. Ele estava dizendo a ela que, de fato, o seu problema era insolúvel, que não havia nada a ser feito. Portanto, ela não deveria mais chorar pelo seu problema, mas, sim, desistir do seu sonho de ser mãe e pensar mais no marido. Desta forma, Elcana em vez de unir-se à sua mulher para clamar a Deus por um milagre, tentou matar os sonhos do coração dela.
Elcana agiu como um homem religioso, mas sem fé. Para ele os fatos não podiam ser mudados. Ele agiu com sensibilidade, mas sem discernimento. Há muitos conselheiros que são verdadeiros assassinos de sonhos. São lógicos, racionais, mas lhes falta ousadia para crer no Deus que age milagrosamente. Eles são guiados pela razão e não pela fé. Crêem nos fatos visíveis, mas não esperam os milagres de Deus. Conformam-se com a situação. Entregam os pontos. Desistem dos seus sonhos e ainda procuram matar o sonho dos outros.
A fé não olha para as circunstâncias. Fé é crer no impossível, ver o invisível e tocar no intangível. Fé é crer que Deus pode mudar o cenário de um ventre estéril, transformando-o em um jardim regado de vida. Fé é não desistir de esperar em Deus mesmo quando todas as circunstâncias parecem conspirar contra a esperança. Fé é saber que, se Deus quiser, ele pode mudar a nossa sorte, enxugar as nossas lágrimas, curar a nossa enfermidade, restaurar a nossa família e realizar os nossos sonhos. Ana não desistiu de sonhar. Ela não acatou o conformismo incrédulo e passivo do seu marido. Não jogou a toalha, não se deu por vencida, não se conformou com a derrota. Ana nos encoraja a lutar pelos nossos sonhos, ainda que aqueles que estão mais perto de nós e deveriam ser nossos cooperadores, se coloquem na contramão dos anelos da nossa vida. Os grandes destruidores de sonhos estão muitas vezes dentro da nossa casa e até mesmo dentro da igreja, como no caso de Ana. Aqueles que nos são mais íntimos são os primeiros a armarem emboscada contra os nossos sonhos. Devemos estar alerta!
4. O desânimo
O último destruidor dos nossos sonhos pode estar dentro de nós mesmos. Muitas vezes cansamos de esperar e desistimos muito cedo ou até mesmo no limiar da bênção. Saul cansou de esperar Samuel para fazer o sacrifício pelo povo e assumiu o papel de sacerdote, arruinando sua vida e o seu reinado (I Sm 13.8-14). Pedro desistiu de esperar Jesus na Galiléia e resolveu voltar à pesca (Jo 21.3). Ana,' porém, não desistiu. Ela não se acomodou. Ela não ensarilhou as armas. Ela não se rendeu ao desânimo.
A impaciência pode destruir-nos. Sansão morreu porque a impaciência o tornou vulnerável (Jz 16.16-31). Sara, por impaciência, empurrou Abraão para os braços de Hagar (Gn 16.1-4). Depois de quatro mil anos, a história ainda testemunha os efeitos devastadores da decisão precipitada de Sara. Os judeus e os árabes até hoje se rivalizam. Talvez você esteja cansado de esperar um casamento, cansado de esperar uma mudança na sua vida conjugai, cansado de esperar um tempo de bonança na área financeira. Cuidado para que a impaciência e o desânimo não roubem os seus sonhos. Vigie o seu próprio coração. O seu maior inimigo muitas vezes é você mesmo. Se você desistir de lutar, desistir dos seus sonhos, só olhar para as dificuldades e não crer que Deus pode intervir, você se tornará um fracasso, como aqueles dez espias de Israel que se consideraram gafanhotos diante dos gigantes de Canaã (Nm 13.31-33).
O tempo pode ser uma ameaça para os nossos sonhos. "William Carey trabalhou na índia e teve que esperar sete longos anos até batizar o primeiro hindu. Adoniram Judson, na Birmânia, também só viu o primeiro convertido depois de sete anos de trabalho. O templo do rei Salomão demorou sete anos e meio para ficar pronto. Nele trabalharam 183.600 homens. A grande pirâmide do Egito foi construída durante setenta e cinco anos. A construção da estátua da liberdade, no porto de New York, vinte anos."16 Cuidado para que a passagem do tempo não enfraqueça os seus sonhos.
