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Pentecoste

Pentecoste

               

                                                                                                                                                                       PENTECOSTE

                                         O fogo que não se apaga

 

 

 Hernandes Dias Lopes 

 

 

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

 

 

 

Lopes, Hernandes Dias

Pentecostes : o fogo que não s apaga / Hernandes Dias Lopes.

— São Paulo: Editora Candeia, 1999.

 

 

1.  Espírito Santo  2.   Pentecostes  

3.   Reavivamento (Religião)   4 Vida cristã    I. Título.

 

99-4617                                                         CDD-248.4

 

 

 

Índices para catálogo sistemático:

1.   Avivamento espiritual e Espírito Santo : Vida cristã      248.4

2.   Espírito santo e avivamento espiritual : Vida cristã       248.4

 

 

ISBN 85-7352-085-X

 

Copyright © 1999 - Hernandes Dias Lopes

 

Coordenador de Produção: Mauro W. Terrengui

 

Revisão: Andréa Filatro

 

Fotolito, impressão e acabamento:

Associação Religiosa Imprensa da Fé

 

1a Edição: novembro 1999 - 3.000 exemplares

 

Publicado no Brasil com autorização e todos os direitos reservados pela Editora e Distribuidora Candeia

 

Rua Belarmino Cardoso de Andrade, 108

São Paulo, SP - 04809-270

 

Gostaríamos de saber sua opinião sobre este livro.

Escreva para a Editora Candeia

 

 

 Dedicatória

Dedico este livro a todos aqueles que, nesta pátria amada, têm buscado com sinceridade, diligência, ardor e fidelidade às Escrituras um genuíno avivamento, sem se deixar intimidar pela oposição de uns e sem perder o rumo pelo desvio de outros.

 

 

 

 

 

 

 

ÍNDICE

 

 

Prefácio

Introdução

Capítulo 1 - A necessidade de um Pentecoste

Capítulo 2 - As causas do Pentecoste

Capítulo 3 - 0 conteúdo do Pentecoste

Capítulo 4 - Resultados do Pentecoste

Conclusão

 

 

 

 

 

 

 

Prefácio

 

Quais são as razões pelas quais uma pessoa resolve ler um livro?

Ah! Meu amigo, existem tantas que, como diz o ditado, algumas até a própria razão desconhece. Contudo, tenho minhas suspeitas: al­guns escolhem pela capa atraente; outros, pelo assunto que o livro aborda; outros, mais pelo nome do autor; há daqueles que só lêem se houver a indicação de um amigo de confiança.

Eu, regra geral, escolho o que vou ler pelo autor e pelo assunto.

Quando recomendo a leitura deste livro, Pentecoste , o Fogo que Não se Apaga, estou entusiasmado com o assunto. Quem não gostaria de ver a sua igreja mais quentinha? Aquela igreja fervorosa, intercessora, evangelista, unida, missionária, generosa?... Como pre­cisamos de igrejas assim, não é?!

Pentecoste, o Fogo que Não se Apaga é um chamado ao despertamento espiritual individual e conseqüentemente comunitá­rio.

Vivemos dias de muitas alegrias, dores e tristezas no envangelicalismo brasileiro. É motivo de regozijo o crescimento sig­nificativo de alguns setores da igreja, mas dolorosamente observa­mos o decréscimo numérico de outros ramos da mesma igreja. Ao lado de tudo isso, temos sofrido o impacto de uma crescente onda de escândalos: adultérios, divórcios e separações tornaram-se uma roti­na até mesmo entre a liderança pastoral da igreja; reuniões de oração vazias; prósperas reuniões em busca de prosperidade; muito discurso e verborréia e pouca santificação; ataques malignos de morte desferi­dos contra pastores e famílias pastorais; líderes mais experientes opri­midos e fechando as portas para líderes mais novos e de coração apai­xonado; pastores e líderes leigos desanimados e sem muita esperança do refrigério e da visitação do Espírito Santo; o adversário desejando roubar, matar e destruir, em paralelo com certa apatia e imobilização do povo de Deus.

Pentecoste, o Fogo que Não se Apaga, é, pois, um livro para quem tem sede de Deus e não aceita ver sua vida espiritual e sua igreja local envoltas em marasmo e fraqueza.

Quando penso em escritores, lembro daqueles cujos livros sou assíduo comprador, independentemente do assunto sobre o qual es­crevem. Gosto do estilo e sempre procuro saber sobre o caráter e a vida do autor.

O rev. Hernandes Dias Lopes é dessas pessoas que todos os que desejam crescer em qualquer área da vida precisam ter por perto... seja como conselheiro, amigo, hóspede, hospedeiro, companheiro de viagem, escritor, conferencista ou pastor.

Ele crê no que escreve. Ele procura viver o que escreve. Ele é crente. E sério. É de coração bom. Ele é de Deus! Sua família é preci­osa, formosa, é bênção pura!

Portanto, meu caro leitor, você está em ótima companhia.

Anime-se!

Você começa nas páginas seguinte uma caminhada linda... e verá quão belos frutos aparecerão em sua vida.

 

Pr. Jeremias Pereira da Silva

Pastor Titular da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

 

 

 

 

 Introdução

 

Dois obstáculos se interpõem no caminho de um genuíno despertamento espiritual: o primeiro é a experiência mística, à parte da Bíblia, como normatização de vida; o segundo é a erudição teoló­gica sem a unção do Espírito Santo e sem piedade.

Muitos hoje correm atrás de experiências, prodígios e sinais. Buscam um calmante, um anestésico que alivie suas tensões do ago­ra. Comunidades inteiras são submetidas a catarses e extrojeções, em cultos de arrebatamento emocional, nos quais as pessoas decolam nas asas do histerismo coletivo e escapista e viajam pelos continentes da ignorância. Alguns até consultam a Bíblia, mas de forma equivo­cada, pois não contextualizam sua mensagem, não aplicam a exegese nem a estudam sob as leis da hermenêutica sagrada. Abrem-na a esmo, consultam-na como se fosse um livro mágico. Outros acham que a Bíblia tem poder exorcizante. Colocam-na aberta no Salmo 91, na cabeceira da cama, para espantar os maus espíritos e proteger o lar dos aleivosos perigos. Usam a Bíblia, mas não retêm a sua mensa­gem. Carregam a Bíblia, mas não discernem a voz de Deus. Escutam o som ruidoso que brota do coração, mas não ouvem a voz de Deus que emana da sua Palavra.

Outros, porém, examinam as Escrituras com os óculos do racionalismo, com as lentes da teologia liberal, e fazem uma leitura equivocada da Palavra de Deus. O liberalismo tem matado muitas igrejas. Onde ele chega, a igreja morre. Onde os homens tratam a Bíblia com descaso, negando sua inerrância e infalibilidade, a igreja estiola-se e perde seu vigor.

Neste tempo de confusão, apostasia e sincretismo, é preciso trabalhar de forma árdua para resgatar a centralidade da Bíblia. É preciso zelar pela erudição bíblica, sem deixar a piedade de lado. E preciso repudiar o fanatismo e o emocionalismo histérico, sem dei­xar de resistir de igual modo ao teologismo estéril. Esses dois extre­mos, embora façam muito barulho, não produzem resultados que dignificam o nome de Deus. São trovões sem chuva, folhas sem frutos, aparência sem realidade, entraves ao verdadeiro despertamento espiritual.

A igreja cristã precisa urgentemente de uma restauração. Ela não está causando impacto na sociedade. A igreja está perdendo sua autoridade. O que fazer? No final do século XVII e início do século XVIII, a igreja começou a sentir que estava perdendo sua autoridade. Decidiu então inaugurar uma nova série de preleções, com o objetivo de defender a fé cristã e produzir um sistema de argumentação e apologética na defesa da fé. Mas não foram as preleções de Boyle nem as obras de Butler que restabeleceram a posição da igreja e res­tauraram sua antiga autoridade; foi através do derramamento do Es­pírito Santo na vida de George Whitefield e John Wesley na Inglater­ra e de Jonathan Edwards na Nova Inglaterra. Um poderoso aviva-mento varreu a Inglaterra, arrancando dos escombros uma igreja sem vida. O que as preleções não puderam fazer, o Espírito Santo fez, usando homens cheios da Palavra e do Espírito Santo.

No início do século XIX a igreja sentiu mais uma vez a perda do poder. O que fazer? Conferiram mais autoridade ao pregador. Afas­taram-no das pessoas. Investiram-no de uma aura de autoridade. O pregador devia vestir-se de maneira diferente. Alçaram-no a um lu­gar mais elevado, o altar. Assim as pessoas o escutariam. Mas a mu­dança só veio quando o avivamento eclodiu na América em 1857 e no País de Gales em 1859. Foi Deus intervindo com o seu Espírito, e não as tentativas dos homens, que reergueram a igreja. Nesse tempo, os pregadores não mudaram suas mensagens, mas as mensagens mudaram o mundo. Seus sermões eram os mesmos, mas estavam vaza­dos pela unção do Espírito Santo e, por isso, milhares de vidas foram salvas. A igreja foi então sacudida, crentes foram despertados, peca­dos escondidos foram confessados e abandonados, vidas cativas fo­ram libertas, bares e lupanares foram fechados, cassinos tiveram as portas cerradas, enquanto abriram-se igrejas, o amor por Deus reacendeu nos corações, a avidez pelo estudo da Bíblia revigorou os crentes, doce e profunda comunhão estreitou os laços entre os filhos de Deus, e a igreja apática e sem poder tornou-se gigante, valorosa e impactante.

Não se pode fazer um avivamento. Ele é obra do céu. É obra do Espírito Santo. Neste livro vamos estudar sobre o Pentecoste, sobre o derramamento do Espírito, suas causas, seu conteúdo, seus resulta­dos. Estou certo de que Deus quer incendiar o seu coração com o fogo do Espírito. Espero que as páginas que se seguem sejam combustível para acender e alimentar essas labaredas em sua vida!

 

 

 Capítulo 1

 

A NECESSIDADE DE UM PENTECOSTE

 

O dr. John Stott, considerado um dos maiores exegetas bíblicos do século XX, disse que "antes de mandar a igreja para o mundo, Cristo mandou o Espírito para a igreja. A mesma ordem precisa ser observada hoje". Não há missão sem capacitação. Não há pregação sem poder. Não há avivamento sem derramamento do Espírito.

Leonard Havenhill, em seu livro Por que Tarda o Pleno Avivamento?, conta a experiência de um pastor que pregou uma tabuleta na porta da sua igreja: "Esta igreja passará por um avivamento ou por um sepultamento". Visitei na Europa, nos Estados Unidos e no Cana­dá muitas igrejas históricas que tiveram um passado cheio de vigor e hoje são consideradas igrejas mortas. Têm templo, têm orçamento, têm estrutura, mas não têm vida.

Mas é possível a igreja experimentar hoje um novo derrama­mento do Espírito Santo? Precisamos, de início, entender que o Pentecoste no seu sentido pleno é irrepetível. O Espírito Santo foi derramado para permanecer para sempre com a igreja. Ele é o outro Consolador que estará para sempre conosco. Agora, todos os outros avivamentos decorrem daquele que aconteceu em Jerusalém nos pri­meiros tempos. Nesse sentido, não há mais Pentecoste. Todavia, a promessa de novos derramamentos do Espírito para despertar a igreja é uma promessa viva à qual devemos agarrar-nos. É nesse sentido que vamos usar o termo Pentecoste. O apóstolo Pedro disse naquele dia memorável: "... e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar" (At 2.38-39).

Ao longo da história, Deus visitou o seu povo, irrompendo com grande poder e trazendo à igreja tempos de refrigério, através do der­ramamento do seu Espírito. Foi assim entre os valdenses, na França, no século XII. Foi assim na Reforma do século XVI, quando o Espí­rito de Deus soprou com grande poder na Europa, usando homens como Lutero, Zwinglio, Knox e Calvino. Deus voltou a visitar a igre­ja com grande poder no século XVII, levantando sobretudo na Ingla­terra os puritanos, uma das gerações mais santas e cultas da história da igreja. No século XVIII, as janelas dos céus se abriram em copioso derramamento do Espírito na Inglaterra, no País de Gales e na Nova Inglaterra. No século XIX, Deus enviou a chuva torrencial do seu Espírito em grandes avivamentos nos Estados Unidos, na Escó­cia, na Inglaterra e na Irlanda do Norte. No século XX, Deus tem feito maravilhas, desde o grande avivamento do País de Gales, em 1904, com Evan Roberts; o grande avivamento nas Ilhas Novas Hébridas, em 1946, com Duncan Campbell; o avivamento entre os zulus, na África do Sul, em 1966, com Erlo Stegen; e o grande despertamento na Coréia do Sul, desde 1907, quando o vento do Es­pírito começou a soprar com grande poder, levando aquela igreja a um colossal crescimento até os dias de hoje.

Temos base, portanto, para buscar e esperar um Pentecoste, ou seja, um derramamento do Espírito nestes dias.

 

Por que o pentecoste é necessário hoje?

 

1. Por causa do baixo nível espiritual do povo de Deus

A igreja via de regra tem crescido para os lados, mas não para cima nem em profundidade. Ela tem sido muitas vezes superficial, rasa, imatura e mundana. Tem extensão, mas não profundidade. Tem números, mas não vida. É grande, mas não causa impacto. Ela cres­ce, mas não amadurece. Tem quantidade, mas não qualidade. É como a igreja de Sardes: tem nome de que vive, mas está morta (Ap 3.1). Há um vácuo, um hiato, um abismo entre o que os crentes professam e o que vivem, entre o que falam e o que fazem. A integridade e a santidade não têm sido mais o apanágio da vida de muitos crentes. Eles estão caindo nos mesmos pecados vis que condenam nos ímpios.

Não raro, a igreja é mais comentada hoje por seus escândalos do que pelo impacto de seu inconformismo com o mundo. A maioria dos cristãos adota um cristianismo desfigurado, no qual a verdade é ultrajada, a Palavra é relativizada e os valores absolutos de Deus são pisoteados. O Evangelho que muitos pregam hoje é um sincretismo semi-pagão. Estamos assistindo à comercialização indiscriminada e descarada do sagrado. Muitos pregadores abraçaram um semi-Evangelho, um Evangelho sem cruz, sem verdade, sem absolutos. Esses pregoeiros não se importam com a verdade, estão mais interessados no lucro. Não buscam o que é certo, mas o que dá certo. Não buscam o que é ético, mas o que funciona. Essa atitude inconseqüente de pregar um evangelho misturado com heresias, para satisfazer a ga­nância insaciável do lucro fácil, tem gerado crentes fracos, doentes e superficiais, e causado mais escândalo que impacto positivo na soci­edade. A igreja perdeu sua vez e sua voz. Ela se impõe não pela força espiritual, mas pelo seu potencial de barganha. Ela perdeu a autori­dade para falar em nome de Deus, pois o evangelho que ela prega é outro evangelho. Estamos vivendo o doloroso período de uma igreja apóstata. Vibrante, sim; mas, sem a vida de Deus. Rica, sim, diante dos homens; mas, diante de Deus, pobre, cega e nua.

Quando a sã teologia é abandonada, a conduta entra em colap­so. A teologia é mãe da ética. A teologia determina a ética. O homem é resultado da sua fé. Como ele crê no seu coração, assim ele é. Antes da vida vem a doutrina. A doutrina determina a qualidade de vida. Não há santidade fora da verdade. Não há cristianismo autêntico se na sua base não está a Palavra de Deus. Uma igreja apóstata não pode gerar crentes genuínos. Uma igreja em crise espiritual gera crentes trôpegos e doentes.

Estamos vendo, por isso, que a cada dia o mundo está entrando mais para dentro da igreja. A igreja tem mais assimilado que influen­ciado o mundo. Ela se conforma mais com o mundo do que produz nele impacto. A glória de Deus não está mais sobre a tenda da igreja. A igreja se contorce com as dores de parto para dar à luz a seu filho

Icabode. O brilho do rosto de Deus não mais tem resplandecido na vida da igreja, que perdeu a sede de Deus para buscar avidamente as bênçãos de Deus. Deus se tornou para ela apenas um abençoador, e não o Senhor. O homem é o centro, e não Deus. O que se busca é que a vontade do homem se faça no céu, e não que a vontade de Deus se estabeleça na terra. O homem hoje busca não a face de Deus, mas o lucro. Ele vai à igreja não para adorar, para oferecer algo a Deus, mas para buscar uma bênção. A sua lei é a da sanguessuga: me dá, me dá. O homem invoca a Deus não porque tem sede de Deus, mas por aqui­lo que pode dele receber. Ele entrega o dízimo não porque tem prazer na fidelidade, mas pelo retorno que isso pode representar. O homem assim serve não a Deus, mas a Mamon.

Há também aqueles que, à semelhança dos crentes de Efeso, são ortodoxos, mas perderam o calor espiritual, abandonaram o primeiro amor. Guardam doutrinas certas na cabeça, mas são gelados na vida espiritual. São ortodoxos de cabeça e hereges de conduta. São zelosos em observar os rituais, mas condescendentes ao pecado. São observa­dores externos dos preceitos de Deus, mas cheios de podridão por den­tro. Vão à igreja, mas não entram na presença de Deus. Cantam hinos, mas não adoram a Deus. Fazem longas orações, mas desconhecem a glória de entrar no Santo dos Santos da intimidade com o Senhor. Jejuam, mas não se humilham na presença do Todo-poderoso. Não têm temor de Deus no coração. Acostumaram-se com o sagrado, já não sentem mais deleite na Palavra nem alegria na vida de oração, perde­ram a visão da obra de Deus, por isso já não têm mais paixão pelas almas. Vivem um cristianismo árido, estéril, apenas de fachada e apa­rência.

A conseqüência natural dessa fé trôpega é uma vida mundana, imiscuída com o pecado, mancomunada com o que é vil. Os crentes de hoje, não raro, são pouco diferentes das pessoas do mundo: o na­moro é igualmente licencioso e lascivo, os negócios são igualmente enrolados. Falta integridade nos compromissos e verdade nas pala­vras. Há crentes que são cativos de vícios degradantes e, para manter as aparências, colocam máscaras e cometem assim duplo erro: o de pecar e o de tentar esconder o pecado. A qualidade da vida moral do povo evangélico hoje está muito aquém daquilo que Deus estabelece em sua Palavra. Não adianta racionalizar, criando motivos para justi­ficar o pecado. Deus pesa os corações. Ele sonda os filhos dos ho­mens. Diante dele a luz e as trevas são a mesma coisa. Ninguém esca­pa do escrutínio de Deus. Seus olhos oniscientes devassam todas as máscaras que usamos. Diante de Deus não adianta disfarçar. Ele re­quer a verdade no íntimo. Ele não se satisfaz com a aparência. Ele não se contenta com folhas; Ele busca os frutos.