Ana tinha tudo para ficar desanimada: era estéril, sua rival a provocava excessivamente, seu marido não acreditava que Deus pudesse realizar um milagre, o sacerdote a acusou de estar embriagada. Mas, Ana superou todas as dificuldades e venceu, porque não desistiu do seu sonho!
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FONSECA, João Soares da, Conta Outra p. 177,178
Capítulo 3
O que Fazer para Alimentar os Sonhos
Nossos sonhos precisam ser regados pela chuva da esperança e aspergidos pelo orvalho da fé. podemos ligar nossa vida no piloto automático. Precisamos romper em fé, saltar muralhas, vencer gigantes, triunfar sobre os destruidores de sonhos e não desistir jamais. Não podemos aceitar passivamente a decretação da derrota na nossa vida. Não podemos nos conformar com o caos. O nosso Deus não é colecionador de derrotas, é campeão invicto em todas as batalhas. Ele trabalha por nós. Ele está com o leme da nossa vida em suas mãos. Ele pode todas as coisas. Se Deus é o nosso parceiro, devemos ter grandes sonhos. Se Deus está conosco, então somos maioria absoluta. Se ele caminha conosco, nossa jornada será vitoriosa.
Ana nos ensina três princípios para alimentar os nossos sonhos enquanto estamos na sala de espera.
1. Devemos continuar crendo na intervenção soberana e sobrenatural de Deus
Ana orou vários anos pela sua enfermidade, sem ver nenhuma evidência da sua cura. Ela sofreu todo tipo de pressão para desistir de esperar de Deus um milagre. Contudo, nem os destruidores de sonhos, nem a demora de Deus esvaziaram o seu coração de esperança. Ela continuou orando (I Sm 1.10,12,15) e crendo que Deus poderia realizar algo extraordinário.
Não deixe a chama da esperança apagar-se no seu coração. O impossível dos homens é possível para Deus. O Senhor é maior do que os nossos problemas. Para ele não há coisa demasiadamente difícil. Volte a crer na intervenção de Deus. Volte a orar com fervor. Claude Pepper, congressista americano, disse certa vez: "Viver é como andar de bicicleta, só cai quem pára de pedalar."[12] Não desista, volte às trincheiras da luta, volte a buscar a Deus, volte a jejuar, volte a derramar a sua alma diante do Senhor. Volte a crer que ele pode intervir milagrosamente em sua vida. Lute pelos seus sonhos. Não abra mão deles.
A viúva de Sarepta estava vivendo a crise da fome. Na sua casa só havia um bocado de azeite e uma porção de farinha, para fazer a última refeição e aguardar a morte inevitável. Mas ela não se sentou num canto da casa desanimada, aceitando a decretação do fracasso na vida. Ela saiu para apanhar lenha, para fazer o último bolo. Ela ainda acreditava que Deus poderia realizar um milagre. Ela não parou de pedalar e o prodígio aconteceu. Deus multiplicou a farinha na sua panela e o azeite na sua botija, antes de derramar chuva sobre a terra (I Rs 17.8-16).
Norman Vincent Peale, escreveu o seu primeiro livro "O poder do pensamento positivo" e procurou uma editora para publicá-lo. Ninguém se interessou pelo livro. Ele, desanimado, voltou para casa e jogou os originais no lixo, dizendo: "Aí devem ficar os meus sonhos". Sua esposa, Rute, bem mais otimista, tomou os rascunhos do lixo e disse-lhe: "Eu creio nos seus sonhos." Ela bateu de porta em porta, até que encontrou uma editora que se interessou pelo livro. Resultado: quarenta milhões de exemplares foram vendidos só na primeira edição.18 Não desista de seus sonhos.