Antes de falar do derramamento do espírito, o profeta Joel con­vocou a nação de Israel a se voltar para Deus. Antes do Pentecoste, o pecado precisa ser tratado. Antes de os céus se abrirem, o povo preci­sa acertar sua vida com Deus. Antes do derramamento do Espírito, o caminho para Deus precisa ser preparado. E Joel (2.12-16, 28) diz que essa volta precisa ser: a) profunda - ou seja, de todo o coração. Não adianta fingir. Não adianta tocar trombeta. Deus não se impressi­ona com a majestade dos nossos gestos e com a eloqüência das nos­sas palavras. Ele não aceita promessas vazias, votos tolos, compro­missos pela metade; b) com quebrantamento - ou seja, com lágri­mas e pranto. Deus não despreza o coração quebrantado. As lágrimas de arrependimento não são esquecidas por Deus. Os que choram por seus pecados são bem-aventurados. É impossível ser cheio do Espíri­to sem antes esvaziar-se de todo o entulho que entope a nossa vida. Essa faxina é dolorosa, mas precisa ser feita, ainda que com lágrimas; c) com diligência - ou seja, com jejum. Precisamos jejuar para que Deus dobre o nosso coração e o torne sensível. Precisamos jejuar para que Deus nos dê percepção da malignidade do nosso pecado e da pureza da santidade divina. Precisamos jejuar para que todas as des­culpas que arranjamos para não nos voltarmos a Deus caiam por ter­ra; d) com sinceridade - ou seja, rasgando o nosso coração. No pas­sado, as pessoas tinham o hábito de rasgar as vestes na hora do deses­pero. Deus, contudo, não se contenta com atos exteriores. Ele não se satisfaz com teatralização. Diante dele não adianta empostar a voz, gritar, gesticular, pois esses gestos não o impressionam. Ele quer um coração rasgado, sincero, autêntico, determinado a voltar-se para ele. Quando a trombeta soou, o povo foi convocado a voltar-se para Deus, do sacerdote à criança de peito, e houve restauração e perdão. Como resultado, veio a gloriosa promessa: "... e acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne" (Jl 2.28). Veja que o der­ramamento do Espírito vem depois e não antes do acerto de vida com Deus. Buscar avivamento sem antes tratar do pecado é leviandade, pois é querer que Deus compactue com o erro. É preciso preparar o caminho para que Deus se manifeste.

Hoje, tristemente, precisamos admitir que a igreja está doente e fraca por causa do pecado. Falta vida aos cultos. Onde não há since­ridade, não há adoração digna de Deus. Onde não há santidade, não há comunhão com Deus. Deus estava cansado do culto do povo de Judá, porque as mãos do povo estavam cheias de sangue. Eles multi­plicavam suas orações na mesma medida que aumentavam suas trans­gressões (Is 1.15). O profeta Amos chegou a dizer que Deus estava cansado de ouvir as músicas religiosas do seu povo e não suportava mais o tanger de seus instrumentos (Am 5.23), porque o povo tinha culto, mas não tinha vida. O profeta Malaquias vai mais longe ao falar em nome de Deus, recomendando que se fechasse a porta da igreja, a fim de que as pessoas não acendessem o fogo no altar inutil­mente (Ml 1.10). Isso porque elas estavam desonrando a Deus e colo­cando no seu altar animais doentes, cegos, dilacerados, ou seja, o resto, a sobra, não as primícias. Há hoje muitos cultos frios, cadavéricos, sem pulsação, sem o latejar da vida. Há outros cultos que, caindo para o extremo oposto, são uma apresentação teatral, um show, no qual as pessoas prestam um culto do homem para o homem. O que conta é o desempenho e o poder de manipulação de massa do dirigen­te. Há ocasiões em que o culto se torna um balcão de negócios onde se comercializa o sagrado, onde se loteia o céu e se vende a graça de Deus por dinheiro, onde se fala em nome de Deus e se fazem promes­sas em nome de Deus que ele nunca fez em sua Palavra. Sim, tudo isso mostra o baixo nível espiritual do povo de Deus e impõe para nós a necessidade imperativa de um Pentecoste!

 

2. Porque a igreja está trancada dentro de quatro paredes

No Evangelho segundo João 20.19,21,22 encontramos os dis­cípulos reunidos com as portas trancadas, com medo dos judeus. Eles estavam acuados, acovardados, paralisados e sem nenhuma ousadia para sair pelas ruas. Haviam perdido a coragem para testemunhar.

Não queriam assumir os riscos do discipulado. Eles não tiveram co­ragem de assumir que eram de Jesus. Intimidaram-se diante das pres­sões e da perseguição iminente. Arriaram as armas; enfiaram-se na caverna; enjaularam-se no cenáculo. Eles se encolheram sob o manto do medo.

Esse é um retrato da igreja hoje. Muitas igrejas têm conteúdo, mas lhes falta ousadia. São ortodoxas, mas não têm paixão pelas al­mas. Têm conhecimento, mas não têm ardor evangelístico. Têm pro­grama e organização, mas não saem das quatro paredes. Outras igre­jas têm conteúdo, boa teologia e excelente música, mas toda a sua atividade é voltada para dentro. Elas não transpiram, não reverberam sua influência para o mundo. São verdadeiros guetos. São sal no sa­leiro. Nada fazem e pouca ou nenhuma influência exercem na socie­dade em que estão inseridas.

Noventa por cento das atividades da maioria das igrejas desti­nam-se à própria igreja. São igrejas enroscadas e sufocadas pelo pró­prio cordão umbilical; igrejas narcisistas, igrejas com a síndrome do mar Morto, que só recebem, só engordam; igrejas que alumiam a si mesmas e sonegam a sua luz para o mundo, deixando-o em densas trevas. E, ao contrário da mulher da parábola da moeda perdida, essas igrejas, em vez de buscar a moeda que se perdeu, passam o tempo todo polindo as moedas que têm nas mãos. Realizam conferências, congressos, encontros, palestras e seminários apenas para polir moe­das. Os crentes dessas igrejas reciclam-se em todos os congressos, participam de conferências missionárias a mil quilômetros de distân­cia. São capazes de sair de casa mil vezes para ir ao templo, mas não têm coragem de atravessar a rua e falar de Jesus para o vizinho. São igrejas tímidas para investir na salvação dos perdidos. Pescam sem­pre em águas rasas e jamais lançam as redes em alto-mar. Os poucos peixes que pegam tornam-se peixes combatentes que exaurem suas forças guerreando com outros peixes, numa luta titânica de aquário.

Quando olhamos para o texto de João 20.19-22, descobrimos quatro razões pelas quais a igreja estava trancada dentro de quatro paredes: 1. Medo - Alguns crentes têm medo das críticas, medo do preconceito, medo da perseguição, medo de ser zombados, medo de assumir que são de Jesus. Por isso, acovardam-se como Pedro. Mesmo assim, são crentes cheios de uma autoconfiança arrogante. Têm alto conceito de si mesmos. Julgam os outros e supervalorizam a si mesmos. Como Pedro, começam a seguir a Jesus de longe. Não têm coragem de abandonar a fé nem disposição de ir de vez para o mundo, mas também não têm fibra para andar perto de Jesus. Andam esgueirando-se na penumbra. Mergulham em caminhos cheios de escuri­dão. São discípulos covardes. Como Pedro, também se unem a com­panhias que são um tropeço para a fé. Começam a se juntar a gente que escarnece e zomba de Jesus. Finalmente, como Pedro, negam a Jesus. Juram que não o conhecem e até praguejam, falando impropé­rios e negando todo o seu envolvimento com o Senhor da vida. Sim, há muitos que, por medo, preferiram ficar enquartelados dentro do templo a vida inteira, no conforto do ninho, vivendo um cristianismo de estufa, apenas tomando mamadeira e engordando, fazendo da igreja um berçário e orfanato, não um exército equipado para sair pelo mun­do anunciando a salvação em Cristo. 2. Ausência da centralidade de Jesus na vida - Eles estavam com medo porque Jesus estava au­sente naquela reunião. Como Jesus não estava presente, as portas es­tavam trancadas. Aquilo era uma antítese de todo o ministério terreno de Jesus. Jesus nunca ficou encastelado dentro do templo, empoleirado numa cátedra. Seu ministério foi itinerante, foi na rua, nas cidades, nas casas, nas estradas. Jesus ia ao encontro das multidões. Onde es­tava o pecador, aí estava o campo missionário de Jesus. Hoje quere­mos inverter as coisas. Queremos apenas que os pecadores venham à igreja, mas a igreja não quer ir ao mundo, onde os pecadores estão. A igreja não quer sair do ninho. Não quer o desconforto de descer aos vales, onde as pessoas padecem os tormentos de uma vida sem Deus e sem esperança. Quando Jesus, porém, se faz presente na igreja, ela se torna ousada. Ela sai das quatro paredes. Deixa de ser auto-satisfeita como a igreja de Laodicéia, que se considerava abastada e rica, mas era miserável, porque Jesus não estava dentro dela. 3. Ausência de comu­nhão - Aquele grupo amontoado no cenáculo estava em grande confli­to. Alguns talvez nem ousassem levantar os olhos por causa da vergo­nha de terem fugido na hora em que Jesus foi preso no Getsêmani. Talvez estivessem ruminando a erva amarga de suas fraquezas e mazelas. Talvez estivessem culpando a si mesmos e uns aos outros pelo fracasso de fugir escandalizados com Cristo na hora de seu suplício horrendo. Uma igreja sem comunhão não tem vez nem voz. Não tem autoridade para pregar. Não tem credibilidade para anunciar boas no­vas. Uma igreja sem comunhão está doente, precisa de cura, por isso está inapta para sair das quatro paredes. 4. Ausência do sopro do Espí­rito - Aqueles discípulos estavam sem paz, sem alegria, sem ousadia, sem unção. Estavam secos, murchos, vazios. Estavam amontoados, mas não tinham comunhão. Estavam congregados, mas Jesus estava ausen­te. Estavam juntos, mas com medo. Eram uma comunidade cristã, mas sem o sopro do Espírito, por isso estavam trancados, com medo dos judeus. Quando perdemos o sopro do Espírito, tornamo-nos crentes medrosos. Quando a igreja deixa de ser irrigada pelo óleo do Espírito, ela mingua, murcha, se encolhe. Quando falta óleo na engrenagem, a máquina bate pino. Quando a igreja perde a plenitude do Espírito San­to, intimida-se e fecha-se entre quatro paredes. Não há avivamento intramuros. Avivamento que não leva a igreja a transpirar, a sair do seu comodismo, não é avivamento bíblico. Avivamento que não empurra a igreja para fora do ninho é apenas um movimento superficial de conse­qüências miúdas. A Bíblia fala que, quando Paulo chegou a Tessalônica, a mensagem do Evangelho vazou pelos poros da igreja e alcançou todo o mundo. Quando Paulo chegou a Éfeso, a partir dali, o Evangelho irradiou-se por toda a Ásia Menor. Sempre que Deus visitou o seu povo em poderosos derramamentos do Espírito, a igreja avançou para con­quistar os perdidos lá fora, no mundo, onde eles estavam. Eis por que precisamos de um Pentecoste nestes dias, para tirar a igreja detrás dos muros de concreto e levá-la para as ruas, para as praças, para o meio da multidão, a fim de ser sal, luz e portadora de boas novas de salvação.

 

3. Porque fogo estranho tem substituído o fogo do Espírito

Há hoje muita heresia no mercado da fé. As prateleiras religio­sas estão abarrotadas de muitos produtos belamente embalados para atrair os gostos variados da freguesia. Há muita religiosidade que, embora pareça atraente e convincente, não passa de fogo estranho no altar de Deus. O fogo estranho é aquele que não vem do céu, é fabri­cado pelo homem. Não vem como resposta e favor de Deus, mas é produzido artificialmente pelo homem para impressionar, como se tivesse o selo divino. O fogo estranho é aquele criado fora dos princí­pios das Escrituras. Ele é muito parecido com o fogo verdadeiro. Ele impressiona as pessoas. Ele atrai muitos curiosos.

Nunca na história houve uma explosão tão grande de fogo es­tranho como no tempo em que vivemos. A humanidade está ávida por novidades. Tudo o que oferece resposta imediata à sua necessida­de, o homem está buscando. Caímos na malha de um pragmatismo demoníaco. As pessoas hoje não estão interessadas na verdade, mas naquilo que funciona. Elas não buscam o que é certo, mas o que dá certo. Não se interessam pela integridade, mas por resultados. Não buscam caráter, mas carisma. Não querem santidade, mas sinais. Não são atraídas pela cruz, mas por milagres. Não buscam negar-se a si mesmas e cada dia tomar a cruz e seguir Jesus, mas correm atrás de um falso anestésico que lhes acalme a dor do agora. Não buscam com agonia de alma o arrependimento, mas o conforto. Não se interessam em mudar de vida, estão atrás de lucro. Não buscam a cidade cujo arquiteto e fundador é Deus, querem impérios neste mundo mesmo. Não se importam com o fogo do inferno, desde que consigam apagar as chamas do sofrimento que lhes incomoda agora.

Estamos vendo, com tristeza e pesar, muitas pessoas dando ao povo um caldo venenoso em vez do verdadeiro cereal do céu. Há morte na panela. Há fogo estranho no altar. Muitos são atraídos por toda a sorte de novidades que aparecem em nome de fogo divino. Alguns lí­deres religiosos se tornaram verdadeiros mágicos na fabricação de fogo fátuo. Conseguem fazer verdadeiros malabarismos pirotécnicos para impressionar os incautos, guiando as pessoas cegas pelas veredas es­corregadias de uma subjetividade enganadora, sem o referencial segu­ro das Escrituras. Outros líderes negociam milagres, voltando à prática medieval das indulgências, em que a salvação se comprava com di­nheiro. Há líderes que se especializam em apelos sentimentalistas, fa­zendo promessas enganadoras ao povo em nome de Deus, para arran­car polpudas somas de dinheiro, para engordar os cofres famintos de uma casta inescrupulosa. Existem muitos mercenários travestidos de pastores, empoleirados no púlpito, com a Bíblia aberta, blasonando uma verborragia sedutora, pregando outro evangelho, fazendo milagres, expulsando demônios, profetizando, mas ao mesmo tempo vivendo na iniqüidade, dominados por uma ganância insaciável, acendendo fogo estranho no altar. Há igrejas chamadas evangélicas que estão criando um verdadeiro sincretismo religioso, trazendo à tona um evangelho mágico, imiscuído com práticas pagas, encorajando os fiéis a colocar um copo de água sobre o rádio, a comprar rosas ungidas, lenços santificados, óleo de Israel e água benta do Jordão. Tudo isso não passa de outro evangelho, um anti-Evangelho, fogo estranho no altar.

Mas o que devemos fazer diante desta triste constatação? Ape­nas lamentar? Apenas lançar torpedos de condenação a essas práticas condenáveis? Apenas alertar o povo sobre os perigos dos falsos mes­tres? Muito mais que isso, precisamos buscar o fogo verdadeiro. Fogo combate fogo. A melhor maneira de cercar o fogo é com fogo. Só o fogo autêntico pode apagar o fogo falso. Só o fogo do céu pode fazer morrer as chamas do fogo estranho. Deus sempre se manifestou atra­vés do fogo. Quando Deus apareceu a Moisés no Sinai, revelou-se através do fogo. No Monte Carmelo, Deus destronou a credibilidade do abominável Baal, mandando fogo do céu. Quando Salomão con­sagrou o templo, o fogo de Deus invadiu o santuário. No Pentecoste, o Espírito desceu sobre os discípulos em chamas como de fogo. Deus é fogo consumidor. O trono de Deus é fogo. A Palavra de Deus é fogo. Ele faz dos seus ministros labaredas de fogo. Jesus batiza com fogo. Sempre foi desejo de Jesus lançar fogo sobre a terra: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder" (Lc 12.49).

Quando a igreja perde o fogo do Espírito, o mundo perece no fogo do inferno. O Espírito Santo é poder. O Espírito Santo traz po­der. Poder é dinamis. E dinamite só explode com fogo. Quando a dinamite explode, até pedra se quebra. O fogo de Deus lança luz so­bre as trevas. O fogo de Deus aquece os que estão frios. O fogo de Deus queima o entulho do pecado e purifica aqueles que armazenam lixo no porão da memória e no sacrário da alma. O fogo de Deus não pode ser contido; ele alastra, salta obstáculos, desconhece dificulda­des. O fogo de Deus não pode deixar de ser percebido. Onde ele está, as pessoas notam. O fogo de Deus atrai. Onde suas labaredas se le­vantam, é para lá que as pessoas correm. O fogo de Deus não pode ser fabricado nem produzido artificialmente. E resultado de uma vida no altar, de uma busca sincera, de uma consagração verdadeira, de uma entrega sem reservas de almas que suspiram pelo Altíssimo. Precisa­mos de um Pentecoste que apague o fogo estranho e acenda verdadei­ras labaredas do Espírito nos corações. Oh, o grande soluço de minha alma, o grande grito do meu coração, é que eu possa ser um graveto seco a pegar fogo, pois estou certo de que, se o fogo pegar na lenha seca, até a lenha verde começará a arder!

 

 

Capítulo 2

 

AS CAUSAS DO PENTECOSTE

 

Queremos arrolar algumas causas fundamentais que desaguaram nesse copioso e torrencial derramamento do Espírito, marcando de uma vez para sempre o início da igreja cristã e servindo de referencial para outros derramamentos dele procedentes.

 

1. Cumprimento da promessa do Pai - Lucas 24.49

O Pentecoste é o cumprimento de profecias claras e incon­fundíveis. O Deus fiel, que não pode negar a si mesmo e que vela pelo cumprimento de sua Palavra, prometeu derramar do seu Espí­rito sobre toda a carne (Jl 2.28). Obviamente não se está falando quantitativamente em "toda a carne", mas qualitativamente. O Pentecoste transpôs a barreira sexual, pois o Espírito foi derramado sobre filhos e filhas, homens e mulheres. Deus devolveu à mulher sua dignidade original. O Pentecoste quebra a barreira do precon­ceito etário: o Espírito desceu sobre jovens e velhos. Não há idade sagrada nem há idade problemática. Todos podem experimentar a vida abundante de Deus. O velho pode ter ideais e sonhos, e o jo­vem pode ter visões e discernimento. O Pentecoste rompe o precon­ceito social, pois o Espírito foi derramado sobre servos e servas. Não há aristocracia espiritual. Não há dinastia sagrada. Não há estratificação social no Reino de Deus. Até mesmo os mais simples e humildes são contemplados com a qualidade superlativa da vida cheia do Espírito.

Em Isaías 44.3 Deus prometeu derramar água sobre o sedento, torrentes sobre a terra seca e o Espírito sobre os descendentes de Abraão. A promessa de Deus é segura, porque em todas as suas promessas te­mos o sim e o amém. A promessa é abundante, porque ele não fala de gotas, nem de filetes, nem de porções, mas do derramar de torrentes. Deus não nos dá o seu Espírito por medida. A todos os sedentos, a todos os que anseiam com avidez, como a corça brama pelas correntes das águas, o Pentecoste, o derramamento do Espírito, é uma promessa possível.

 

2. Resultado de uma espera obediente - Lucas 24.49

"...ficai em Jerusalém...". A ordem de Jesus estava dada e não podia ser mudada, adiada ou desobedecida. Os discípulos deviam permanecer em Jerusalém. Talvez o último lugar que gostariam de ficar fosse a cidade de Jerusalém, que significava fracasso e queda na vida deles. Jerusalém representava vergonha e opróbrio na história deles. Ali suas expectativas e sonhos foram sepultados. Ali um es­pectro de dor se apoderou da alma deles. Mas Jesus mostra que o cenário do fracasso deve ser o lugar da restauração.

Onde há obediência, há bênção; onde a palavra de Jesus não é levada a sério, há maldição. Obedecer é melhor que sacrificar. Aque­le não era tempo de sair, era tempo de ficar. Aquele não era momento de fazer missão, mas de introspecção. Há ocasiões em que o que Deus espera de nós não é atividade, mas auto-avaliação. Deus está mais interessado no que somos que naquilo que fazemos. A nossa vida é mais importante que o nosso trabalho. Quando Jesus chamou os após­tolos, antes de enviá-los a pregar e a expulsar demônios, designou-os para que estivessem com ele. Agora, antes de derramar sobre eles o Espírito, capacitando-os para o cumprimento da missão, ordena-os a ficar em Jerusalém.

Precisamos depender mais dos recursos de Deus do que das nossas estratégias. Se gastássemos em oração o tempo que inves­timos em reuniões e programações intérminas, a igreja explodiria em crescimento fenomenal. Para nós, ficar quietos na presença de Deus é mais difícil do que correr de um lado para o outro. É mais fácil ser Marta do que Maria. É mais fácil sair em campo do que depender do Senhor, obedecer à sua Palavra e descansar nas suas promessas.

Lendo um dos manuais de crescimento da Igreja do Evangelho Pleno em Seul, pastoreada pelo dr. David Yong Cho, fiquei impressi­onado com o gigantismo do seu ministério. A igreja, que começou em 1958, conta hoje com 700 mil membros. É a maior igreja local do mundo. Tem 700 pastores auxiliares, 30 mil grupos familiares, 7 cul­tos a cada domingo com 50 mil pessoas cada. Além da complexidade de uma igreja tão grande, ainda dispõe de várias emissoras de televi­são, dezenas de emissoras de rádio e um jornal com 700 funcionários e tiragem diária de 1 milhão de exemplares. Fiquei impressionado ao conhecer essa igreja. Imediatamente comecei a meditar sobre a agen­da do pastor titular dessa igreja. Como ele administra o seu tempo? Fiquei emocionado e comovido ao ler que ele gasta apenas 30% do seu tempo administrando toda essa máquina e 70% orando, lendo a Palavra e preparando o sermão de domingo. Estar com Jesus, ficar na presença de Deus, é a grande prioridade do seu ministério. Certa fei­ta, o presidente da Coréia do Sul telefonou para o seu gabinete. A secretária disse-lhe que o pastor não poderia atendê-lo porque estava orando. O presidente insistiu em falar, dizendo à secretária que era o presidente e o assunto requeria prioridade. Ela delicadamente comu­nicou ao presidente que o pastor não o atenderia naquele momento, porque estava orando. Mais tarde o presidente ligou para o pastor e reclamou não ter sido atendido prontamente como a maior autorida­de do país. O pastor respondeu-lhe que não podia atendê-lo porque estava em audiência com o soberano do universo, o Senhor Jesus Cristo.

 

3. Resultado de uma espera perseverante - Lucas 24.49

"... ficai... até que do alto sejais revestidos de poder...". Muitas vezes, deixamos de receber uma efusão e um derramar do Espírito de Deus em nossa vida, porque somos muito apressados e superficiais na nossa busca. Desistimos cedo demais. Nosso amor por Deus é como a névoa que cedo passa. Vivemos num tempo em que predomina o descartável. Tudo precisa ser rápido. Não desenvolvemos a perseve­rança. Não agüentamos esperar.

Aquele grupo dos 120 discípulos perseverou em oração duran­te 10 dias. Eles não arredaram o pé. Não olharam para trás com incre­dulidade. Não duvidaram da promessa. Por isso, receberam a bênção. Os céus se abriram e o fogo de Deus caiu sobre eles. As torrentes do céu inundaram o coração deles. A vida deles foi tocada e transforma­da para sempre por causa dessa espera perseverante.

Depois de triunfar sobre os profetas de Baal no Carmelo, de­pois de ver o fogo de Deus cair sobre o holocausto e o povo cair de joelhos, proclamando que só o Senhor é Deus, depois de testemunhar o triunfo de Deus sobre os ídolos abomináveis que escravizavam a Israel, Elias subiu ao cume do monte. Lá meteu a cabeça entre os joelhos. Clamou a Deus pelo derramamento das chuvas. Havia três anos e meio que não chovia sobre a terra. Reinava a fome. A calami­dade era geral. Elias, mesmo sendo um homem semelhante a nós, perseverou na oração. Clamou a Deus com insistência. Na sétima vez, viu um pequeno sinal, uma nuvem do tamanho da palma de uma mão e creu que Deus mandaria uma chuva torrencial. A chuva caiu. A terra floresceu e frutificou, porque Elias perseverou em buscar a Deus.

Naamã, comandante do exército da Síria, só foi curado de sua lepra quando deixou de lado sua própria metodologia e resolveu obe­decer à ordem do profeta Eliseu, mergulhando no rio Jordão sete vezes. Se ele tivesse desistido na sexta vez, teria voltado para a Síria leproso. Importa perseverar. Perseverar é obedecer.

Muitas vezes, começamos uma reunião de oração com entusi­asmo, mas logo desanimamos. Pregamos sobre avivamento, mas logo deixamos de lado o assunto. Colocamos a mão no arado, mas logo olhamos para trás. Visitei a Missão Kwa Sizabantu, na África do Sul, em 1991, e li também sobre a história do grande avivamento que Deus deu ao povo zulu em 1966 pela instrumentalidade do pastor Erlo Stegen. Foram 14 anos de busca. Muitas vezes eles foram tenta­dos a desistir. Houve tempos de desânimo, mas eles prosseguiram. Nos três meses que antecederam a chegada do avivamento, eles só conseguiam chorar em suas reuniões de oração, três vezes ao dia. Mas como a terra estava seca e os corações estavam sedentos, perma­necendo na busca, Deus enviou sobre eles torrentes caudalosas do Espírito com resultados colossais que pudemos ver e ouvir.

 

4. Resultado da expectativa de uma vida cheia de poder - Lucas 24.49

"... até que do alto sejais revestidos de poder." O que você espe­ra da sua vida cristã? Você tem anseios? Aspira a algo maior? Busca uma vida abundante? Anela com todas as forças da sua alma a pleni­tude do Espírito? Não há nada mais perigoso para o cristão do que viver satisfeito consigo mesmo. A estagnação e o conformismo são perigos ameaçadores à vida cristã saudável.

Muitas pessoas se contentam com migalhas, enquanto os celei­ros de Deus estão abarrotados. Os mananciais de Deus são inesgotá­veis. Os recursos de Deus para nós são ilimitados. Ele tem para nós vida abundante. Os rios de água viva podem fluir do nosso interior. Há vestes alvas e óleo fresco para a nossa cabeça. Temos à disposição a suprema grandeza do poder de Deus, o mesmo poder que ressusci­tou Jesus dentre os mortos. Não há escassez da parte de Deus. En­quanto tivermos vasilhas vazias, o azeite de Deus não cessará de jor­rar. Enquanto nosso coração estiver sedento de Deus, ansioso por buscar sua face e aberto para receber a sua unção, não faltará orvalho do céu sobre nós, nem o bálsamo de Gileade sobre a nossa cabeça. Deus não despede de mãos vazias aqueles que nele esperam. Ele não decepciona aqueles que o buscam. Aqueles discípulos estavam aguar­dando não a perpetuação da escassez, não a continuação da crise, não o prolongamento da aridez espiritual que os assolava. Estavam bus­cando com avidez um derramamento do Espírito, uma qualidade su­perior de vida, uma experiência mais profunda com o poder de Deus.

Como você se encontra na vida cristã? Acomodado? Você es­pera mais de Deus? Quer mais do seu Espírito? Busca com sofreguidão uma vida de poder? Não podemos fazer das nossas experiências o referencial para aquilo que Deus nos pode dar. Ele pode fazer infi­nitamente mais. Não podemos colocar limites ao poder de Deus. Não podemos engessar Deus dentro dos nossos estreitos limites. No pas­sado muitos homens de Deus experimentaram coisas tremendas e extraordinárias porque ousaram crer e buscar as riquezas insondáveis do Evangelho de Cristo e a plenitude do poder do Espírito. Foi essa busca de poder que fez de George Whitefield o maior pregador ao ar livre do século XVIII. Foi essa sede de vida plena que fez de John

Wesley o grande avivalista que sacudiu a Inglaterra e tirou o país das cinzas de uma crise avassaladora. Foi o poder do céu que fez do jo­vem David Brainerd o maior referencial de vida piedosa no século XVIII, a ponto de John Wesley considerar a leitura do diário pessoal de Brainerd a obra mais importante a ser lida por um pregador. Foi esse revestimento de poder que transformou o vendedor de sapatos Dwight Moody no maior evangelista de todos os tempos.

Hoje vemos muitas vertentes religiosas pregando um poder que vem de dentro do homem. Isso não é cristianismo, é budismo. O po­der que precisamos não vem de dentro, mas do alto, do céu, de Deus.

 

5. Resultado de oração fervorosa - Atos 1.14

"... todos perseveraram, unânimes em oração." Todo o grupo dos 120 discípulos estava irmanado no mesmo objetivo. Ninguém ficou de fora daquela reunião de oração. Não houve desistência no meio do caminho. Todos perseveraram. Hoje, muitas vezes, temos ânimo para começar uma reunião de oração, temos arrojo para conclamar as pessoas, mas não temos fibra para perseverar. É fácil começar. É fácil ter entusiasmo quando a situação é favorável. Mas Deus busca em nós persistência. Abraão insistiu com Deus para não destruir os justos junto com os ímpios em Sodoma. Deus ouviu a sua oração e tirou Ló de lá. Elias insistiu com Deus no cume do Carmelo e orou sete vezes até a chuva torrencial cair sobre a terra seca de Israel. Os discípulos passaram dez dias perseverando em oração. Eles não desistiram. Oraram até que veio sobre eles, com grande poder, o derramamento do Espírito. Mas eles não estavam apenas juntos. Não foi mera perseverança que marcou aquela extraordinária reunião de oração. Eles oraram unânimes. Havia acordo sobre o assunto da ora­ção. Era como se fosse uma só alma diante de Deus. Eles estavam afinados pelo diapasão do céu. Eles tinham um só coração, um só propósito. Todos oravam na mesma direção, aguardavam a mesma promessa, buscavam o mesmo revestimento de poder.

Hoje temos gigantes do saber no púlpito e pigmeus na vida de oração. Pastores indolentes não sabem o que é agonia de alma, nem jamais experimentaram o que é lutar com Deus em oração como Jacó. E. M. Bounds disse no seu clássico livro O Poder através da Oração que "homens mortos tiram de si sermões mortos, e sermões mortos matam". Lutero, o grande reformador alemão, já dizia que "sermão sem unção endurece o coração". C. H. Spurgeon dizia que toda a sua vasta biblioteca nada era diante do altar sagrado de sua sala de ora­ção. Abraão Kuiper, grande teólogo, educador e político holandês, afirmou que, "se pastores não forem homens de oração e não honra­rem o Espírito Santo em sua vida e ministério, darão aos seus reba­nhos pedra em vez de pão". É verdadeiro o refrão que citamos em nossas igrejas: "Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco po­der; nenhuma oração, nenhum poder". Na verdade, bancos vazios de oração fazem púlpitos sem poder.

C. H. Spurgeon, ao pregar sobre o texto de Atos 1.14, disse: "Como esperar o Pentecoste se nem ainda fomos despertados para orar? Primeiro, vem a igreja toda, unânime, perseverando em oração, só depois vem o Pentecoste".

Em 1997, juntamente com 80 pastores brasileiros, tive a opor­tunidade de conhecer a Coréia do Sul. Visitamos 11 igrejas evangéli­cas em Seul, sendo 9 presbiterianas, uma metodista e uma Assem­bléia de Deus. Igrejas de 5 mil, 10 mil, 12 mil, 18 mil, 30 mil, 55 mil, 82 mil e 700 mil membros. Fiquei impressionado com o grande vigor espiritual daquelas igrejas. Em cada uma delas, recebemos uma pa­lestra especial do pastor titular sobre os princípios de crescimento da igreja. Ficamos impressionados pelo fato de todos eles afirmarem ca­tegoricamente que o maior motivo do grande crescimento da igreja evangélica na Coréia do Sul é o profundo compromisso dos crentes com a vida de oração. Nenhuma igreja é considerada evangélica na Coréia do Sul se não tiver reunião diária de oração pela madrugada. Se um seminarista faltar a duas reuniões de oração de madrugada no seminário, salvo por razões imperativas, não serve para ser pastor. Nenhum membro, via de regra, ora menos que uma hora por dia. Nenhum líder da igreja ora menos de duas horas por dia. Nenhum pastor, salvo raras exceções, ora menos de três horas por dia. Visita­mos a maior igreja metodista do mundo, com 82 mil membros. O pastor fundador ainda é o pastor titular da igreja. Ele nos disse que o segredo do crescimento da igreja é a sua vida abundante de oração e a oração fervorosa de toda a sua vasta congregação. O pastor David Yong Cho, cuja igreja é a maior do mundo, com 700 mil membros, começou seu pastorado em 1958, e agora sua igreja está espalhada em diversas nações da terra. Ele documenta fartamente em seus li­vros que gasta 70% do seu tempo em oração e meditação da Palavra. Além das reuniões diárias de oração no templo, as igrejas investem na construção de acampamentos de oração e treinamento, onde fa­zem cavernas de oração e para onde o povo vai derramar sua alma diante de Deus. Visitamos a Igreja Presbiteriana Myong Song, a mai­or Igreja Presbiteriana de Seul, com 55 mil membros. Essa igreja tem quatro reuniões de oração pela manhã: uma das quatro às cinco; ou­tra, das cinco às seis; outra, das seis às sete; e finalmente, outra das sete às oito horas. Fiquei comovido ao participar de uma dessas reu­niões, no horário das cinco às seis da manhã. Ao aproximar-nos do templo, vimos as pessoas correndo com a Bíblia na mão em direção ao templo. Quando chegamos ao pátio da igreja, centenas de carros e ônibus estavam estacionados. Os diáconos, bem trajados, cuidavam da boa ordem do estacionamento. Quando entramos no templo, ele estava superlotado, coral togado, pastor no púlpito, como se fosse dia de grande festa. Contei no carpete, em frente ao púlpito, 80 pessoas assentadas, porque não havia mais lugar no templo. Mais de 5 mil pessoas ali reunidas. Isso quatro vezes por dia. Quando aquela multi­dão começou a orar, parecia o murmúrio de muitas águas. Não conse­gui conter as lágrimas que rolavam pelo meu rosto ao perceber o fer­vor com que eles buscavam a face de Deus.

Quando um dos membros da nossa caravana questionou um dos pastores a respeito de a oração matinal dos coreanos ser um fator cultural, ele respondeu: "Em todo o mundo as pessoas levantam cedo para ir para a escola, para o trabalho, para tratar de seus interesses e para ganhar dinheiro. Nós entendemos que Deus merece o melhor e as primícias. Se Deus é a maior prioridade da nossa vida, então procuramos mostrar isso, buscando a sua face bem cedo de manhã".

Perguntaram a David Yong Cho qual seria a melhor estratégia que um pastor deveria usar para levar a sua igreja a tornar-se uma igreja de oração. Ele respondeu: "A única maneira de levar uma igre­ja a orar é o pastor dela ser um homem de oração". Por esse motivo, quando perguntaram a Dwight Moody qual era, para ele, o maior obs­táculo ao avanço da obra, ele respondeu: "O maior obstáculo da obra são os obreiros". E disse mais: "Moody é o maior inimigo de Moody".

Se os pastores forem gravetos secos a pegar o fogo do Espírito, o povo todo começará a arder. Se o púlpito for uma fogueira, a igreja será cheia do calor do Espírito. Perguntaram a Moody certa vez: "Sr. Moody, como começar um avivamento na igreja?". Ele respondeu: "Acenda uma fogueira no púlpito".

Martyn-Lloyd Jones afirmou que "o Pentecoste é derramado sobre algo que está pronto. A unção do Espírito derrama-se sobre a preparação. Elias erigiu um altar, em seguida cortou a lenha e arru­mou-a sobre o altar. Então, matou o novilho, cortou-o em pedaços e colocou-os sobre a lenha. Tendo feito tudo isso, orou para que des­cesse fogo; e o fogo desceu. Essa é a ordem das coisas".

Na hora em que nossa vida estiver preparada, o fogo de Deus descerá sobre nós. Quando o caminho de Deus for preparado e os vales forem aterrados, os montes nivelados, os caminhos tortos endi­reitados e os escabrosos aplainados, então toda a carne verá a salva­ção de Deus. É quando a igreja cai de joelhos em oração perseverante e unânime, que o fogo do Espírito cai sobre a igreja. É depois que a igreja acerta a sua vida, que o cumprimento da promessa se concreti­za.

No ano de 1996 fui convidado a pregar na Igreja Batista de Pavuna, na baixada fluminense, no Rio de Janeiro. O calor era sufo­cante. O sol estava escaldante. Pensei comigo que, numa quinta-fei­ra, com tamanho calor, iria encontrar uma pequena igreja sem muita motivação para cultuar. Quando cheguei ao local, vi um templo gi­gantesco. Ninguém havia chegado. Só o pastor estava no gabinete. Com fidalguia ele me acolheu e foi logo dizendo que o culto seria maravilhoso e que ele esperava naquela noite cerca de 3 mil pessoas. O meu coração foi tocado. Tivemos naquele culto mais de 3 mil pes­soas, debaixo de calor asfixiante, mas uma multidão exultante e cheia do gozo do Espírito. Perguntei àquele pastor qual era o segredo do crescimento de sua igreja. Ele me respondeu: "Esta igreja leva a sua vida de oração a sério. Este povo põe o rosto em terra e clama, e Deus abre as janelas do céu e todos os dias acrescenta as pessoas que vão sendo salvas". Na verdade, Deus nunca mudou de método. Se quere­mos a visitação poderosa de Deus, o derramamento do Espírito, o Pentecoste, precisamos orar, orar e orar, até que do Alto sejamos revestidos de poder. Quando a igreja pega fogo, o fogo do Espírito, as pessoas são atraídas para ela de forma irresistível.