Na saga da política americana, um homem se destaca, — Franklin Delano Roosevelt. Ele tinha o sonho de ser presidente dos Estados Unidos. Contudo, uma doença o colocou na cadeira de rodas, mas não foi capaz de roubar o seu sonho. Muitos lhe diziam que ele jamais poderia alcançar o seu objetivo, mas ele não desistiu. Resultado: até hoje ele foi o único homem que conseguiu ser eleito e reeleito quatro vezes consecutivas como presidente dos Estados Unidos.19 Não desista dos seus sonhos. O fracasso só é fracasso quando você não aprende com ele. Os problemas só o derrotam se você desistir da luta.
Abraão Lincoln sofreu muitas derrotas até ser eleito presidente dos Estados Unidos. Ele não desistiu do seu sonho e tornou-se o maior estadista daquela nação. Vejamos a sua trajetória até a Casa Branca. Em 1818, sua mãe morreu. Em 1831, ele fracassou nos negócios. Em 1832, concorreu a deputado estadual - e perdeu. Em 1832, perdeu também o emprego. Em 1833, tomou dinheiro em prestado para começar um negócio e, por volta do final do ano, estava falido.
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18 SILVA, Nélio da. Transformando fracassos em vitórias, p. 19,20
- Mapel - Rio de Janeiro, 1996
19 CANFIELD,Jack&HANSEN,MarkVictor. Histórias para
abrir o coração p. 259 — Ediouro — Rio de Janeiro, 1997
Passou os dezessete anos seguintes pagando dívidas. Em 1834, candidatou-se novamente a deputado estadual — e desta vez foi vitorioso. Em 1835, sua noiva morreu e ele ficou desolado. Em 1836, ele teve um colapso nervoso e ficou acamado durante seis meses. Em 1838, foi indicado para porta-voz da Câmara Estadual, foi derrotado. Em 1840, indicado para o Colégio Eleitoral - foi igualmente derrotado. Em 1843, candidato ao congresso, perdeu. Em 1846, candidato ao congresso novamente — desta vez ganhou — foi a Washington e fez um bom trabalho. Em 1848, candidato à reeleição para o congresso enfrentou nova derrota. Em 1854, candidato ao Senado dos Estados Unidos perdeu a eleição. Em 1856, tendo solicitado a indicação para vice-presidente na convenção nacional do seu partido, obteve menos de cem votos. Em 1858, candidatou-se ao Senado dos Estados Unidos e perdeu novamente. Em 1860, eleito presidente dos Estados Unidos.20
O que você tem feito com os seus sonhos? Faça como Ana: suba à Casa de Deus e ore, e chore, e derrame a sua alma diante do Senhor, até que os céus lhe sejam obsequiosos!
2. Devemos abrir o coração para crer na promessa infalível da Palavra de Deus
Ana revelou uma grande maturidade em relação ao sacerdote Eli. Ele a tratou como se ela estivesse embriagada. Ela, porém, não saiu da Casa de Deus magoada, falando mal do sacerdote.
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20 CANFIELD, Jack & HANSEN, Mark Victor. Canja de Galinha para a alma, p. 227,228 — Ediouro S.A. Rio de Janeiro, 1995.
Não abrigou no coração as palavras insensatas de Eli. Não saiu do templo dizendo: "Nunca mais eu volto a este lugar". Ela não deixou o seu coração azedar, mas respondeu para Eli: "Eu não estou bêbeda, não estou embriagada. Não me trates como uma filha de Belial. Eu sou uma mulher amargurada de espírito e venho derramando a minha alma diante do Senhor" (I Sm 1.15,16)
O mesmo sacerdote que acabara de falar uma bobagem agora se transforma em profeta de Deus e traz uma mensagem do céu para Ana: "Vai em paz para a tua casa e o Deus de Israel lhe conceda a petição que lhe fizeste" (I Sm 1.17) Ana acolheu aquela palavra como Palavra de Deus e como resposta às suas orações, e sua vida foi transformada. A Palavra profética foi um remédio para a sua alma. Aconteceram com Ana três fatos, que revelam o milagre em sua vida. Primeiro, ela voltou a comer; ela se preocupou com o seu corpo. Segundo, ela mudou o seu semblante, suas emoções foram curadas. Terceiro, ela se deitou com o seu marido, e Deus se lembrou dela.