 

 

 

 

 Capitulo 3

 

O CONTEÚDO DO PENTECOSTE

 

O Pentecoste veio porque uma congregação de 120 pessoas estava unida, coesa, unânime, perseverando na busca do mesmo ideal (At 1.14; 2.1). Havia unidade de propósitos. Hoje há ajuntamento, mas pouca comunhão; há orações, mas pouca concordância; muita coreografia, mas pouco quebrantamento; muito movimento, mas pouca adoração; muita agitação, mas pouco louvor; muita verborragia, mas pouca unção; muitos buscam o derramamento do Espírito, mas ou­tros puxam para trás.

Quero abordar o conteúdo do Pentecoste sob dois aspectos:

 

1. Experiência pessoal de enchimento do Espírito Santo

Aqueles discípulos já eram regenerados e salvos. Por três ve­zes, Jesus deixou isso muito claro (Jo 13.10; 15.3; 17.12). Portanto, eles já possuíam o Espírito Santo, pois, "se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8.9). Jesus disse a Nicodemos que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus (Jo 3.5). Além disso, Jesus já havia soprado sobre os onze, dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20.22). Mas, a despeito de já serem salvos, terem o selo do Espírito e receberem o sopro do Espírito, eles ainda não estavam cheios do Espírito. Uma coisa é ter o Espírito residente; outra é tê-lo presidente. Uma coisa é ser habitado pelo Espírito; outra é ser cheio do Espírito. Você, que tem o Espírito, já está cheio dele? Sua vida é controlada por ele? O fruto do Espírito pode ser visto na sua vida? A unção do Espírito está sobre a sua cabe­ça? O poder do Espírito está sobre você? Quando você abre os lábios, a Palavra de Deus é verdade na sua boca? Quando o missionário presbiteriano John Hyde estava indo para a índia, recebeu um tele­grama a bordo do navio. Abriu-o sofregamente. Havia uma pergunta lacônica e perturbadora: "John Hyde, você está cheio do Espírito San­to?". Ele ficou irritado com a petulância e audácia da pergunta. Amarrotou o telegrama, enfiou-o no bolso e tentou escapar da intri­gante pergunta. Procurou justificar para si mesmo que a pergunta não tinha razão de ser, visto que ele estava indo para um campo missioná­rio, abrindo mão de tantas regalias, a fim de embrenhar-se em terras longínquas e obscuras. Todavia, ao entrar em seu aposento, o dedo de Deus o tocou e a pergunta começou a arder em seu coração: "John Hyde, você está cheio do Espírito Santo?". Foi então que ele caiu de joelhos, em lágrimas, e clamou a Deus por um derramamento do Es­pírito em sua vida. Ele foi profundamente influenciado por esta ora­ção. Experimentou algo especial da parte de Deus. Ao chegar à índia, em apenas três anos viu mais de mil pessoas rendendo-se a Cristo através do seu ministério.

A experiência do enchimento do Espírito Santo é pessoal (At 2.3,4). O Espírito Santo desce sobre cada um individualmente. Cada um vive a sua própria experiência. Ninguém precisa pedir, como as virgens néscias, azeite emprestado. Todos estão cheios do Espírito!

O Espírito veio em forma de vento para mostrar a soberania, a liberdade e a inescrutabilidade do Espírito. O Espírito, assim como o vento, sopra onde quer, da forma que quer, em quem quer. Ninguém pode cercar ou deter o vento. Ele é misterioso. Ninguém sabe donde ele vem nem para onde vai. Seu curso é livre e soberano. Deus não se submete à agenda dos homens. Ele não se deixa domesticar. Ele não pode ser pres­sionado. Ele é Deus. Está no trono e faz todas as coisas conforme o con­selho da sua vontade.

O Espírito veio em forma de línguas de fogo. O fogo ilumina, purifica, aquece e alastra. Jesus veio para lançar fogo sobre a terra. Hoje a igreja, via de regra, está fria. Parece uma geladeira a conservar o seu religiosismo intacto, e não uma fogueira a inflamar os corações. Muitos crentes parecem mais barras de gelo do que brasas vivas.

Benjamim Franklin gostava de ouvir George Whitefield porque po­dia vê-lo arder diante dos seus olhos. Deus disse ao profeta Jeremias: "Eis que eu converterei em fogo as minhas palavras na tua boca".

Mas a tendência do fogo é apagar. Onde não há combustível, o fogo se apaga. É por isso que, cinco vezes, em Levítico capítulo 6, Deus instruiu a que não se deixe o fogo apagar sobre o altar. Deus acende o fogo, mas nós devemos mantê-lo aceso (II Cr 7.11). O após­tolo Paulo, nessa mesma direção, exorta o seu filho na fé, Timóteo, a reavivar o seu dom (II Tm 1.6). A palavra reavivar refere-se ao uso de foles para fazer com que volte a chamejar o fogo prestes a apagar. O general William Both, fundador do Exército da Salvação, insistia sempre com o seu povo: "A tendência do fogo é apagar-se; vigiem o fogo no altar do seu coração".

Precisamos de uma igreja inflamada. Quando a igreja perde o fogo do Espírito, os pecadores perecem no fogo do inferno. Só uma igreja aquecida pelo fogo de Deus pode arrebatar as pessoas do fogo da condenação.

Não basta arrumar a lenha e a oferta no holocausto. É preciso fogo e, quando o fogo cai, o povo cai de joelhos gritando: só o Senhor é Deus, só o Senhor é Deus. Precisamos da gloriosa experiência de enchimento do Espírito que nos faz arder de amor por Deus. Precisa­mos do enchimento do Espírito para viver de modo digno de Deus, com gratidão, louvor e submissão.

Quando os discípulos ficaram cheios do Espírito, começaram a falar das grandezas de Deus (At 2.4,11). Todos começaram a glorificar a Deus. Não havia espaço para palavras torpes e maliciosas. Aca­baram-se as intrigas. Cessaram as acusações. Toda a visão pessimista acabou. Eles estavam cheios de entusiasmo e vibração, falando das grandezas de Deus. Precisamos de um Pentecoste que tire da igreja toda murmuração, toda palavra e atitude de derrota. Há muitos na igreja que só vêem as coisas através de lentes embaçadas. São pesso­as que passam o tempo todo reclamando da vida, da família que têm, da igreja que freqüentam. São pessoas que jogam contra o patrimônio, que puxam para baixo, que remam no sentido oposto, que são sempre do contra. Essas pessoas são arautos do caos, profetas do desastre, embaixadores do pessimismo. Precisamos de um Pentecoste que tire a igreja do pântano do desânimo, da cova da murmuração e do calabouço do negativismo. Precisamos abrir a boca para falar das grande­zas de Deus. Precisamos profetizar as possibilidades infinitas de Deus. Precisamos abençoar as pessoas e engrandecer o nome excelso do Senhor. Precisamos ser um povo mais ousado, mais otimista e mais entusiasmado!

 

2. Experiência pessoal de revestimento de poder - Lucas 24.49; Atos 1.5,8

Não há cristianismo sem poder. O Evangelho que abraçamos é o poder de Deus para todo o que crê (Rm 1.16). O Espírito Santo que recebemos é Espírito de poder (II Tm 1.7). O Reino de Deus, que está dentro de nós, não consiste em palavras, mas em poder (Rm 4.20). A pregação da Palavra precisa ser feita com poder (I Ts 1.5; I Co 2.4).

O próprio Jesus, mesmo sendo Filho de Deus, não abriu mão desse poder. Quando foi batizado no rio Jordão, o céu se abriu, o Pai falou, e o Espírito Santo desceu sobre Ele, revestindo-o de poder para o ministério (Lc 3.21,22). Dali, Jesus foi para o deserto, conduzido pelo Espírito, cheio do Espírito, onde jejuou e orou durante 40 dias. Ali no deserto o diabo usou todo o seu arsenal para tentar a Jesus. Lançou sobre ele todos os seus torpedos mortíferos. Mas foi fragorosamente derrotado (Lc4.1-11). Do deserto, Jesus saiu vitorio­so e, cheio do Espírito, retornou à Galiléia (Lc 4.14). Entrou na sina­goga de Nazaré e tomou o livro de Isaías nas mãos, para revelar ao povo que o Espírito de Deus estava sobre ele, ungindo-o para pregar, curar e libertar (Lc 4.17,18). Toda a vida de Jesus e todo o seu minis­tério aconteceram sob a unção do Espírito Santo (At 10.38). O Espírito Santo esteve presente até mesmo na sua morte (Hb 9.14) e na sua ressurrei­ção (Rm 8.11).

Se Jesus, sendo Deus, não prescindiu do poder do Espírito, tampouco nós podemos fazê-lo. Não basta apenas conhecer as Escritu­ras, é preciso experimentar o poder de Deus (Mt 22.29). Não basta ape­nas ter a cabeça cheia de luz, é preciso ter o coração cheio de fogo. Não basta apenas ter boa teologia, é preciso ter unção do Espírito. Não basta apenas ter boa organização, é preciso ter óleo na engrenagem. A igre­ja sem a unção e o poder do Espírito é como um vale de ossos secos.

Sem o poder do Espírito, poderemos ter igrejas grandes, mas não igre­jas vivas. Sem o poder do Espírito, poderemos ter grandes templos, mas não congregações santas. Sem o poder do Espírito, poderemos ter um culto solene e pomposo, mas não convicção de pecado e sede de Deus. Sem o poder do Espírito, poderemos realizar grandes obras, mas não estender as estacas do Reino de Deus. Jesus foi categórico ao determinar que os discípulos não deveriam aventurar-se no ministé­rio antes de serem revestidos com o poder do Espírito (Lc 24.49). Eles não estariam aptos para os desafios do testemunho sem o poder do Espírito (At 1.5,8).

Mas precisamos agora perguntar: Poder para quê? Há muita gente buscando poder com motivações erradas. Querem poder se auto-promoverem. Querem poder para se tornarem famosos. Querem poder para receberem os aplausos dos homens. Querem poder para se tornarem grandes e ricos, influentes e respeitados. Não buscam a gló­ria de Deus, estão atrás de prestígio e recompensas.

Quando olhamos para o livro de Atos, percebemos as razões pelas quais Jesus evidencia a necessidade que a igreja tem de poder:

 

Poder para sacudir o jugo do medo (João 20.19; II Timóteo 1.7)

Há muitos hoje que vivem no calabouço do medo, como os discípulos antes do Pentecoste, trancados, encavernados, paralisados. É gente que tem medo de viver, medo de morrer, medo de testemu­nhar, medo de casar e medo de descasar. Medo de ficar doente e medo de ir ao médico. Medo de entrar na faculdade e medo de bater à porta de um emprego. Medo de ficar desempregado e medo de se aposen­tar. Medo de ficar sozinho e medo de compartilhar a vida com al­guém. Medo do real e medo do irreal. Medo de encarar a vida de frente e medo de enfrentar a eternidade. Medo de assaltos e medo da polícia. Medo de viajar e medo de ficar em casa. Medo de perder a popularidade e medo de ser autêntico. Sim, as pessoas vivem hoje cheias de fobias. Precisamos de poder do céu para vencer nossos medos e traumas. Só através do poder do Espírito podemos sair de trás das nossas portas trancadas. Só recebendo o Espírito de poder, baniremos a covardia e o medo que nos assombram.

 

Poder para tirar os olhos da especulação para a ação

(Atos 1.8)

Quando Jesus falou aos discípulos sobre o batismo com o Espírito e a promessa do Pai pela qual deveriam aguardar, eles logo passaram a cogitar sobre tempos e épocas, ou seja, sobre o kronos e o kairos. Eles começaram a entrar no campo da especu­lação escatológica. Acharam que Jesus estava falando de um tem­po em que o domínio de Roma seria subjugado pelo poder políti­co de Jesus. Entretanto, Jesus muda o rumo dessas expectativas e evidencia com diáfana clareza que eles receberiam poder não para fazer profundas lucubrações ou incursões no campo da es­peculação teológica, mas para agir, para colocar a mão no arado e para fazer a obra. Muitas vezes, a igreja se reúne para discutir opiniões, mas não age. Faz todo o tipo de treinamento, mas não sai a campo. Há crentes que freqüentam todos os congressos de reciclagem e aprendem todos os métodos de evangelismo, mas nunca saíram de casa para evangelizar. São capazes de andar mil quilômetros para ir a um congresso de evangelização, são capa­zes de sair de casa para o templo mil vezes, mas são incapazes de atravessar a rua e falar de Jesus para um vizinho. As pessoas estão buscando poder para o seu próprio deleite, para o seu pró­prio conforto, para a exaltação do seu próprio nome. Por isso, vemos muito religiosismo, mas pouca vida; muita ortodoxia, mas pouco poder; muita discussão, mas pouco trabalho; muito baru­lho, mas pouco resultado.

Com tristeza vemos muitos na igreja com a cabeça enorme e o corpo raquítico. Pessoas que estudam, pesquisam, mergulham nas águas mais profundas do saber, tornam-se adestradas no conhecimento, mas inaptas no trabalho. Sabem, mas não fazem. Passam a vida se aquecendo, se preparando, mas nunca entram em campo. Conhecem a Bíblia de capa a capa, mas nunca compartilham o seu conteúdo com outras pessoas. São mestres afiados para discutir todas as doutrinas, para diagnosticar todas as novidades emergentes no mercado da fé, para vigiar como guardiões os depósitos sagrados; mas são verdadei­ros sarcofagos, fechados hermeticamente como um túmulo; deles não transpira a vida de Deus, deles não se ouve a voz de Deus, eles não sabem conjugar o verbo trabalhar, porque na escola da vida só fize­ram conjecturas e especulações, e nunca agiram na força do poder de Deus.

 

Poder para morrer (Atos 1.8)

Jesus falou que precisamos de poder não apenas para viver, mas também para morrer. A palavra "testemunhas" em Atos 1.8 vem do grego martiria, de onde se origina a nossa palavra "mártir". Precisa­mos de poder para morrer, pois quem não está preparado para morrer, não está preparado para viver. Ser cristão no tempo dos apóstolos não era símbolo de prestígio político, mas de perseguição, espólio, prisão e morte. Declarar-se cristão era algo arriscado e perigoso. Podia sig­nificar abandono, cadeia e morte. Muitos cristãos foram presos, tor­turados, saqueados e mortos com requintes de crueldade por causa da sua fé. Muitos soldados de Cristo tombaram no campo de batalha e sofreram doloroso martírio por causa da sua fidelidade a Cristo. Mui­tos perderam a família, os bens e a própria vida, sendo jogados nas arenas, enrolados em peles de animais, mordidos e dilacerados pelas dentadas dos cães; outros foram pisoteados e rasgados pelos touros enfurecidos. Não poucos foram destroçados pelos esfaimados leões da Líbia ou traspassados pelas espadas dos gladiadores. Miríades de crentes morreram queimados, outros crucificados, outros afogados, outros estrangulados e decapitados por causa da sua fé em Cristo. Desde Estêvão, o protomártir do cristianismo, Tiago, Paulo, Policarpo, a viúva Felicidade, a jovem senhora Perpétua, a escrava Blandina e milhares de outros, como John Huss, Jerônimo Savonarola, comple­tam a galeria dos heróis da fé que, por amor a Deus, fidelidade a Jesus e compromisso com o Evangelho, selaram com o próprio sangue o testemunho da cruz!

Sem o poder do Espírito, tornamo-nos covardes como Pedro na casa do sumo sacerdote Anás. Sem o poder do Espírito, perdemos a intrepidez de falar do Evangelho diante das ameaças do mundo. Mas, quando somos revestidos com esse poder, força nenhuma nos detém, os açoites não nos intimidam, as prisões não nos amordaçam nem a morte nos abala (At 4.18-21). Foi esse poder que sustentou Paulo como um arauto na prisão até a morte. Foi esse poder que sustentou

Estêvão diante do martírio. Foi esse poder que capacitou John Huss a enfrentar a fogueira com serenidade. Foi esse poder que encorajou Lutero a ir a Worms e dar firme testemunho da sua fé. Precisamos poder para viver com Jesus e para morrer para Jesus.

Uma das coisas que marcou profundamente a minha vida foi visitar o museu dos mártires, em Seul, na Coréia do Sul. A igreja evangélica coreana cresceu num solo regado pelo sangue dos márti­res. Milhares de crentes foram castigados até a morte, com requintes de crueldade, na época da ocupação japonesa. Centenas de pastores foram decapitados às margens do rio Ran. Mais tarde, na fratricida guerra contra a Coréia do Norte, outras centenas de crentes morreram por sua fidelidade a Cristo. Nesse museu, vimos numa enorme sala quadros singelamente emoldurados com as fotografias de centenas de mártires. Em cada quadro havia um breve histórico com o relato da vida, das obras, do ministério e sobretudo da maneira cruel com que cada pessoa foi torturada e morta pela sua fé. Ali naquela sala chorei ao ver que muitos daqueles mártires morreram sem ver o gran­de avivamento que Deus enviou sobre a Coréia do Sul. Deus honra o sangue dos mártires. O sangue dos mártires, como dizia Tertuliano, é o adubo para a sementeira do Evangelho. Depois de observar atenta­mente todos aqueles quadros, já na saída da sala, aproximei-me do último quadro. A moldura era a mesma, mas não havia fotografia. Quando fiquei de frente para ele, havia no lugar da fotografia um espelho. Vi o meu próprio rosto e, embaixo, uma frase lapidar: "Você pode ser o próximo mártir". As lágrimas rolaram em meu rosto. Re­conheci que precisava ser revestido com o poder do Espírito para ser um mártir de Jesus!

 

Poder para viver em santidade (Atos 3.4)

Pedro e João disseram ao paralítico em Jerusalém: "Olha para nós..." (At 3.4). Esta é uma afirmação ousada, audaciosa. Só quem anda com Jesus, quem é revestido com o poder do Espírito, pode ter tamanha intrepidez. Hoje assistimos a um hiato, um abismo, um di­vórcio entre o que as pessoas falam e o que elas fazem. Vemos gente santarrona blasonando belas palavras para a igreja e vivendo em prá­ticas pecaminosas abomináveis no secreto. Vemos pastores que cobram de seus rebanhos uma vida santa e vivem sua intimidade regaladamente no pecado. Vemos líderes que tratam a igreja com rigor e dureza, mas cultivam a devassidão moral na vida privada. Vemos obreiros zelosos, atentos aos mínimos detalhes da lei, mas condes­cendentes com o pecado na vida particular.

É alarmante perceber o grande surto de decadência moral entre os líderes evangélicos nesses dias. Centenas de pastores têm capitula­do e naufragado no mar agitado da paixão sexual. A juventude evan­gélica tem sido achatada pela avalancha dos novos conceitos morais, que desconhecem limites e odeiam toda a sorte de absolutos éticos. Muitas vezes, tentamos driblar a nossa própria consciência dizendo às pessoas: "Vocês não podem olhar para o pastor, nem para o presbítero, nem para o diácono, nem para as mulheres da igreja, mui­to menos para os jovens. Vocês precisam olhar só para Jesus". Não queremos ser modelos. Não queremos ser luz. Não queremos pagar o preço de ser santos. Paulo disse à igreja de Corinto: "Sede meus imi­tadores, como também eu sou de Cristo" (I Co 11.1).

A igreja precisa pregar não apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Precisa não apenas proferir belos discursos, mas também viver em santidade. Não basta que as pessoas ouçam de nós belos sermões, elas precisam ver vida santa. O diácono Filipe, ao chegar à cidade de Samaria, viu ali um grande avivamento, e as multidões atendiam, unânimes, às coisas que ele dizia. Mas por quê? Qual era a razão da eficácia do ministério de Filipe? É que Filipe falava e fazia. Ele pregava e demonstrava. Ele pregava aos ouvidos e também aos olhos (At 8.6). Quando João Batista enviou seus emissários para in­terrogar a Jesus se ele era de fato o Messias, o Mestre mandou lhe dizer: "... Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evan­gelho" (Mt 11.4,5). Quando o paralítico abordou a Pedro e João na entrada do templo, eles não fizeram um discurso, mas disseram: olha para nós (At 3.4). A vida da igreja precisa falar mais alto que o seu discurso. Onde não há vida, a palavra é desacreditada, o discurso é vazio e inócuo. Sem santidade não existe pregação eficaz. Sem santi­dade não existe ministério ungido. Sem santidade não podemos ser boca de Deus (Jr 15.19). Sem santidade o bastão profético em nossas mãos não tem nenhum valor, como aconteceu no caso de Geazi (II Rs 4.31). A Palavra de Deus é verdade em nossos lábios, quando vive­mos na presença de Deus e fazemos a obra de Deus no poder do seu Espírito (I Rs 17.1,24).

A igreja hoje, mais do que nunca, está precisando de vestes alvas, de vida limpa, de mãos purificadas, de pés lavados, de coração íntegro. O mundo tem influenciado mais a igreja do que a igreja ao mundo. Porque a igreja tem deixado de ser luz no mundo, o mundo tem entrado dentro da igreja. Em vez de a igreja convocar o mundo ao arrependimento, é o mundo que tem proclamado os pecados da igreja. A mídia veicula mais os escândalos da igreja do que suas vir­tudes. A igreja tem amado o mundo, sido amiga do mundo e se con­formado a ele. Os cristãos estão-se imiscuindo nas mesmas práticas reprováveis daqueles que não conhecem a Deus. A ética de muitos cristãos é relativa e situacional, à semelhança das pessoas que não conhecem os absolutos da Palavra de Deus. Os estudantes cristãos, não poucas vezes, utilizam o expediente imoral da cola para auferir boas notas nas provas. Os empresários cristãos nem sempre são trans­parentes e éticos em suas transações comerciais. Suas empresas não suportariam uma devassa como a que ocorreu na vida do profeta Daniel. Os jovens cristãos estão-se entregando à sensualidade des­controlada no namoro, à semelhança dos gentios que não conhecem a Deus (I Ts 4.3-8). O vestuário indecoroso, sumário, apelativo e sen­sual, ditado pela moda, nem sempre é evitado pelas mulheres e jo­vens cristãs. A vida sexual do povo de Deus tem sido contaminada pelo lixo dos filmes pornográficos que como coisas abomináveis en­tram nos lares cristãos (Dt 7.26). As famílias evangélicas estão mer­gulhadas nas mesmas crises conjugais que as não cristãs. Os casa­mentos estão sendo desfeitos nas barras dos tribunais por motivos fúteis e não por razões bíblicas que justifiquem o divórcio e um novo casamento. Assim, estamos abrindo as portas para verdadeiros adul­térios institucionalizados (Mt 19.9). A igreja não pode estar bem se a vida privada do povo está em crise. Não adianta existir ajuntamento solene se a vida particular das pessoas que se reúnem está em deca­dência (Is 1.15). Deus não aceita o culto da igreja, ainda que animado e alegre, se esse mesmo povo está vivendo em pecado (Am 5.23). E inútil acender o fogo do altar e abrir as portas da igreja se os adoradores não levam Deus a sério (MI 1.10). Quando Deus rejeita o adorador, a oferta também não pode ser aceita (Gn 4.3-7). Por outro lado, a qua­lidade da oferta é um reflexo da vida do adorador (Ml 1.9). Deus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24). Deus quer verdade no íntimo (SI 51.6), espírito quebrantado e cora­ção compungido e contrito (SI 51.17). Estamos precisando de um Pentecoste que desperte a igreja para a busca da santidade. As pesso­as estão correndo atrás de bênçãos. A palavra de ordem hoje é que o homem merece ser feliz. Mas o projeto de Deus é que sejamos santos. Sem santidade ninguém verá a Deus (Hb 12.14). O fruto do justo é árvore de vida (Pv 11.30), mas o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). O caminho da santidade conduz à glória, mas as veredas do pecado conduzem ao inferno.

 

Poder para perdoar (Atos 1.8)

Havia uma rivalidade histórica entre judeus e samaritanos. Inimi­gos irreconciliáveis, eles não se toleravam. Os judeus consideravam os samaritanos combustível para o fogo do inferno. Se uma jovem judia se casasse com um jovem samaritano, a família oficiava simbolicamente o seu funeral. Um judeu não podia comer pão na casa de um samaritano, pois o pão do samaritano era considerado imundo. A hostilidade entre eles era profunda. Pelo fato de Jesus não ter sido bem recebido em Samaria, Tiago e João, os filhos do trovão, quiseram que fogo do céu caísse sobre a cidade para destruir os seus desafetos. A mulher samaritana fez questão de relembrar a Jesus que um judeu não deve pedir um favor a um samaritano, muito menos um samaritano ajudar a um judeu. Quan­do Neemias, após os 70 anos de cativeiro babilônico, retornou a Jerusa­lém para reconstruir os muros da cidade, os samaritanos tentaram de diversas formas impedir a sua reconstrução. Era o ódio que aflorava. Eram os ranços de um passado mal resolvido. As feridas abertas ainda não haviam sido curadas. Os ressentimentos históricos fervilhavam como as lavas de um vulcão em erupção.

Os samaritanos eram judeus mestiços, parentes próximos do mesmo sangue. Foram o produto de um caldeamento de raças, levado a efeito pelo rei da Assíria, Sargão II, que, ao conquistar Israel em 722 A. C, levou o povo de Israel para o cativeiro, e os demais que ficaram na terra foram misturados com outros povos que o rei estrate­gicamente enviou para a região, a fim de enfraquecer o zelo naciona­lista do povo. Dessa mistura racial, surgiu o povo samaritano. Com isso, aprendemos que, quanto mais fortes e estreitos são os laços, mais profunda é a ferida quando se instala uma crise de relaciona­mento. A decepção torna-se mais amarga quando somos traídos por alguém que outrora nos devotou fidelidade.

Jesus já havia quebrado a barreira da inimizade passando por Samaria na itinerância do seu ministério. Ele rompeu com todos os preconceitos que separavam esses dois povos pelo muro da inimiza­de. Agora, ao fazer a promessa do derramamento do Espírito, diz que a igreja receberia poder para testemunhar também em Samaria. Tal­vez fosse o último lugar a que um judeu gostaria de ir. Talvez fosse a última escolha para uma empreitada missionária. Mas, onde chega o Pentecoste, as barreiras do ódio são desfeitas. Onde o Evangelho pre­valece, acabam-se as guerras frias, curam-se as feridas, restauram-se as relações quebradas e estabelece-se a comunhão. A ordem de Jesus não é para incendiar a Samaria, como antes queriam Tiago e João, mas para testemunhar a ela a mensagem suprema do amor de Deus e da salvação em Cristo. Só recebendo poder do Espírito, podemos perdoar. Precisamos de poder para amar como Jesus amou. Precisamos de poder do Espírito para não deixar que a peçonha venenosa do res­sentimento azede a nossa vida. Precisamos do Pentecoste para amar­mos a quem nos odeia, para levarmos vida a quem deseja a nossa morte, para abençoarmos a quem nos amaldiçoa. Precisamos do re­vestimento de poder para transformarmos os nossos inimigos em amigos, para conquistarmos as pessoas que nos ferem pela força irresistível do amor incondicional.

Foi esse poder que capacitou os apóstolos a sofrer açoites e prisões e até mesmo o martírio sem perder a doçura da vida. Como flores, ao serem pisados, exalavam o perfume de Jesus. Como metais nobres, ao serem lançados na fornalha da perseguição, saíam mais puros, mais alegres e mais exultantes. Como diamantes, ao serem lapidados, refletiam com mais fulgor o brilho da glória de Deus.

Foi também esse poder que preparou Estêvão, o primeiro már­tir do cristianismo, a morrer apedrejado sem mágoa no coração. Seus olhos não ficaram embaçados pela crueldade de seus algozes, mas ele viu Jesus na sua glória. Ele não praguejou invocando libelos condenatórios contra seus flageladores, antes intercedeu por eles. Não havia ódio no coração de Estêvão, mas poder para amar e perdoar.

Hoje, a igreja está precisando de poder para resolver muitas pendências na área dos relacionamentos. Há muitas pessoas feridas no arraial de Deus. Há pessoas profundamente machucadas e decep­cionadas no relacionamento com seus irmãos. Há muitas mágoas não curadas. Há muitas feridas abertas. Há gente entupida de ressenti­mento. Há muitos líderes evangélicos encharcados de mágoa, preci­sando de cura. Há muitas famílias de pastores carregando traumas e decepções profundas pela maneira como foram tratadas na igreja de Deus. Há muitos crentes fracos e doentes por causa de atritos, brigas e contendas não resolvidas. Há pessoas na igreja que se comportam como Caim, trazendo ofertas ao altar de Deus, mas com o coração cheio de ira contra seus irmãos. Há crentes na igreja que se compor­tam como Esaú, nutrindo sede de vingança no coração. Há outros que agem como Absalão, atentando contra a vida de seus próprios irmãos, porque nunca conseguiram perdoá-los. E ainda outros agem como Saul, lançando flechas contra os ungidos de Deus, pagando o bem com o mal, porque estão dominados por um espírito de perturbação. Onde não há amor, não há vida, pois quem odeia a seu irmão está nas trevas e nunca viu a Deus. Quem não ama a seu irmão não pode amar a Deus. Por isso, quem não perdoa não pode ser perdoado. Mas onde prevalece o amor, reina o perdão. O amor é um remédio infalível para curar as feridas da mágoa. O amor cobre multidão de pecados. Preci­samos, portanto, de poder para amar. Precisamos do Pentecoste para perdoar!

 

Poder para falar de Cristo com intrepidez

No livro de Atos, sempre que os apóstolos e demais crentes eram cheios do Espírito, pregavam o Evangelho com intrepidez. Eles bus­cavam poder não para impressionar as pessoas com milagres, mas Para pregar a Palavra com unção. Em Atos 1.8, eles receberiam poder para testemunhar. Em Atos 2.4,11, ao serem cheios, começaram a falar e falar das grandezas de Deus. Em Atos 2.14, ao ser cheio do Espírito, Pedro levantou-se para pregar, e seu poderoso sermão cristocêntrico produziu tamanho impacto na multidão que o ouvia, que quase 3 mil pessoas se converteram (At 2.41). Em Atos 4.8, Pedro novamente é cheio do Espírito e abre a boca para falar de Jesus às autoridades religiosas de Jerusalém. Em Atos 4.29-31, a igreja está orando pedindo intrepidez em face da perseguição; o local da reunião tremeu pelo poder de Deus, e todos ficaram cheios do Espírito e, com intrepidez, anunciavam a Palavra do Senhor. Atos 6.8-10 fala de Es­têvão, o diácono cheio do Espírito (At 6.5), sendo revestido com ta­manha capacitação de graça e poder, que os seus opositores não podi­am sobrepor-se à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. De im­proviso ele pregou o sermão com a maior quantidade de citações bíblicas registrado nas Escrituras. Seus inimigos, cheios de ódio, o apedrejaram, mas não puderam emudecer o poder da sua pregação, que até hoje nos inspira e nos motiva. Atos 9.17-22 fala da cura e do batismo de Saulo de Tarso que, tão logo ficou cheio do Espírito, co­meçou a pregar Jesus Cristo. Antes do Pentecoste, os apóstolos esta­vam trancados por medo, depois ficaram presos por falta de medo, pois não podiam deixar de falar das coisas que viram e ouviram.

Sem poder não há pregação. Esse é o testemunho do apóstolo Paulo à igreja de Tessalônica: "Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção..." (I Ts 1.5). De igual forma, o apóstolo fala à igreja de Corinto: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demons­tração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus" (I Co 2.4-5). Quando Jesus ressuscitou dentre os mortos, passou 40 dias com os discípulos falando sobre o Reino de Deus, e o Reino de Deus não consiste em palavra, mas em poder (I Co 4.20). Foi esse sentimento que levou Billy Graham, o maior evangelista deste século, a dizer: "Se Deus tirar a sua mão da minha vida, estes lábios se tornarão lábios de barro".

Depois de anos de trabalho missionário, John Wesley era ape­nas um cristão nominal. Converteu-se em 24 de maio de 1738 num culto dos morávios na Aldersgate Street, em Londres. Nesse mesmo ano, desejou uma experiência mais profunda com Deus. No dia 1° de janeiro de 1738, ele, seu irmão Charles Wesley e George Whitefield, mais 60 irmãos, continuaram em oração até às três horas da madruga­da. Quando o Espírito Santo foi derramado de forma poderosa, eles foram usados para sacudir a Inglaterra e tirar a igreja das cinzas. John Wesley viveu 52 anos depois desse revestimento de poder. A partir daquele dia, pregou para grandes multidões, nas minas de carvão, nas praças e em todos os lugares onde o povo se ajuntava para ouvi-lo. Morreu em 2 de março de 1791, mas sua vida e seu exemplo inspiram o povo de Deus até hoje.

Antes de sua ordenação, George Whitefield jejuou e orou por dois dias. No seu primeiro sermão, 15 pessoas foram podero­samente convencidas de pecado e convertidas. Este gigante da pre­gação ao ar livre pregou durante 35 anos, de três a cinco vezes por dia para auditórios de 2 mil a 20 mil pessoas. Muitas vezes, caval­gando pelas estradas empoeiradas da Inglaterra, montado em seu cavalo, era tomado por grandes comoções. As torrentes do céu caíam abundantemente sobre ele. O orvalho celestial molhava a sua alma com unção renovada. O poder do Espírito o inundava, e o povo afluía para ouvi-lo com sofreguidão onde quer que ele che­gasse.

Dwight Moody já havia sido usado grandemente em Chicago. Duas mulheres da Igreja Metodista Livre oravam fielmente por ele. No final do culto disseram-lhe: "Estamos orando por você". Intriga­do, ele respondeu: "Por que vocês não oram pelo povo?". Elas então o fitaram e disseram: "Porque o senhor precisa de poder". Dias de­pois, o Espírito Santo desceu sobre Moody com poder em Wall Street, New York. A essas alturas, Moody já estava pedindo a Deus todos os dias para que o enchesse de poder. Depois que Deus derramou seu Espírito e Moody experimentou essa efusão de poder, ele disse: "Eu não voltaria ao lugar em que estava há quatro anos, por todo o dinhei­ro do mundo".

Mais do que nunca, estamos precisando de um Pentecoste Para revitalizar a pregação nos nossos púlpitos. Há púlpitos que estão dando não o pão do céu ao povo, mas um caldo venenoso e mortífero. Há pastores pregando outro evangelho, ensinando ao povo doutrinas de homens, mercadejando a Palavra e sonegando às almas o santo Evangelho de Cristo. Há outros púlpitos que são verdadeiras cátedras de erudição, mas anunciam ao povo apenas sabedoria humana. Alguns púlpitos têm-se transformado em bal­cões de negócio, onde pregadores inescrupulosos vendem e barga­nham as bênçãos de Deus e escondem do povo o Evangelho da graça. Há também púlpitos que pregam a sã doutrina, a ortodoxia bíblica, mas sem o óleo da unção. São púlpitos secos, cujas men­sagens são áridas. Os pregadores parecem postes doutrinários, ca­rentes da seiva da vida.

Se não houver unção no púlpito, haverá morte nos bancos. Sem pregação ungida, os mortos espirituais não ressuscitarão. Sermões sem unção alimentam a mente, mas não tocam o coração. Lançam luz à cabeça, mas não ateiam fogo ao coração. Não estamos necessitados de grandes homens no púlpito, mas precisamos de homens de Deus. Não estamos necessitados de grandes sermões, mas de mensagens cheias do azeite do Espírito. Não estamos precisando de erudição, mas de unção. Quando o Espírito é derramado, até mesmo homens rudes como os pescadores da Galiléia transtornam o mundo e atraem multidões aos pés de Jesus.

Hoje gastamos mais tempo preocupados em preparar a men­sagem, fazer pesquisas, ler comentários e buscar a exegese para os termos a partir das línguas originais. Tudo isso é muito importante. Mas não pode parar aí. Deus não unge estruturas literárias. Deus não unge simplesmente a mensagem, mas sobretudo o pregador. Jonathan Edwards pregou um tremendo sermão sobre o tema "Pe­cadores nas Mãos de um Deus Irado". Cerca de 500 pessoas sofre­ram tal impacto com a mensagem, que gemiam, choravam e grita­vam, agarradas aos bancos e pilares do templo, tomadas de profun­da convicção do pecado. Esse mesmo sermão está impresso. Pode­ríamos pregá-lo literalmente, e os resultados seriam bem outros. A unção não estava na mensagem, mas no mensageiro. O método de Deus é o homem. Deus unge homens, e não métodos. Precisamos, portanto, do poder do Espírito Santo para pregar a Palavra com po­der e intrepidez.

 

Poder para ir até aos confins da terra (Atos 1.8)

Sem o poder do Espírito, a igreja perde a visão e a paixão. Sem o poder do Espírito, a igreja se encolhe e ensarilha as suas armas. Sem o poder do Espírito, a igreja se intimida e se esconde dentro de suas quatro paredes, pois é mais fácil ficar do que sair, é mais cômodo permanecer no ninho do que entrar em campo. Só o Pentecoste pode dar senso de urgência à igreja em relação à sua missão. Só o derrama­mento do Espírito pode tirar os olhos da igreja de si mesma e erguê-los para ver os campos brancos para a ceifa. Só o poder do Espírito pode elastecer a visão da igreja quanto à visão missionária.