E digno de nota que a cura de Ana não se deu na hora que Eli lhe falou. Ali ela creu e tomou posse da bênção. Deus curou primeiro o coração de Ana, antes de curar-lhe o corpo. Deus curou primeiro as emoções de Ana, antes de curar-lhe o ventre. Só mais tarde, quando Ana coabitou com o marido, é que Deus se lembrou dela e, então ela concebeu e deu à luz a um filho, a quem deu o nome de Samuel (I Sm 1.19,20).
Se você deseja ver os seus sonhos realizados, creia nas promessas da Palavra de Deus. Ela é que gera fé no seu coração. A Palavra de Deus é terapia para a sua alma. E remédio para o seu coração, combustível para alimentar os seus sonhos.
Quando Jesus foi ao encontro dos discípulos no mar da Galiléia, na quarta vigília da noite, antes de acalmar o mar, o Mestre acalmou o coração dos discípulos. As vezes, a tempestade que está dentro de nós é mais intensa do que a tempestade que está lá fora. Antes de Jesus mudar a situação, ele muda o nosso coração. Antes de fazer sossegar o mar, ele aquieta a nossa alma. A consciência da presença de Jesus acalma o nosso coração, ainda que o mar continue agitado. Ana tomou posse da promessa de Deus e voltou para casa curada da sua depressão, na confiança de que Deus já realizara o milagre em sua vida. A fé é a certeza de coisas e a convicção de fatos. A fé não é auto-sugestionamento, não é pensamento positivo, não é meditação transcendental. A fé tem um objeto — Deus; tem um fundamento — a promessa infalível da Palavra que não pode falhar.
3- Devemos voltar as trincheiras da luta
Ana parou de chorar, voltou a sorrir, começou a respirar o oxigênio da vida e caminhou na direção do milagre. Ela voltou para casa, coabitou com o seu marido e Deus abriu o seu ventre para conceber. Ana não apenas foi mãe do maior profeta daquela geração, como também, gerou outros três filhos e duas filhas (I Sm 2.21). A bênção de Deus foi muito além da sua expectativa.
É hora de você sair da caverna da depressão. É hora de sacudir a poeira, parar de chorar e voltar às trincheiras da vida. A vida é maravilhosa, é um presente de Deus, é um milagre diário do céu. Saboreie a vida com prazer. Não perca uma gota sequer dessa sublime aventura. Você tem valor. Você foi criado para ser um vencedor. Não desanime, não jogue a toalha, não entregue os pontos, não arreie as armas. O melhor está para acontecer. Com Deus o melhor está sempre por vir. Não caminhamos para o ocaso, mas para um glorioso alvorecer. O choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã. Não desista dos seus sonhos. A sua crise do hoje pode ser o limiar de um milagre amanhã.
Aos trinta e cinco anos de idade, Og Mandino estava financeiramente falido, abandonado pela mulher e pela filha, bêbado, caído numa sarjeta, pensando em suicidio.[13] Dez anos depois, estava no topo da fama mundial, escrevendo livros de encorajamento lidos no mundo inteiro, mostrando que não podemos desistir dos nossos sonhos.[14] No seu livro autobiográfico, ele dá um conselho prático para você valorizar a vida e ter otimismo para enfrentar as dificuldades. O conselho dele é o seguinte. Logo de manhã, você deve tomar nas mãos o melhor jornal da sua cidade para ler. Mas você não deve começar a leitura pelas notícias políticas, porque possivelmente isso o deprimirá ainda mais. Também, você não deve começar a leitura pelas notícias econômicas; talvez essas informações apenas lhe roubem o entusiasmo. Semelhantemente, você não deve começar a leitura pelas páginas policiais, pois talvez fique com medo de sair de casa. Outrossim, não deve iniciar pelas páginas esportivas, pois talvez seu time esteja em baixa e tenha sofrido uma goleada no último jogo. Og Mandino aconselha: você deve começar a leitura pela página do obituário. Sim, da lista das pessoas que morreram. Não salte nem um nome sequer. E quando você chegar ao final da leitura, descobrirá algo extraordinário: o seu nome não está naquela lista. E as pessoas ali arroladas dariam tudo para estar no seu lugar, mas estão mortas. Você está vivo e, se você está vivo, um milagre pode acontecer na sua vida hoje. Se você está vivo, seus sonhos podem ser realizados!