Quando é banhada pelo óleo do Espírito, a igreja passa a dar prioridade às missões como sua tarefa mais urgente. Veja três verda­des fundamentais sobre este aspecto:

As missões são uma tarefa imperativa. Quando Oswald Smith iniciou o seu ministério na Igreja do Povo, em Toronto, Canadá, a igreja estava endividada e com a vida financeira abalada. Contrari­ando as expectativas da liderança da igreja, ele começou pregando uma série de mensagens sobre missões e sobre a necessidade de a igreja investir prioritariamente nesta tarefa de conseqüências eter­nas. No último dia das conferências, ele levantou uma grande oferta para missões e fez um desafio para que pessoas se levantassem na igreja como missionários. Deus fez uma revolução bendita na igre­ja. As finanças se aprumaram. A igreja cresceu extraordinariamen­te e a partir de então centenas de missionários foram sustentados por aquela igreja, que passou a investir 60% do seu orçamento na obra missionária. Estive visitando essa igreja no Canadá em agosto de 1998 e constatei que esta ênfase permanece até hoje. A Bíblia diz que quem ganha almas é sábio (Pv 11.30). Quem investe em missões entesoura para a eternidade. Quem ama missões, ora por missões, contribui com missões e faz missões está afinado com o pulsar do coração de Deus.

As missões devem ser a prioridade não só dos nossos investi­mentos, mas também da nossa própria vida. Quando perguntaram a Carlos Studd, que deixou a Inglaterra e abriu mão da sua fama e ri­queza para ser missionário na China, índia e África, o porquê de tanto sacrifício, ele respondeu: "Se Jesus Cristo é Deus e deu a sua vida por mim, então não há sacrifício tão grande que eu não possa fazer por amor a ele". Quando o jovem presbiteriano Ashbel Green Simonton, recém-formado no Seminário de Princeton, New Jersey, filho de mé­dico e deputado federal por duas legislaturas, sentiu o chamado de Deus para vir ao Brasil, foi aconselhado pelos amigos a desistir da arriscada empreitada. Muitas grandes igrejas nos Estados Unidos o queriam como pastor. Ele estava acostumado a uma vida de regalias. O Brasil era um país pobre e muito afetado por doenças endêmicas. Mas, a despeito de todos esses fatores, ele respondeu: "O lugar mais perigoso para um homem é totalmente seguro quando se está no cen­tro da vontade de Deus". Ele veio, chegou ao Brasil no dia 12 de agosto de 1859. Durante oito anos realizou aqui um glorioso ministé­rio; plantou a Igreja Presbiteriana do Brasil e partiu para a glória aos 34 anos, mas sua vida é até hoje fonte de inspiração para muitos obreiros. Sua vida ardeu no altar de Deus. Porque o seu ideal era maior do que a vida, ele deu a vida pelo seu ideal.

No século passado, Alexandre Duff deixou a Escócia e foi para índia. Ali gastou a sua vida. Ali derramou o seu coração. Ali fez sua alma arder por Deus numa profunda devoção à salvação dos perdi­dos. Depois de velho e cansado, doente e com as forças estioladas, voltou a seu país para tratamento de saúde. Também realizou confe­rências missionárias para despertar outras vocações que dessem pros­seguimento ao seu trabalho. Certa feita, num grande auditório, falava a centenas de jovens. Pregou com grande ardor. Derramou seu cora­ção num apelo veemente aos jovens, convocando-os a deixar a Escó­cia e ir para a índia. Para sua surpresa, nenhum jovem atendeu ao apelo. Ele ficou tão chocado com a resposta negativa do auditório que teve um ataque cardíaco no púlpito e desmaiou. Levaram-no para uma sala contígua ao púlpito, massagearam-lhe o peito e ele voltou à consciência. Pediu, então, para o levarem de volta ao púlpito de modo que pudesse terminar o apelo. Os médicos responderam que ele não podia voltar ao púlpito. Mas ele retrucou: "Eu não posso deixar de voltar. Preciso terminar o apelo". Levaram-no então ao púlpito, e o auditório o ouviu atentamente. Mesmo com voz trêmula, ele se diri­giu à seleta audiência com estas palavras: "Jovens, se a rainha da Escócia convocasse vocês para qualquer missão diplomática, em qualquer lugar do mundo, vocês iriam com orgulho e sem detença. O Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, aquele que amou vocês e morreu por vocês na cruz, convoca-os para ir à índia como embaixadores do céu e vocês não querem ir. Então irei eu. Já estou velho, cansado e doente. Pouco poderei fazer, mas pelo menos morrei às margens do Ganges, e o povo indiano saberá que alguém os amou e se dispôs a ir até eles, levando a boa nova da salvação". Quando Alexandre Duff terminou o apelo, o auditório estava em prantos. O Espírito de Deus produziu grande quebrantamento naquela conspícua assembléia, e dezenas de jovens se levantaram atendendo ao desafio de ir para a índia.

As missões também são uma tarefa intransferível. Só a igre­ja pode realizar missões. Essa tarefa, Deus não confiou aos anjos nem aos poderosos deste mundo. Nenhuma organização mundial, por mais opulenta e rica que seja, pode cumpri-la. A igreja é o método de Deus para alcançar todas as nações até os confins da terra. Devemos fazer missões por diversas razões. Primeiro, para livrar a nossa própria pele. Se nos calarmos, seremos tidos como culpados. Se o ímpio morrer na sua impiedade, sem ter sido avisado por nós, ele perecerá, mas o seu sangue será cobrado das nossas mãos. Segundo, para arrebatar os per­didos do fogo. A ignorância não é uma porta secundária para entrar no céu. Quem sem lei pecar, sem lei perecerá. Não há salvação fora de Cristo. Deus resolveu salvar o pecador pela loucura da pregação. Mas como ouvirão se não há quem pregue? A fé vem pelo ouvir a Palavra, mas como crerão se não ouvirem? Os homens estão indo para a perdição eterna. Precisamos avisá-los do enorme e grave perigo que correm. Terceiro, porque fazer missões até os confins da terra é ordem expressa de Jesus Cristo. Não fazer missões é desobediência. Não obedecer a essa ordem de Jesus é rebeldia. Quarto, devemos fazer missões para a glória de Deus. Quando o pecador se arrepende e crê no Senhor Jesus, recebe a vida eterna, a graça de Deus é exaltada, e o Deus de toda a graça é glorificado.

Conta-se que, quando Jesus terminou sua obra de redenção no mundo, morrendo na cruz e ressuscitando dentre os mortos, voltou para a glória, sendo recebido apoteoticamente pelos anjos. Um anjo aproxi­mou-se de Jesus e perguntou-lhe: "Senhor, tu morreste na cruz para a salvação dos pecadores. Mas quem vai levar essa mensagem ao mundo inteiro?". Jesus respondeu: "Eu deixei lá na terra doze homens prepa­rados para esta missão". O anjo, então, arriscou uma segunda pergunta: "Mas, Senhor, e se eles falharem?". Jesus de pronto respondeu: "Se eles falharem, eu não tenho outro método". Essa missão é nossa. É intransferível. Por isso, precisamos do poder do Espírito para realizá-la.

As missões são uma tarefa impostergável. Não podemos omitir-nos nessa tarefa, pois seria uma atitude criminosa. Não pode­mos protelar o que deve ser nossa missão mais urgente. A cada dia que passa, portas se fecham e outros atalhos aparecem para desviar as pessoas. Surgem a cada dia, em cada esquina, novas seitas pregando um falso evangelho, outro evangelho, fazendo os incautos enveredar pelas sendas do erro. Doutrinas satânicas estão ganhando espaço, con­quistando terreno, invadindo as universidades, entrando na mídia bem na cara da igreja. Estamos assistindo nesse século à orientalização do ocidente. O espiritualismo com suas diversas faces está penetrando na cultura subjacente do nosso povo. Os terreiros de Umbanda cres­cem como cogumelos em todos os quadrantes da nossa Pátria. As seitas heréticas conquistam terreno a cada dia. E o pior disso é que a igreja dorme, enquanto o inimigo semeia o seu joio maldito no meio do trigal de Deus. Precisamos acordar. Precisamos levantar os olhos. Precisamos ver os campos que estão brancos para a ceifa. Precisamos entender que a nossa comida e a nossa bebida é fazer a vontade de Deus, e a vontade de Deus é que levemos todo o Evangelho a toda criatura, a todas as nações, até os confins da terra.

A Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, comunidade que pastoreio há 14 anos, tem o privilégio de participar do sustento de um dos maiores missionários brasileiros. Ele está em Gana, na África. É um jovem culto, inteligente, fluente, de mente peregrina e alma cân­dida. Deixou todo o conforto de sua Pátria e rumou para o sertão da África, embrenhou-se nas matas, cruzou rios e plantou seus pés na aldeia de Coni, entre a tribo dos Konkombas, feiticeiros históricos e fetichistas. Ali, na companhia de sua esposa, ele derramou sua alma em oração fervorosa por aquelas almas perdidas. Em cinco anos de trabalho, percorreu lugares nunca dantes alcançados, organizou 10 igrejas com cerca de 2 mil pessoas, arrancando-as das mais densas trevas do pecado. Mesmo sofrendo o abalo de 21 malárias, não per­deu a paixão nem a visão. Ao ficar hospitalizado por um envenena­mento de água, a missão que o enviou cogitou em trazê-lo de volta ao Brasil, definitivamente, argumentando que ele já havia dado sua ex­traordinária contribuição. Mas a isso ele respondeu: "Eu não estou pensando em voltar, mas quero prosseguir adiante, mais um pouco, para alcançar outras tribos não alcançadas". De volta ao Brasil para tratar de uma tuberculose óssea, ele aspira consagrar sua vida para alcançar outros povos não alcançados.

Numa tribo indígena, um jovem se preparava para ser o caci­que. Era moço inteligente, ágil e com forte espírito de liderança. Seu corpo atlético e hercúleo faziam dele a esperança de toda a tribo. Entretanto, uma doença indomável e avassaladora estiolou as suas forças, minou o seu vigor e tirou o brilho dos seus olhos. Toda a tribo, aflita, buscou os recursos disponíveis para salvar a vida do futuro cacique. Mas foi tudo em vão. A doença não retrocedia. O jovem, então, com o corpo surrado pela doença, os olhos perdidos no infinito e a certeza da morte iminente, aproximou-se de sua velha mãe e per­guntou-lhe: "Mamãe, para onde eu irei quando morrer? O que será da minha alma?". A mãe aflita respondeu: "Meu filho, eu não sei". Os dias se passaram, e o jovem, agora com o corpo macérrimo e olhar baço, já no colo da mãe, com a voz fraca, perguntou-lhe: "Mamãe, estou morrendo. Para onde vai a minha alma? O que será de mim quando eu morrer?". A mãe, chorando, apertou-o contra o seu peito e disse: "Meu filho, eu não sei, eu não sei". O jovem, não resistindo à enfermidade, morreu sem saber para onde ia. Meses depois, chegou àquela tribo um missionário pregando o Evangelho, falando sobre o céu, a vida eterna e a certeza da salvação. Enquanto o missionário pregava essas boas novas de salvação, saiu de uma palhoça uma mu­lher idosa, com o rosto sulcado de dor e os olhos inchados de tanto chorar; ela correu em direção ao missionário, agarrou-o pelos braços, sacudiu-o violentamente e gritou: "Por que você não veio antes? Por que você não veio antes?". Era a mãe do jovem que morrera sem saber para onde ia. É muito frustrante chegar atrasado. É doloroso chegar tarde demais. Ou alcançamos a nossa geração para Jesus, ou então teremos fracassado em nossa missão. E por isso que precisa­mos de poder, do poder do Espírito, para sair do nosso comodismo, para orar por missões, para contribuir com missões e para fazer mis­sões aqui e além fronteira, antes que seja tarde demais.

 

 

 

Poder para experimentar o extraordinário no cotidiano (Atos 3.6)

Os apóstolos não agendavam os milagres. Não marcavam cul­tos de libertação e cura. Não havia previsibilidade antecipada. Não agiam como secretários do Espírito Santo, tentando controlar e mani­pular a sua agenda. Eles não faziam propaganda dos sinais. Não colo­cavam faixas anunciando a presença de homens poderosos. Não fazi­am exposição de seus dotes espirituais. As coisas aconteciam dentro da liberdade e da soberania do Espírito. Eles não desviavam os olhos do povo para a igreja, nem não trombeteavam suas próprias virtudes. Enfeixavam todos os holofotes sobre Jesus.

Os apóstolos não comercializavam o poder. Eles não viviam encastelados em torres de marfim, empoleirados no topo da fama. Eles não barganhavam nem mercadejavam a Palavra. Não explora­vam o povo em nome da fé. Não extorquiam os neófitos usando de artifícios para vender seus produtos religiosos. Eles não forjavam milagres. Eles não trapaceavam. Eles não faziam alaridos para cha­mar a atenção para si mesmos.

Os apóstolos não usavam expedientes escusos para crescer. Não prometiam riquezas, prosperidade e saúde. Não faziam promessas ao povo de benesses terrenas e temporais, com vistas a atrair multidões. Eles não pregavam um evangelho fácil. Traziam no corpo os vergões dos açoites, a história das prisões e a privação financeira. O poder deles não era a opulência financeira. A influência deles não era a mobilização política. Eles eram homens revestidos com o poder do Espírito. Por isso, Pedro pôde dizer ao paralítico: "Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" (At 3.6). O primeiro milagre foi levantar o que estava prostrado. O Espírito Santo desceu para levantar o homem caído.

Precisamos de poder para ter ordinariamente uma vida extraor­dinária. Quem vive no reino da fé pisa no terreno dos milagres. Não precisamos nos arrastar com os pés na lama; podemos alçar vôos altaneiros e viver na intimidade de Deus. Não precisamos viver de for­ma medíocre; podemos experimentar as insondáveis riquezas do Evan­gelho de Cristo. Não precisamos viver uma vida árida; podemos ter sobre nós o orvalho do céu, as torrentes do Espírito. Não precisamos viver uma vida vazia; podemos ser cheios do Espírito. Não precisa­mos viver debilitados e fracos; temos à nossa disposição a suprema grandeza do poder de Deus. É tempo de buscar essa qualidade superlativa de vida. É tempo de apropriar-nos da vida abundante que Cris­to oferece. É tempo de beber dessa fonte que nunca seca. Chegou a hora de experimentar o fluir dos rios de água viva jorrando do nosso interior. Podemos entrar nas águas profundas desse rio. Sim, o que Deus tem para nós aqui é o extraordinário no cotidiano e além do rio, o que nenhum olho viu e nenhum ouvido ouviu nem jamais subiu ao coração do homem.

 

 

 

Capítulo 4

 

RESULTADOS DO PENTECOSTE

 

Já evidenciamos que o Pentecoste é resultado de uma promessa do Pai e de uma espera obediente, perseverante e cheia de expectativa de uma vida poderosa. O Pentecoste veio como resultado de uma vida de oração, capacitando a igreja com poder para viver, morrer e pregar o Evangelho.

Agora, olhe para o Pentecoste sobre o prisma dos seus resulta­dos:

 

1. 0 Pentecoste foi um fenômeno celestial

O Pentecoste não foi algo produzido, ensaiado, fabricado, teatralizado. Algo do céu verdadeiramente aconteceu. O Pentecoste foi incontestável, ninguém pôde negar sua existência. Foi irresistível, ninguém pôde impedi-lo. Foi soberano, ninguém pôde produzi-lo. Foi eficaz, ninguém pôde desfazer os seus resultados. Foi singular, o Es­pírito Santo veio para permanecer eternamente com a igreja, como o outro Consolador.

O fenômeno do derramamento do Espírito incluiu: 1. Som -Não foi barulho, algazarra, falta de ordem, histeria, mas um som do céu. O Pentecoste foi audível, verificável, público, transpirando para fora do cenáculo, reverberando sua influência na sociedade. Este in­sólito acontecimento atraiu a grande multidão que estava em Jerusa­lém para ouvir a Palavra de Deus (At 2.5,6). 2. Vento - O vento é símbolo do Espírito Santo. O hebraico tem uma única palavra para vento e sopro. O homem passou a ser alma vivente quando Deus so­prou em suas narinas. Foi o hálito de Deus que lhe deu vida. Deus renova a face da terra, enviando o seu Espírito (SI 104.30). O Espírito soprou no vale de ossos secos e do vale brotou a vida. Jesus disse que "o vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai..." (Jo 3.8). O vento é livre, ninguém consegue domesticá-lo; ele sopra onde quer. Muitas vezes, ele sopra onde ja­mais sopraríamos e deixa de soprar onde estamos soprando com toda a força. O vento é soberano, ninguém pode resistir a ele. O vento é misterioso; ninguém sabe de onde vem nem para onde vai. O vento tem uma voz, importa-nos ouvi-la e obedecer. 3. Fogo - O Espírito veio em línguas como de fogo. O fogo também é símbolo do Espírito. O fogo ilumina, pois quem é nascido do Espírito não anda em trevas. O fogo purifica, queimando todo o entulho que entope as fontes da nossa vida. O fogo aquece, tirando-nos da frieza espiritual e infla­mando nosso coração. O fogo alastra, pois quando estamos cheios do Espírito é impossível isso ficar escondido. Quando estamos cheios do Espírito, as pessoas que estão à nossa volta notam isso e sofrem o impacto desse fato. 4. O fenômeno das línguas - As pessoas que ficaram cheias do Espírito começaram a falar em outras línguas. Não havia necessidade de interpretação (At 2.8,11), o que representa a universalidade do Evangelho.

 

2. 0 Pentecoste foi um fenômeno que trouxe plenitude do Espírito Santo para todos

Todos estavam reunidos no mesmo lugar quando o Espírito Santo foi derramado sobre eles e todos ficaram cheios do Espírito (At 2.4). A partir dali, passaram a ter uma qualidade de vida superlativa e foram dirigidos pelo Espírito: 1) O Espírito encheu a Pedro, que pre­gou com desassombro diante do sinédrio (At 4.8). 2) O Espírito mo­veu Filipe, que deixou o avivamento em Samaria e foi para o deserto pregar ao eunuco (At 8.29). 3) O Espírito preparou Pedro para a che­gada dos emissários de Cornélio (At 10.19). 4) O Espírito ordenou a Pedro que fosse sem titubear com esses emissários para abrir a porta do Evangelho aos gentios (At 11.12). 5) O Espírito ordenou que a igreja de Antioquia separasse Barnabé e Saulo para a obra missionária (At 13.1,2). 6) O Espírito orientou as decisões do concilio de Jerusa­lém (At 15.28). 7) O Espírito guiou Paulo para fazer missões na Eu­ropa (At 16.6).

Pelo fato de experimentarem continuadas efusões do Espírito, os apóstolos enfrentaram com galhardia e poder toda a oposição das autoridades judaicas. Suportaram com heroísmo os açoites. Não se intimidaram diante das ameaças. Não temeram as prisões nem recua­ram diante das pressões. Enfrentaram com desassombro a própria morte. Em todas essas circunstâncias adversas, saíram transbordando de alegria e do Espírito Santo (At 13.52).

 

3. 0 Pentecoste provocou reações diversas

Quando o Espírito de Deus é derramado sobre a igreja, produz efei­tos gloriosos, e as pessoas que olham para o fato têm diferentes reações.

 

Ajuntamento sem marketing

Atos 2.5,6 narra o fato insólito da multidão presente em Jerusa­lém sendo atraída de forma irresistível para o local onde os discípulos estavam reunidos. Essa é uma marca incontestável do genuíno aviva-mento: as pessoas são movidas pelo próprio Espírito de Deus a bus­car refúgio no meio dos cristãos. As pessoas são arrastadas com cor­das de amor e atraídas por uma força irresistível. Todas as barreiras são quebradas. Todo o preconceito cai por terra. Toda a resistência se desfaz, e as multidões sedentas, carentes, em angústia de alma, bus­cam a igreja. Não é necessário propaganda, nenhum artifício humano ou promessas mirabolantes para atrair as massas. Os pecadores cor­rem para a igreja e com pressa acertam a vida com Deus.

A história dos avivamentos prova sobejamente essa tese. Foi assim no grande despertamento espiritual da Inglaterra no século XVIII. Quando George Whitefield se levantava para pregar nas pra­ças, as multidões se acotovelavam, ávidas para ouvir sua mensagem. Quando John Wesley ia às minas de carvão, aqueles homens, outrora rudes, choravam quebrantados pela sua pregação. No País de Gales, no século XVIII, Deus salvou um jovem, Howell Harris, usando não um sermão, mas o aviso dominical sobre a Santa Ceia. Ao ser convertido, Howell Harris não sabia pregar. Meses depois de sua conversão, recebeu poderosa visitação do Espírito e a partir de então passou a ter grande paixão pelas almas. Mesmo não sabendo pregar, começou a ler livros evangélicos para as pessoas. A unção de Deus caiu sobre ele de tal forma, que as pessoas sofriam grande impacto com suas leitu­ras. Mais tarde, esse homem recebeu de Deus a capacitação para pre­gar e veio a ser um dos maiores avivalistas daquele século em seu país. Tornou-se eloqüente e ungido pregador. As multidões ouviam com profundo interesse sua pregação, e centenas de pessoas foram salvas através de seu ministério.

No século passado, no grande avivamento que varreu todos os Estados Unidos, Deus usou de forma tremenda o advogado Charles Grandisson Finney. Onde ele chegava para pregar, Deus operava ma­ravilhosamente. Os corações se derretiam, e os joelhos se dobravam diante do Salvador Jesus pela sua pregação. Quanto a Dwight Moody, desde que foi revestido com o poder do Espírito em Wall Street, New York, sempre que se levantava para pregar, as pessoas se ajuntavam ávidas para ouvi-lo. A Bíblia diz de João Batista que, cheio do Espí­rito, era uma voz e não um eco, e por isso as multidões deixavam Jerusalém com todo o seu aparato religioso, o sumo sacerdote e os mestres da lei e rumavam para o deserto para ouvi-lo. O que mais importa não é se estamos num púlpito erudito, numa catedral ou num templo de chão batido ou mesmo no deserto. O que importa é se o nosso ministério está irrigado pelo óleo do Espírito. O que importa é se há unção em nossa vida. Não adianta erudição sem poder. Não adianta conhecimento sem unção. Não adianta ter cursos e mais cur­sos se o orvalho de Deus não cai sobre nós. Nossos diplomas não podem atrair as multidões para ouvir a Palavra. Nossos títulos não nos credenciam a ter um ministério frutífero.

No ano de 1904, Deus derramou um dos avivamentos mais ex­traordinários sobre a terra, na pequena cidade de Lagour, País de Ga­les. Tudo começou quando o jovem Evan Roberts iniciou uma reu­nião de oração em sua igreja. O vento impetuoso do Espírito soprou com tal poder sobre aquela igreja que, dentro de uma semana, toda a cidade tinha sido tocada pelo poder de Deus. As chamas desse aviva­mento varreram todo o país e alastraram-se para outras paragens.

Dentro de seis meses, cerca de 100 mil pessoas estavam salvas por Cristo. As multidões corriam apressadas para as reuniões de oração, louvor e testemunho. Deus fez uma faxina na sociedade. Os antros de pecado foram desfeitos. Os prostíbulos fecharam. Os cassinos cerra­ram as portas. Os teatros tiveram de cancelar seus programas. Os estádio de futebol ficaram vazios, porque o povo tinha pressa de ir para a igreja acertar sua vida com Deus.

Ao visitar a Missão Kwa Sizabantu, na África do Sul, e ler os livros que narram o grande avivamento ocorrido ali em 1966, pude constatar que, logo que Deus derramou o Espírito sobre o povo zulu, que orava em lágrimas pedindo as torrentes do céu, os feiticeiros da região começaram a vir para a missão, com profundos soluços na alma, em agonia por causa do peso de seus pecados. Caravanas vi­nham de todos os lados a pé, de carro e na carroceria de caminhões, porque eram atraídas irresistivelmente pelo Espírito de Deus.

O poder do Espírito sobre a igreja tem maior impacto sobre as massas do que os out-doors, do que a mídia, do que a mais bem ela­borada e agressiva propaganda. Muitas vezes, as pessoas cruzam dia­riamente as ruas em frente dos nossos templos e nem percebem que ali adoramos ao Deus vivo. Elas não são tocadas nem atraídas. Onde o vento de Deus sopra, onde o fogo de Deus desce, as pessoas caem de joelhos e reconhecem que só o Senhor é Deus.

 

Discriminação

"...Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí es­tão falando?" (At 2.7). Esta observação está vazada por uma atitude soberba de profunda discriminação. A Galiléia era considerada pe­los judeus ortodoxos uma terra paga. Era chamada a Galiléia dos gentios, terra de trevas, terra de gente ímpia, atrasada, pobre, doen­te e marginalizada. Foi por isso que Natanael disse a Filipe acerca de Jesus: "Porventura, de Nazaré (que fica na Galiléia) pode sair alguma coisa boa?". Deus chama as coisas fracas deste mundo para envergonhar as fortes. Ele enche do seu Espírito galileus, para com eles revolucionar o mundo.

Todavia, apesar do preconceito quanto à origem, ao berço, à formação e ao status daqueles que estavam falando das grandezas de

Deus, não foi possível negar a realidade insofismável de que algo extraordinário estava acontecendo. No Pentecoste acontece o contrá­rio do que se deu na Torre de Babel. Lá as pessoas falaram e houve confusão das línguas. No Pentecoste, os crentes falaram e houve en­tendimento, cada um na sua língua materna (At 2.8,11). Onde reina o Espírito de Deus, aí há entendimento e não confusão.

 

Ceticismo

"Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?" (At 2.12). Havia no Pentecoste dois grupos: os que perguntavam (vv. 7,12) e os que afirmavam (v. 13). Havia um grupo cético, cheio de dúvidas, interrogações. Eles sabiam que algo extra­ordinário estava acontecendo, mas não compreendiam do se tratava. Estavam atônitos, perplexos. Formavam um grupo que não podia crer no que via. Há muitos céticos hoje também. Gente que sabe que Deus tem poder, que nunca mudou, que opera maravilhas hoje como sem­pre operou no passado, mas gente que prefere ficar espantada e per­plexa a crer com simplicidade. Gente que faz todas as perguntas, mas não abre o coração para as respostas de Deus. Gente que questiona tudo, mas não tem disposição de obedecer.

 

Zombaria

"Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!" (At 2.13). Estes são apressados em tirar uma conclusão, ainda que teme­rária. São aqueles que sempre têm uma explicação, ainda que falsa. São aqueles que se constituem em juizes e se empoleiram no trono do julgamento, só para assacar acusações desabonadoras contra os seus irmãos. Esse grupo subiu a colina do monte Sião, aproximou-se do cenáculo, ouviu os 120 que falavam das grandezas de Deus e tiraram logo sua conclusão: estão bêbados, embriagados.

Para os zombadores, os discípulos eram gente atrasada, desmiolada, emocionalmente prejudicada, gente sem siso, sem massa cin­zenta. Diziam que aquelas pessoas que foram cheias do Espírito esta­vam vivendo uma catarse, um histerismo coletivo, uma paranóia reli­giosa. Pedro diz (At 2.15) que aquela era a terceira hora do dia (nove horas da manhã), mas, para quem quer caluniar, a incoerência não representa problema. A lógica do maledicente é sempre a generalida­de do mal.

 

4. 0 Pentecoste abriu caminho para uma pregação confrontadora e poderosa

Uma das marcas do genuíno avivamento é a pregação fiel das Escrituras. Pedro, ao ser cheio do Espírito, levantou-se para pregar. Ele não trovejou palavras de sabedoria humana. Não discursou ensi­nando à multidão apenas princípios religiosos. Sua mensagem foi po­derosa não por causa da sua eloqüência, mas por causa do seu conteú­do, ungido pelo óleo do Espírito.

 

Uma pregação cristocêntrica na sua essência (Atos 2.22-36)

O sermão de Pedro no Pentecoste teve quatro argumentos: 1) A morte de Cristo - A cruz não foi um acidente, mas parte do plano eterno de Deus (At 2.23; 3.18; 4.28 e 13.29). A cruz não foi uma derrota para Jesus, mas sua exaltação. Ele marchou para a cruz como um rei para a sua coração. Foi na cruz que Ele conquistou para nós eterna redenção e triunfou sobre o diabo e suas hostes, expondo-os ao desprezo. Foi na cruz que Deus provou da forma mais eloqüente seu amor por nós e seu repúdio ao pecado. Na cruz, a paz e a justiça se beijaram. Cristo não morreu na cruz como mártir. Ele espontanea­mente se entregou por nós. A cruz não foi um expediente de última hora, mas um plano eterno que nos revela a santidade de Deus e o seu amor incomensurável. 2) A ressurreição de Cristo (At 2.24,32) -Não adoramos um Cristo morto, vencido, preso à cruz, impotente, mas o Jesus vitorioso, que triunfou sobre a morte, derrotou o pecado, desfez as obras do diabo, cumpriu a lei, satisfez a justiça de Deus e nos deu eterna redenção. 3) A exaltação de Cristo (At 2.33) - Ao consumar sua obra aqui no mundo, Jesus ressuscitou em glória e comissionou seus discípulos a pregar o Evangelho em todo o mundo, a cada criatura. Depois, voltou para o céu, entrou na glória, foi rece­bido apoteoticamente pelos anjos e assentou-se à destra do Pai, para governar a igreja, interceder por ela e revesti-la com o poder do seu Espírito. 4) O senhorio de Cristo (At 2.36) - Jesus é dono, senhor e rei sobre tudo e sobre todos. Ele exerce autoridade suprema sobre nossa vida. O conteúdo da mensagem de Pedro foi Jesus, e Jesus so­mente. Quando o Espírito vem sobre nós com poder, não temos outro tema a pregar. O ministério do Espírito Santo é exaltar a Jesus (Jo 16.13,14). Uma vida cheia do Espírito Santo é uma vida cristocêntrica. O ministério do Espírito é o ministério do holofote. Ele não lança luz sobre si mesmo. Ele não fala de si mesmo. Ele não exalta a si mesmo. Ele projeta luz na direção de Alguém. O Espírito Santo aponta para Jesus e o exalta.

 

 

Uma pregação eficaz quanto ao propósito

"Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?" (At 2.37). A pregação de Pedro explodiu como dinamite de Deus no coração da multidão. Produziu uma compulsão de alma. Foi um ser­mão atingidor, como diziam os puritanos da Inglaterra no século XVII. Pedro não ficou contornando o assunto, não procurou agradar ao au­ditório, não pregou uma mensagem açucarada apenas para estimulá-los. Ele pôs o dedo na ferida, tocou o ponto de tensão. Foi direto no nervo exposto da situação, dizendo-lhes que, embora a cruz tivesse sido planejada desde a eternidade, eles eram responsáveis pela morte de Cristo. "... vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos" (At 2.23; 3.13; 4.10 e 5.30). Essa pregação direta, corajosa e confrontadora gerou neles profunda convicção de pecado. Vemos hoje pouca convicção de pecado na igreja de Deus. Não mais sabemos o que é agonia de arrependimento. Não mais choramos por causa do pecado. Nossa alma não mais se aflige ao ver as pessoas correndo para o fogo do inferno. Estamos insensíveis demais, com os olhos enxutos demais, com o coração duro demais. Precisamos de quebrantamento. Precisamos de pregação cristocêntrica.

 

Uma pregação clara em suas exigências

"Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo..." (At 2.38). Pedro não tinha o propósito de entreter o auditório nem de confortá-lo. Antes de falar de cura, ele revelou à multidão a sua doença. Antes de falar de salvação, mostrou que eles estavam perdidos. Antes de pregar o Evange­lho, anunciou a lei. Não há salvação sem arrependimento. Ninguém entra no céu sem antes saber que é pecador. Pedro mostrou que a maior urgência para o pecador é a mudança de mente, a mudança de coração e a mudança de vida. Ele falava a um grupo extremamente religioso. Jerusalém era a capital mundial da religião. Toda aquela gente tinha ido a Jerusalém para uma festa religiosa. Pedro mostra, assim, que não basta ser religioso. Mas mostra também que não é suficiente mudar de religião, é preciso mudar de vida. O brado de Deus que ecoa do céu para todos é: Arrependei-vos!

Temos visto hoje uma mudança preocupante na pregação. Tem-se pregado muito sobre libertação e quase nada sobre arrependimen­to. Os pregadores berram dos púlpitos dizendo que as pessoas sofrem porque estão com encosto, com mau olhado, com espíritos malignos. Dizem que o que elas precisam é ser libertadas. Mas isto é apenas metade da pregação. Ainda que a pessoa esteja mesmo possessa e seja libertada, o seu problema não está resolvido. Todos pecaram. Todos carecem da glória de Deus. Todos precisam arrepender-se. O homem é culpado, não é apenas uma vítima. Ele precisa colocar a boca no pó. Precisa depor as suas armas. Precisa dobrar-se diante de Deus. Sem arrependimento, o mais virtuoso dos homens não pode ser salvo. Pecado não é só uma questão do que fazemos, mas de quem somos. Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. Nossa natureza é pecaminosa. A seiva que corre em nossas veias está contaminada pelo veneno do pecado. Nosso co­ração não é bom como pensava Jean-Jacques Rousseau, mas engano­so e desesperadamente corrupto. Não somos neutros como ensinava John Locke; somos seres caídos e tendentes ao mal. Precisamos do vento impetuoso do Espírito e do fogo do céu para pregarmos com poder a urgente mensagem do arrependimento.

 

Uma pregação específica quanto à promessa

Atos 2.38 fala de duas promessas para quem se arrepende: uma está ligada ao passado e outra ao futuro: "... para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo". Depois do arrependi­mento há "remissão de pecados", perdão e salvação. Pedro está mostrando que, sem perdão, sem purificação, não existe plenitude do Es­pírito para nós. Mas, depois que somos perdoados, estamos prepara­dos para receber "o dom do Espírito Santo". Depois do acerto de vida com Deus, há derramamento do Espírito. Primeiro, preparamos o ca­minho do Senhor, aterramos os vales, nivelamos os montes, endirei­tamos os caminhos tortos e aplainamos os escabrosos; então Deus se manifesta em todo o seu fulgor, trazendo salvação. Primeiro, o povo se volta para Deus de todo o coração, com choro, jejuns, rasgando o coração; depois o Espírito é derramado (Jl 2.12,13,28). Primeiro, res­tauramos o altar do Senhor que está em ruínas, colocamos sobre o altar a nossa oferta, depois o fogo de Deus desce (I Rs 18.30-39).

 

Uma pregação vitoriosa quanto aos resultados.

"Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, haven­do um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas" (At 2.41). Quando a pregação é regada pelo orvalho do Espírito, ela produz fru­tos abundantes. Onde o Espírito é derramado, há conversões abun­dantes. As pessoas mortas em delitos e pecados renascem para a vida como os salgueiros junto às correntes das águas (Is 44.4). Uma das coisas que marcaram profundamente minha vida foi contemplar o vigor e a exuberância da Igreja Presbiteriana da Coréia do Sul. Aque­la igreja é 28 anos mais nova que a Igreja Presbiteriana do Brasil, da qual faço parte. Hoje a Igreja Presbiteriana da Coréia do Sul tem 10 milhões de membros, e nós ainda não chegamos a 500 mil. Eles re­presentam 23% da população coreana, e nós apenas 0,3% da popula­ção brasileira. Eles representam 75% dos evangélicos do país, e nós, uma pequena fatia. Não conseguimos explicar a razão desse podero­so crescimento senão pela ação poderosa e soberana do Espírito San­to derramado sobre aquela igreja.

A pregação de Pedro não apenas produziu conversões abun­dantes, mas também frutos permanentes. Aqueles crentes que foram batizados fizeram uma aliança com a igreja. Eles não eram crentes flutuantes, beija-flores, sem raízes e sem compromisso. Eles se engajaram, permaneceram na comunhão com uma qualidade super-lativa de vida (At 2.42-46). Hoje, estamos vivendo a era da desinstitucionalização. As pessoas não suportam estruturas. Não querem compromisso. Não fazem alianças duradouras. Não plantam raízes. Hoje é difícil manter em dia o rol de membros da igreja. As pessoas entram pela porta da frente e, ao sinal da menor crise, bus­cam uma fuga pela porta dos fundos. Bebericam em várias fontes, buscam alimentos em diversos pastos, colocam-se debaixo do cajado de diversos pastores. Tornam-se ovelhas errantes, sem redil, sem re­ferência, sem denominação, sem raízes. E, por não se firmarem, são jogadas de um lado para o outro, ao sabor dos ventos de doutrina. São crentes que vivem buscando experiências, andam atrás da últi­ma novidade religiosa e acabam decepcionados. A marca do Pentecoste foi bem outra. Aqueles novos crentes permaneceram na doutrina dos apóstolos. Eles se uniram à igreja para valer. Alguns hoje dizem que igreja não é importante. Isso não é verdade. A igreja importa, e muito. Ela é a noiva do Cordeiro. É a escrava resgatada. Não há membro fora do corpo. Uma brasa fora do braseiro se apaga. Estar fora da igreja é ser considerado gentio e publicano. O verda­deiro avivamento não diminui o valor da igreja, mas leva os novos convertidos a comprometer-se com ela.

 

5. 0 Pentecoste produziu mudanças profundas na sociedade

O genuíno avivamento reverbera sua influência para além das fronteiras da igreja. O avivamento bíblico vasa e transpira para fora dos portões da igreja e produz impacto e mudanças profundas na socieda­de. Stanley Jones, renomado missionário e ilustrado escritor, alista em seu livro O Cristo de Todos os Caminhos várias mudanças que o Pentecoste produziu na igreja e na sociedade. De forma sucinta quero comentar algumas dessas mudanças:

 

 

No Pentecoste, a religião desprendeu-se dos lugares especialmente destinados ao culto e centralizou-se num lugar universal de vida, o lar (Atos 2.42-46)

Depois do Pentecoste a religião deixou de estar vinculada a lugares sagrados para penetrar na tessitura da vida. O lar, o lugar mais comum, mais universal, deve ser o lugar mais sagrado, uma verdadeira Betel, casa de Deus. O nosso lar deve ser um templo do

Deus vivo, onde se reúne uma igreja santa, amorosa e cheia de po­der.