Conclusão
Esta palavra de encorajamento que você acaba de ler é um pedaço da minha vida e da minha história. Eu sou fruto de um sonho. Quando nasci, nos idos de 1958, no interior do Estado do Espírito Santo, minha família morava num lugar desprovido de recursos. Naquela época tudo era muito difícil no lugarejo que os meus pais viviam. Quando uma pessoa ficava doente, era levada de padiola23 para buscar tratamento há mais de 20 quilômetros de distância. Minha mãe estava grávida do seu último filho. Em estado adiantado de gravidez, ela ficou gravemente enferma. Estava à beira da morte, quando meu pai percebeu que ela não agüentaria uma viagem de padiola. Mandou um mensageiro ir à vila mais próxima buscar o farmacêutico. Ele chegou, examinou a minha mãe e disse: "Não tem jeito, ela vai morrer. O seu caso é muito grave." Meu pai, aflito, insistiu com ele para tratar de minha mãe. Ele então disse: "A única solução é sacrificar a criança que está no seu ventre. Se não tirar a criança, morre ela e o filho." Meu pai, atordoado pela dolorosa notícia, comunicou à minha mãe a opinião do farmacêutico. Ela, com determinação e fé disse: "Eu não abro mão da vida do meu filho. Estou pronta a dar a minha vida por ele. Estou pronta a morrer com ele." Naquele momento de dor, minha mãe fez um voto a Deus, dizendo: "Senhor, se tu poupares o meu filho, eu o consagrarei a ti para ser um pastor, um pregador da tua Palavra." Deus ouviu a oração de minha mãe.
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23 Um lençol amarrado a duas varas; maca.
Ela foi curada, e eu nasci com saúde. Fui criado na roça, trabalhando na lavoura. Contudo, desde cedo tive muita vontade de estudar. No lugar onde morava, todavia, ninguém ia além do primário. Minha querida professora, que me alfabetizou, mudou-se para Vitória, a capital do Espírito Santo e convidou-me para morar em sua casa. Com doze anos de idade, sem antes nunca ter dormido uma noite fora de casa, subi na carroceria de um caminhão e fui morar numa humilde casa, à beira de um mangue. Passei dificuldades, mas levei adiante os meus estudos.
Na verdade, eu tinha um sonho. Queria ser advogado e político. Não perdia um comício sequer. Gostava de ouvir os oradores. Ao completar os meus dezoito anos, tirei o meu título de eleitor e me filiei a um partido político. Todavia, aos dezenove anos, Deus colocou a sua mão sobre mim e chamou-me para o ministério. Deus mudou o curso da minha vida. Compreendi então que é mais importante realizar os sonhos de Deus do que os meus próprios sonhos.
Minha mãe faleceu em 1996, aos setenta e sete anos. Um ano antes de ir para o Senhor, ela me chamou e me contou essa história. Glorifiquei a Deus porque minha mãe não abriu mão do seu sonho. E por isso que você está lendo este livro. Hoje estou certo de que sou fruto de um sonho e que o mais importante na vida não é realizar os meus próprios sonhos, mas os sonhos de Deus, pois os sonhos de Deus são perfeitos e muito maiores do que os meus.
É tempo de sonhar grandes sonhos para Deus. É tempo de viver os sonhos de Deus. William Carey, o pai das missões modernas, declarou certa ocasião: "O tamanho do seu sonho determina o tamanho do seu Deus."24
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24 SILVA, Nélio da, Transformando fracasso em vitórias p.66.