Muitas vezes colocamos a religião num dia sagrado: o domin­go; ou, num lugar sagrado: a igreja; e lá a deixamos embalsamada. O Pentecoste colocou a religião nos lares. A vida toda deve subir ao nível do sagrado. A religião dos templos não nos salvará se os lares estiverem longe de Deus. Tudo na nossa vida deve ser vazado pelo sagrado.

A igreja primitiva se reunia nos lares. A igreja cresceu e domi­nou todos os rincões do império romano, reunindo-se de casa em casa. A vida familiar era litúrgica. Não havia dicotomia entre o templo e a casa, entre a igreja e a família. No lar a igreja gozava de maior comu­nhão. No lar a igreja estava mais próxima das pessoas para evangelizá-las e assisti-las. O lar era o quartel-general da igreja, a cabeça-de-ponte para ela alcançar o mundo para Jesus.

Quando a igreja se reúne nos lares, as famílias tornam-se não só o maior alvo da evangelização, mas também o seu mais eficaz instrumento.

É triste constatar hoje o grande abismo entre o que as pessoas são na igreja e o que são dentro de casa. Certa feita, dando um semi­nário para casais, li um bilhete anônimo de uma esposa: "Meu marido ora na igreja uma hora por dia, mas quando chega em casa é um cava­lo". Há pessoas que são como Naamã; têm fama e prestígio lá fora, mas, quando chegam em casa e tiram a indumentária, revelam sua lepra. Há pessoas que são uma bênção na igreja e uma maldição em casa. Levantam as mãos no louvor da igreja, e em casa descem a mão na esposa e nos filhos. O Pentecoste veio para construir uma ponte entre o templo e a casa, entre a igreja e a família, fazendo do lar o centro da religião cristã.

 

O Espírito Santo libertou a religião da idéia de uma classe sagrada (Atos 1.14 e 2.4)

O Espírito Santo veio não somente para os 12 apóstolos, mas para os 120 discípulos que estavam reunidos. Não existe uma estratificação de poder no Reino de Deus. Não existe aristocracia es­piritual na igreja. Não existe uma casta sagrada, superior, beatificada, empoleirada no topo dos privilégios especiais. Não há hierarquia espi­ritual na igreja. Não existem clérigos e leigos. O poder do Espírito não é possessão de uma casta sagrada. Todos os cristãos foram constituídos sacerdócio real. Pedro e Maria não são melhores que os outros mem­bros. Eles não receberam mais do Espírito que os outros. Não há lugar para estrelismo no Reino de Deus. Não há espaço para pretensões orgu­lhosas. Todos na igreja são nivelados num mesmo patamar: todos são servos de Cristo. O que quiser ser o maior deve ser servo de todos. Os apóstolos, longe de buscar os aplausos do mundo, consideravam-se o lixo do mundo, a escória de todos (I Co 4.12-16). O próprio Jesus não veio para ser servido, mas para servir. Ele, sendo Deus, fez-se homem; sendo rico, fez-se pobre; sendo santo, fez-se pecado; sendo bendito, fez-se maldição; sendo transcendente, esvaziou-se; sendo Pai da eter­nidade, entrou na história; sendo Todo-poderoso, deitou numa manje-doura; sendo o autor da vida, morreu numa cruz para nos salvar.

 

No Pentecoste as mulheres recebem o Espírito Santo nas mesmas condições que os homens (Atos 1.14; 2.1,4,17)

No Pentecoste, o Santo dos Santos foi francamente aberto às mulheres, e a religião libertou-se da idéia da superioridade de sexo. A promessa do Pai, de derramamento do Espírito, veio sobre filhos e filhas, sobre servos e servas (Jl 2.28-30). Acabaram-se os preconcei­tos. Os grilhões da tirania foram quebrados pelo poder do Espírito, pois onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

Quando o Espírito foi derramado, havia entre o grupo várias mulheres. Elas também ficaram cheias do Espírito. Elas também re­ceberam o dom do Espírito. Elas não foram discriminadas nem ex­cluídas. Foram também revestidas de poder. O Pentecoste ressalta a dignidade que Deus sempre deu à mulher. Ao longo dos séculos, a mulher foi espoliada de seus direitos, aviltada em sua honra e rouba­da de sua dignidade como pessoa. Um sistema opressor foi achatando a mulher. Ela perdeu sua identidade, seu valor, sua voz. Passou a ser apenas uma propriedade do pai, quando solteira, e do marido, quando casada. Não tinha direito à herança da família. Não tinha direito à plena cidadania. Até mesmo seus sentimentos eram aviltados. Assim, a mulher foi vítima de preconceitos esmagadores em todas as civili­zações ao longo da história.

Mas esse nunca foi o propósito de Deus, que sempre honrou a mulher. Ela foi feita de uma obra-prima melhorada. Deus não colo­cou a mão no barro para formá-la, mas a fez da costela de Adão. Deus não a fez nem superior nem inferior ao homem, por isso não a tomou da cabeça nem dos pés de Adão, mas da costela, para que lhe fosse uma companheira co-igual, amada, amparada, o centro dos seus afe­tos. Quando formou o homem à sua imagem e semelhança, Deus os fez homem e mulher. A mulher foi dada ao homem como carne da sua carne e osso dos seus ossos, portanto em nada inferior. A mulher foi dada ao homem como companheira idônea, isto é, como aquela que olha nos olhos, que está no mesmo nível. A diferença de papéis e funções no casamento não torna o homem superior nem a mulher inferior. O homem não possui mais direitos do que a mulher. A fide­lidade conjugai que a mulher deve ao marido no casamento, o marido deve também à mulher. Não existe um código de conduta para a mu­lher e outro para o homem. Os princípios de Deus não são mais sua­ves para o homem e mais rígidos para a mulher. Em Cristo, homem e mulher são um, têm os mesmos direitos e as mesmas responsabilida­des. O Pentecoste veio para pontuar essa verdade de forma gloriosa. Na igreja de Deus a mulher tem espaço, tem vez e tem voz. Mesmo no Velho Testamento, vemos Deus usando em posição de destaque na liderança mulheres como Débora e Ester. As mulheres acompanha­ram e apoiaram o ministério de Jesus. Participaram do ministério dos apóstolos. Na igreja primitiva havia profetisas. As mulheres sempre foram um braço forte e um esteio na igreja de Deus. As mulheres sempre foram sustentáculos na família. Sempre fizeram as coisas acon­tecer, estribadas na graça de Deus. O Pentecoste veio mais uma vez dizer em alto e bom som que as mulheres podem e devem ser cheias do Espírito para exercer um glorioso trabalho no Reino de Deus.

 

No Pentecoste a religião desprendeu-se da dependência de famílias privilegiadas (Atos 1.14)

O fato de Maria ser a mãe de Jesus não a destacou do grupo. Não há aristocracia espiritual, hierarquia, beatificação ou canonização no Reino de Deus. Todos somos iguais aos olhos do Criador. Todos somos sacer­dotes reais. Todos temos livre acesso à sua presença, pois o véu foi rasga­do e agora podemos entrar com ousadia, por meio de Jesus, no Santo dos Santos.

Não honra Maria aqueles que a colocam num pedestal que nem ela nem as Escrituras revelam. Maria foi uma serva do Senhor que se dispôs a fazer e fez a vontade Deus. Ela foi a mãe do nosso Salvador. Mas ela não foi imaculada, ou seja, sem pecado, pois todos os que nasceram da semente de Adão pecaram e carecem da glória de Deus. Ela não é mãe de Deus, pois Jesus, como Deus, nunca teve começo. Como Deus, ele não foi criado, mas é o Criador. Como Deus, ele não nasceu no tempo, mas é o Pai da eternidade. Maria foi mãe da nature­za humana de Cristo, pois Jesus Cristo tinha dupla natureza, uma divina, outra humana. Maria não é mediadora, pois Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (I Tm 2.5). Maria não é coredendora, pois só há salvação no nome de Jesus (At 4.12). O Pentecoste veio para nos mostrar a verdade de que Maria, embora bem-aventurada e digna de ser imitada pela sua fé, humildade e con­duta irrepreensível, não é superior a nenhum dos discípulos de Cristo, pois recebeu do mesmo Espírito, na mesma proporção que os outros no dia do Pentecoste.

 

0 Pentecoste libertou a religião da idéia de uma idade sagrada (Atos 2.17)

"Vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos" (At 2.17). Na maioria das religiões, especialmente nas religiões orientais, os anciãos têm sido sempre uma classe sagrada. Mas, no Pentecoste, todas as idades se colocam no mesmo nível. Não há conflito de gera­ções. Não há conservadorismo nem renovacionismo inconseqüente. O Espírito de Deus não tem preconceito de idade. O idoso pode ser cheio do Espírito e sonhar grandes sonhos para Deus. O jovem pode ter grandes visões da obra de Deus. O velho pode ter vigor, e o jovem pode ter sabedoria, quando estão cheios do Espírito. O velho pode ter doçura e o jovem pode ter discernimento sob a unção do Espírito. Onde o Espírito de Deus opera, velhos e jovens têm a mesma lingua­gem, o mesmo ideal, a mesma paixão e o mesmo propósito.

Por deixar de lado os princípios de Deus, o mundo ocidental está assistindo a um dos maiores desastres da história, como um terremoto avassalador, arrebentando com a família: o conflito de gerações. É a guerra entre pais e filhos. É a falta de diálogo, entendimento e comunicação eficaz. Os pais não têm tempo para os filhos, e os filhos não entendem os pais. Os pais correm atrás de dinheiro, e os filhos ficam órfãos dos pais. Em muitos países, as igrejas estão vazias de jovens. Por causa desse abis­mo de comunicação entre pais e filhos, as igrejas estão com cara de mu­seu. Mas o Pentecoste veio para mostrar que o lugar de o jovem desfrutar a plenitude da vida não é no mundo, mas na casa de Deus, no altar de Deus, pois ele pode ser cheio do Espírito e usado com grande poder na obra de Deus.

 

0 Pentecoste desvencilha a religião das posturas sagradas (Atos 2.2)

No Pentecoste os 120 reunidos aguardando a promessa do Pai estavam na mais universal das posições: assentados. Nem mesmo ajo­elhados estavam. Muitas religiões, como o hinduísmo, pregam posi­ções sagradas como a ioga. Mas o Espírito de Deus veio para dizer que todas as posturas são sagradas. Deus olha o coração. Ele não se impressiona com nossos gestos nem com nossas formas pomposas de culto. Por isso Jesus quebrou alguns protocolos. Ele orava de olhos abertos. Comia sem lavar as mãos. Conversava com gente marginali­zada. Curava no sábado. Ele não se preocupava com a forma, pois o que importa para Deus é a motivação, o coração, a sinceridade. No Pentecoste a religião desprende-se do ritualismo e do cerimonialismo. Deus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Deus quer é a verdade no íntimo.

 

0 Pentecoste veio para mostrar que o poder de que o homem precisa não vem de dentro, mas do Alto (Atos 2.2-4)

O que aconteceu ali no Cenáculo, o vento impetuoso, as lín­guas de fogo, o derramamento do Espírito, não foram experiências subjetivas. Aquelas coisas extraordinárias não partiram de dentro das pessoas que estavam reunidas, mas vieram do Alto. As religiões ori­entais, a Nova Era, a Confissão Positiva dizem que o homem tem poder, e a sua necessidade é acordar esse poder latente dentro dele. O humanismo prega que o homem é o seu próprio deus. O budismo, em franco crescimento no Brasil (Revista Isto é, março/97), prega que o poder de que o homem precisa vem de dentro. Mas o Pentecoste mos­tra que o poder de que necessitamos vem do Alto, do céu, do trono de Deus.

 

0 Pentecoste veio para nos libertar dos traumas de fracassos passados (Atos 1.4,5)

Jerusalém seria o último lugar onde os apóstolos gostariam de ficar. Ali eles caíram. Ali eles fracassaram. Mas é a partir dali que Jesus quer restaurá-los. Onde você caiu é que Jesus quer colocar você de pé pelo poder do Espírito Santo. O Pentecoste nos dá forças não para fugir dos problemas, mas para enfrentá-los e vencê-los na força do Espírito. Sem Pentecoste a nossa tendência é fugir, e não ficar. O Pentecoste diz que você precisa de poder para mudar, e não de covar­dia para fugir.

É mais fácil fugir que enfrentar. É mais cômodo ensarilhar as armas e desistir de lutar. É mais seguro ficar trancado dentro de qua­tro paredes ainda que com medo, do que sair para as trincheiras da luta. Sem poder, nós nos acovardamos. Sem a unção de Deus, somos um bando de covardes. Sem revestimento de poder, a igreja recua qual o exército de Saul diante do Golias. Sem capacitação do céu, estremecemos diante do inferno e não causamos nenhuma preocupa­ção ao diabo. Sem Pentecoste, a última palavra da nossa vida é o fracasso, é a queda, é a vergonha da derrota. Mas, quando o Espírito é derramado sobre nós, tornamo-nos valentes como Davi diante de Golias. Quando Deus sopra sobre nós o hálito do seu Espírito, reagi­mos com otimismo diante das circunstâncias adversas, como o pró­prio Davi em Ziclague (I Sm 30.6), e saímos à luta, agarrados nas promessas de Deus para triunfar sobre os nossos inimigos e recon­quistar tudo aquilo que Deus nos deu. Quando o óleo de Deus escorre sobre a nossa cabeça, nem açoites, nem cadeias, nem prisões, nem a própria morte pode deter-nos. A igreja hoje precisa urgentemente dessa visitação do Espírito Santo, desse derramar das torrentes do céu, des­se revestimento de poder, desse Pentecoste cujo fogo jamais apaga, para sair do seu marasmo, para levantar-se do seu desânimo, para curar-se da sua esterilidade e para ir até os confins da terra, fazendo discípulos de todas as nações.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

Em João 7.39, depois que Jesus fala que rios de água viva flui­rão do interior de todo aquele que nele crê, segundo a Escritura, ele deixa claro que o Espírito ainda não tinha sido dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado, ou seja, ainda não estava no trono de sua glória. Uma única coisa nos impede de receber a plenitude do Espírito Santo: é Jesus não estar no trono da nossa vida. Quando Je­sus sobe ao trono da nossa vida, o Espírito desce sobre nós abundan­temente, poderosamente. Mas, muitas vezes, outras coisas estão ocu­pando esse lugar. Pedimos a plenitude e o enchimento do Espírito, mas estamos entupidos de pecado. Muitas vezes, somos como os po­ços que Isaque cavou na terra dos filisteus. Ali havia água boa, límpida, mas os filisteus entulharam seus poços de terra, e a água parou de jorrar. Se queremos ver jorrar de dentro de nós uma fonte que saltará para a vida eterna, se queremos experimentar os rios de água viva fluindo do nosso interior, precisamos remover de dentro de nós todo o entulho do pecado e todo o lixo da impureza. Antes de Elias subir ao cume do monte Carmelo, ele mandou retirar do caminho de Israel os profetas de Baal e os profetas do poste-ídolo. Antes de descer a chuva, Baal precisa ser retirado. Antes de cair o fogo, o altar precisa ser restaurado. Antes de Jacó subir para Betei, Deus lhe ordenou que jogasse fora os ídolos, lavasse as mãos e purificasse as vestes. A água só cai sobre o sedento. As torrentes só descem sobre a terra seca. O Espírito só é derramado sobre aqueles que ousam acertar sua vida com Deus.

Vejo no profeta Elias um modelo inspirador para nos guiar a essa busca incessante, incansável, vigilante e importuna do poder do céu. Ele viveu num tempo de crise e apostasia. Mas a marca distintiva de sua vida foi viver na presença de Deus, experimentar o cuidado de Deus e ser usado pelo poder do Alto. No cume do monte Carmelo ele desafiou os profetas de Baal, zombou deles e de seu deus impotente. Chamou para si a multidão apóstata, restaurou o altar e invocou a Deus. O fogo de Deus caiu do céu, e o povo caiu de joelhos diante do Senhor. Mas Elias não se contentou em apenas mostrar ao povo o poder de Deus. Elias quis buscar tempos de restauração para o povo. Reinava fome na terra. A seca de três anos e meio havia devastado tudo em Israel e deixado um rastro de morte. Elias, então, mesmo sendo homem semelhante a nós, bombardeou o céu para que as tor­rentes de Deus descessem e inundassem a terra de vida. Nessa escala­da, ele deu seis passos decisivos antes que a bênção chegasse. Primei­ro, ele ouviu o ruído de abundantes chuvas - O céu estava claro, não havia nenhum vestígio de chuva, mas pela fé ele anteviu a proximida­de da chuva. Ele não andava guiado pelas circunstâncias. Vivia pela fé. Ele creu incondicionalmente na promessa de Deus de enviar chu­va sobre a terra. Segundo, ele subiu ao cume do monte Carmelo -Subir exige esforço. Para subir, não se pode carregar peso inútil. Elias estava determinado a subir à presença de Deus. Caminhava na dire­ção da bênção. Terceiro, ele se encurvou e meteu o seu rosto entre os joelhos - Elias não subiu para olhar os outros de cima para baixo, para ficar de salto alto perto dos outros. Não subiu para jogar pedra nos outros lá de cima. Ele subiu para se encurvar, para se humilhar, para derramar sua alma diante de Deus. O caminho da vitória passa pela porta da humilhação. Quarto, ele orou - Elias não subiu para trombetear suas qualidades e as misérias do povo. Ele subiu para buscar a face de Deus. Deus não busca críticos, mas intercessores, pessoas que se co­loquem na brecha em favor do seu povo. Deus não procura apenas quem aponte os erros do povo, mas quem clame e chore por esse povo. Quinto, Elias perseverou em oração - ele não desistiu de orar, porque seu pedido não foi deferido da primeira até a sexta vez. Ele continuou orando até que, na sétima vez, algo aconteceu. Se quere­mos um avivamento para a nossa vida, nossa igreja e nossa nação, precisamos perseverar na oração. Precisamos ter fé para não desistir no meio do caminho, para não arrear as armas no limiar da bênção. Em sexto e último lugar, Elias viu um pequeno sinal e creu - Para quem vive na presença de Deus e tem o coração alimentado pela fé, um pequeno sinal representa uma grande resposta e desemboca numa bênção abundante. Elias creu, e a chuva chegou. Elias creu, e as tor­rentes desceram. Elias creu, e Israel soube que só Deus pode abrir as comportas do céu.

O, precisamos confrontar o pecado e restaurar o altar da nossa vida para que o fogo purificador de Deus inflame nosso coração! Pre­cisamos subir à presença de Deus com humildade e orar até que tem­pos de restauração da parte do Senhor venham sobre nós!